CHILE

Morre Fernando Karadima, ex-padre chileno acusado de pedofilia

O escândalo de pedofilia é um dos mais emblemáticos do Chile pela influência que Karadima exercia na sociedade

Rodrigo Craveiro
postado em 27/07/2021 06:00
Condenado pelo Vaticano em 2011 e expulso do sacerdócio sete anos depois, na maior sentença aplicada pela Igreja -  (crédito: Vladimir Rodas/AFP)
Condenado pelo Vaticano em 2011 e expulso do sacerdócio sete anos depois, na maior sentença aplicada pela Igreja - (crédito: Vladimir Rodas/AFP)

“Nós estamos em paz. A única coisa que nos motiva é continuar a ajudar para que isso não volte a ocorrer dentro da Igreja Católica. Também queremos ajudar centenas de milhares de pessoas que viveram essa horrível situação dos abusos sexuais e que não encontraram a justiça.” A pedido do Correio, o jornalista Juan Carlos Cruz Chellew fez essa declaração, por telefone, ao comentar a morte de Fernando Karadima, 90, o ex-padre chileno que abusou dele por oito anos. Juan Carlos tinha 15 quando a violência sexual começou e se tornou a primeira vítima a denunciar o pedófilo.

Condenado pelo Vaticano em 2011 e expulso do sacerdócio sete anos depois, na maior sentença aplicada pela Igreja, Karadima faleceu na noite de domingo, em uma casa de saúde em Santiago do Chile. De acordo com o atestado de óbito, ao qual a agência de notícias France-Presse (AFP) teve acesso, as causas da morte foram “broncopneumonia, insuficiência renal, diabetes mellitus e hipertensão”. O escândalo de pedofilia é um dos mais emblemáticos do Chile pela influência que Karadima exercia na sociedade.

Entre 1980 e 2006, o religioso comandou a paróquia de El Bosque, localizada em uma região nobre de Santiago do Chile. Ao aproveitar-se do cargo, cortejou setores da elite política e econômica do Chile por anos. A reportagem perguntou a Juan Carlos sobre o número de prováveis vítimas de Karadima. “Foram muitas”, assegurou. Em 28 de abril de 2018, o papa Francisco hospedou por três dias e recebeu na Casa Santa Marta, no Vaticano, Juan Carlos e outras duas vítimas do ex-padre — o filósofo José Andrés Murillo e o médico James Hamilton. Quase três semanas antes, o pontífice pediu perdão por “graves equívocos” de avaliação sobre os casos de pedofilia e o acobertamento por parte da Igreja Católica.

A reportagem entrou em contato com Murillo, mas ele preferiu não dar entrevistas. “Não é nada muito fácil”, justificou-se. O trio divulgou um comunicado à imprensa. “Tudo o que tínhamos que dizer sobre Karadima foi dito. Ele era um elo a mais nesta cultura de perversão e de encobrimento na Igreja”, escreveram. Em 2019, a Justiça chilena ordenou o processo criminal contra Karadima, mas determinou à Igreja Católica o pagamento de uma indenização de US$ 459 mil (cerca de R$ 2,3 milhões) por “danos morais” às três vítimas. Em nota, a Arquidiocese de Santiago do Chile assegurou que acompanha “de perto as vítimas sobreviventes e suas famílias, pedindo a Deus misericordioso que possa sanar a dor causada em todos aqueles que sofreram”.

Não se sabe ao certo o número de crianças e adolescentes abusados pelo ex-sacerdote. A AFP divulgou que, segundo dados oficiais, até 2019 mais de 200 membros da Igreja Católica chilena foram investigados por mais de 150 agressões sexuais, enquanto 240 vítimas foram identificadas, das quais 123 eram menores.

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