Ecologia comportamental

Girafas têm relações sociais complexas que garantem continuidade da espécie

Tradicionalmente, pensava-se que esses animais tinham pouca ou nenhuma estrutura social e apenas relacionamentos fugazes e fracos

Correio Braziliense
postado em 04/08/2021 06:00
 (crédito: Doug Cavener/Divulgação)
(crédito: Doug Cavener/Divulgação)

Cientistas da Universidade de Bristol descobriram evidências de que as girafas são uma espécie bastante complexa socialmente. Tradicionalmente, pensava-se que esses animais tinham pouca ou nenhuma estrutura social e apenas relacionamentos fugazes e fracos. No entanto, nos últimos 10 anos, pesquisas têm mostrado que eles são muito mais avançados nesse sentido do que se imaginava.

Em um artigo publicado, ontem, na revista Mammal Review, Zoe Muller, da Escola de Ciências Biológicas de Bristol, demonstrou que as girafas passam até 30% de sua vida em um estado pós-reprodutivo. Isso é comparável a outras espécies com estruturas sociais altamente complexas e cuidados cooperativos, como elefantes e baleias orcas, que passam 23% e 35% da vida em um estado pós-reprodutivo, respectivamente.

Nessas espécies, foi demonstrado que a presença de fêmeas na pós-menopausa oferece benefícios de sobrevivência para a prole aparentada. Em mamíferos — incluindo humanos —, isso é conhecido como a “hipótese da avó”, que sugere que as fêmeas vivem muito depois da menopausa para que possam ajudar a criar gerações sucessivas de descendentes, garantindo, assim, a preservação de seus genes.

Os pesquisadores propõem que a presença de girafas fêmeas adultas pós-reprodutivas pode funcionar da mesma maneira e apoia a afirmação de que esses animais tendem a se envolver na criação cooperativa, junto com as mães, contribuindo para o cuidado parental compartilhado.

“É desconcertante, para mim, que uma espécie africana tão grande, icônica e carismática tenha sido pouco estudada por tanto tempo”, diz Muller. “Esse artigo reúne todas as evidências para sugerir que as girafas são, na verdade, uma espécie social altamente complexa, com sistemas sociais complexos e de alto funcionamento, potencialmente comparáveis aos elefantes, cetáceos e chimpanzés.

Espero que esse estudo estabeleça um limite, a partir do qual as girafas serão consideradas mamíferos inteligentes, que vivem em grupo, que desenvolveram sociedades complexas e altamente bem-sucedidas, o que facilitou sua sobrevivência em ecossistemas infestados de predadores.”

Mais pesquisas

A fim de os estudiosos reconheçam as girafas como uma espécie socialmente complexa, a cientista sugeriu oito áreas-chave para pesquisas futuras, incluindo a necessidade de compreender o papel que os adultos mais velhos e pós-reprodutivos desempenham na sociedade e quais os benefícios de aptidão que trazem para a sobrevivência do grupo.

“Reconhecer que as girafas têm um sistema social cooperativo complexo e vivem em sociedades matrilineares aumentará nossa compreensão de sua ecologia comportamental e das necessidades de conservação. As medidas de conservação terão mais sucesso se tivermos uma compreensão precisa da ecologia comportamental das espécies.

Se virmos as girafas como uma espécie altamente complexa socialmente, isso também aumenta seu ‘status’, no sentido de serem um mamífero mais complexo e inteligente que é cada vez mais digno de proteção.”

 

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