A diretora financeira da gigante chinesa de tecnologia Huawei retorna nesta quarta-feira (4) a um tribunal canadense para a rodada final de audiências sobre sua possível extradição para os Estados Unidos, após quase três anos de batalha judicial e confronto diplomático.
Meng Wanzhou, filha do fundador e CEO da empresa, Ren Zhengfei, luta contra sua extradição para os Estados Unidos, que querem processá-la por fraude bancária e conspiração para fazer negócios ilegalmente no Irã por meio de uma subsidiária.
Se for enviada aos Estados Unidos e for julgada, poderá pegar mais de 30 anos de prisão.
Sua prisão a pedido dos Estados Unidos durante uma escala em Vancouver em dezembro de 2018 causou um grande confronto diplomático entre Ottawa e Pequim.
Meng deve comparecer perante a Suprema Corte da província de Columbia Britânica hoje para duas semanas de audiências.
A mulher de 49 anos rejeita as acusações e seus advogados afirmam que funcionários do Canadá e dos Estados Unidos negam a ela o direito ao devido processo, portanto a extradição deve ser negada.
"A narrativa simplesmente não pode mais sobreviver ao escrutínio", argumentou seu advogado, Mark Sandler, em junho. "Não há caso plausível", acrescentou.
"Acusações sem fundamento"
Meng é acusada de fraudar o banco suíço HSBC por camuflar os vínculos entre a Huawei e a Skycom, uma subsidiária que vendia equipamentos de telecomunicações para o Irã. O banco correu o risco de violar as sanções dos Estados Unidos contra Teerã ao autorizar transações em dólares para a Huawei.
Mas seus advogados dizem que os Estados Unidos não têm jurisdição no caso e os direitos de sua cliente não foram respeitados. O processo sofreu várias reviravoltas nos quase três anos desde sua prisão.
A defesa também afirma que o então presidente Donald Trump "envenenou" o processo quando, 10 dias após a prisão, disse que poderia intervir no caso em troca de concessões comerciais da China.
Meng vive com uma tornozeleira eletrônica em sua mansão na costa oeste do Canadá.
O Canadá diz que as provas e acusações de Meng "só podem ser litigadas perante um juiz dos Estados Unidos" e não fazem parte de um procedimento normal de extradição.
"Estão pedindo que este tribunal se torne um tribunal de primeira instância com base em nada mais do que acusações infundadas", disse em abril Robert Frater, advogado da Procuradoria-Geral do Canadá.
O caso gerou uma crise sem precedentes entre Pequim e Ottawa. O Canadá, por sua vez, ficou entre a China e os Estados Unidos.
Poucos dias após a prisão de Meng, o governo chinês prendeu dois canadenses sob a acusação de espionagem. Para o Canadá, essas prisões foram uma retaliação pela prisão de Meng, o que Pequim nega.
Os canadenses, um ex-diplomata e um empresário, foram julgados, mas os veredictos ainda não são conhecidos.
A China também bloqueou a compra de bilhões de dólares de produtos agrícolas canadenses.
Tanto Pequim quanto a Huawei, maior fornecedora mundial de equipamentos de telecomunicações, negam as acusações dos Estados Unidos.
Pequim reclama que o objetivo da prisão de Meng é enfraquecer as empresas chinesas de tecnologia, chamando o caso de "um grave incidente político".
A audiência final está marcada para 20 de agosto, mas a decisão pode levar várias semanas e qualquer apelação da sentença estenderá o processo no Canadá.
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