O Movimento Ennahda, principal partido político no Parlamento da Tunísia, propôs a realização de eleições antecipadas depois que o presidente Kais Saied suspendeu a Assembleia dos Representantes do Povo e destituiu o premiê, Hicem Mechichi. A manobra, considerada por muitos opositores e analistas como um autogolpe, levou preocupação à comunidade internacional.
Em dois dias, o presidente tunisiano suspendeu a atividade parlamentar por um mês, destituiu o chefe de governo e dois ministros e deu a si mesmo o Poder Executivo deste do Norte da África, afetado por uma crise econômica e social acentuada pela pandemia da covid-19.
Depois de denunciar “um golpe de Estado contra a revolução e a Constituição”, o Ennahda — partido de Mechichi — mostrou-se disposto “a realizar eleições legislativas e presidenciais antecipadas simultaneamente”. De acordo com a legenda de inspiração islamita, isso serviria para “salvaguardar a proteção do processo democrático e evitar que qualquer atraso funcione como pretexto para a manutenção de um regime autocrático”.
“Decidimos fazer campanha pacificamente para derrotar este projeto (de Saied) e pedimos ao presidente que revogue essa decisão”, disse à agência France-Presse Noureddine B’Hiri, um dos líderes do partido. “O país precisa de solidariedade nacional”, acrescentou. Os movimentos de Saied causaram incômodo na comunidade internacional, especialmente nos Estados Unidos, França e na União Europeia.
“Pedimos o restabelecimento institucional o mais rápido possível e a retomada da atividade parlamentar, o respeito aos direitos fundamentais e a abstenção de qualquer forma de violência”, disse o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell. O Ministério das Relações Exteriores russo apontou que “as divergências internas devem ser resolvidas apenas no marco do direito”.
Pandemia
As medidas do presidente Saied contam com o apoio de vários tunisianos, indignados com o governo pela sua gestão da pandemia de covid-19 — um dos países com a maior taxa de mortalidade do mundo. Outros temem um retorno à ditadura na democracia surgida depois da revolução que derrubou Zine el Abidine Ben Ali em janeiro de 2011, a única considerada bem-sucedida da Primavera Árabe. Os problemas endêmicos do desemprego e a degradação das infraestruturas públicas que estavam na origem da revolta não foram resolvidos.
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