Os líderes de cinco ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central se reuniram no Turcomenistão, nesta sexta-feira (6/8), em uma cúpula que reflete suas preocupações com o avanço dos talibãs e o risco de caos no vizinho Afeganistão.
A reunião na cidade balneária de Avaza, ao leste do mar Cáspio, ocorre em um contexto em que os talibãs tentam tomar o controle de várias grandes cidades sitiadas, depois de se apoderarem, nos últimos três meses, de vastas áreas rurais e de importantes postos de fronteira.
Os talibãs também desafiam as forças do governo afegão com seus avanços nas províncias próximas aos três antigos territórios soviéticos que cercam o país - Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão -, graças à retirada das forças americanas e de seus aliados.
Reunindo os chefes de Estado do Turcomenistão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Quirguistão, esta cúpula é um raro exemplo da diplomacia na Ásia Central sem a supervisão de uma potência estrangeira, como Rússia, ou China.
O presidente do Turcomenistão, Gurbanguly Berdymukhamedov, chamou o Afeganistão "para a questão que preocupa nós todos", na quarta-feira (4/8), quando a televisão estatal mostrou-o recebendo seu homólogo do Tadjiquistão, Emomali Rakhmon, para as negociações bilaterais anteriores à cúpula.
Rakhmon afirmou que os talibãs controlam agora toda fronteira entre Afeganistão e Tadjiquistão, o que corresponde a cerca de 1.300 km.
"Várias organizações terroristas reforçam ativamente suas posições nessas regiões", lamentou.
Seu homólogo do Uzbequistão, Shavkat Mirziyoyev, fez um apelo a um cessar-fogo absoluto e pediu um "acordo negociado mutuamente aceitável" entre o governo de Cabul e seu adversário.
Rússia na linha de frente
Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão participaram da coalizão contra a rede Al-Qaeda e os talibãs na década de 2000, ao abrigarem bases militares ocidentais em seus territórios, como parte das operações iniciadas depois dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Os uzbeques e os tadjiques também sofreram atentados e ataques terroristas no passado, atribuídos a aliados dos islâmicos afegãos.
Duas décadas depois, as coisas mudaram. Com a retirada dos Estados Unidos, o movimento Talibã estabeleceu contatos oficiais com o Turcomenistão e com o Uzbequistão. Também dialoga com Rússia e China, importantes potências regionais.
Assolado por uma guerra civil com os islâmicos nos anos 1990, o Tadjiquistão foi um dos poucos vizinhos do Afeganistão a não acolher uma delegação talibã.
Em junho, os talibãs se apoderaram de Shir Khan Bandar, a principal fronteira do Afeganistão com o Tadjiquistão. Nas últimas semanas, as tropas de Cabul se viram obrigadas a se retirar tanto do Tadjiquistão quanto do Uzbequistão durante os intensos combates com o grupo.
Em julho, o presidente Rakhmon mobilizou todo seu Exército para realizar exercícios surpresa de preparação para o combate.
Apesar de os talibãs alegarem que não ameaçam os outros países da Ásia Central, especialistas acreditam que a degradada situação de segurança no Afeganistão representa, por si só, uma ameaça para toda região.
"Enquanto os combates persistirem, será difícil garantir a segurança dos projetos de infraestrutura" na região, disse à AFP Jen Brick Mourtazachvili, da Universidade de Pittsburgh, nos EUA.
Um dos principais projetos seria o gasoduto transafegão TAPI, movido a gás turcomano e que unirá o Turcomenistão com a Índia.
A cúpula de Avaza também ocorre no momento em que a Rússia, que vê a Ásia Central como parte de sua esfera de influência, realiza exercícios militares conjuntos com Tadjiquistão e Uzbequistão na fronteira afegã.
Valeri Guerassimov, chefe de Estado-Maior do Exército russo, que chegou ao Uzbequistão na quinta-feira (5/8), destacou que "a principal ameaça para a região da Ásia Central hoje vem do lado afegão", devido à "retirada apressada das forças estrangeiras" do país.
Para o cientista político quirguiz Emil Djurayev, se os países da Ásia Central são favoráveis à ajuda externa, as relações insalubres de Rússia e China com os Estados Unidos complicam uma situação já explosiva no Afeganistão.
"Para a Ásia Central, será muito lamentável se as grandes potências tratarem este problema como um novo conflito geopolítico entre elas", concluiu.
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