Horas depois de capturar Zaranj — capital da província de Nimruz (sul), na fronteira com o Irã —, o Talibã continua a investida para recuperar territórios no Afeganistão. Com mais de 175 mil habitantes, Sheberghan, capital da província Jawzjan (norte), caiu em poder dos milicianos ontem. A cidade é berço político do ex-vice-presidente afegão e senhor da guerra uzbeque Abdul Rashid Dostum, conhecido por sua crueldade. “Infelizmente, Sheberghan foi capturada pelos talibãs”, anunciou à agência France-Presse (AFP) Qader Malia, vice-governador de Jawzjan. Segundo ele, as forças de segurança e os funcionários do governo provincial fugiram para o aeroporto.
Um conselheiro de Dostum garantiu à AFP que as tropas afegãs fizeram uma retirada tática para uma área a cerca de 20km de Sheberghan. “Foi planejado, eles transportaram munição suficiente para se defenderem de um ataque do Talibã”, declarou. Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra centenas de prisioneiros talibãs caminhando em liberdade pelas ruas da cidade, depois de um ataque da milícia à cadeia.
Em entrevista ao Correio, Zabihullah Mujahid, porta-voz da milícia fundamentalista islâmica Talibã, confirmou a queda de Sheberghan. “Neste momento, nós queremos limpar algumas áreas importantes dos inimigos. Uma delas é Sheberghan, que foi completamente capturada hoje (ontem)”, afirmou. Ao ser questionado se o grupo pretende reconquistar todo o Afeganistão, Zabihullah disse esperar que temas pendentes sejam resolvidos por meio do diálogo. “Se as negociações não derem certo, é claro que uma ação militar decisiva será necessária para capturarmos Cabul novamente. Nós vamos perseguir o inimigo no futuro. Não permitiremos que eles resistam aos muhajedine (combatentes islâmicos”) acrescentou.
O porta-voz do Talibã avisou que, caso os Estados Unidos suspendam a retirada militar prevista para 31 de agosto, a milícia também rescindirá o Acordo de Doha — que estabelece a renúncia ao terrorismo e o fim dos ataques contra as tropas afegãs. “Se isso ocorrer, lançaremos uma operação militar em larga escala contra os estrangeiros, se Alá quiser”, comentou Zabihullah. Ele também admitiu que Talibãs executaram Dawa Khan Menapal, chefe de operações de imprensa do governo do presidente Ashraf Ghani. “Sim, é verdade, nós o matamos. Ele espalhava má propaganda e mentiras contra nós.”
Ghani comandou, ontem, uma reunião com a cúpula de segurança onde abordou a situação nas áreas mais vulneráveis do país. De acordo com a Presidência do Afeganistão, oficiais de agências de segurança e de defesa compartilharam com o líder um relatório sobre as atividades e os planos para repelir ataques do Talibã. “Depois de ouvir os relatos, o presidente Ghani elogiou a coragem, o sacrifício e as ações oportunas das forças afegãs nas linhas de frente da guerrra e em outras partes do país”, informou o governo em seu perfil no Twitter.
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