Espanha

Espanha acelera vacinação contra Covid-19 e afasta polêmicas

Fora da UE, o Reino Unido vacinou totalmente quase 60% de sua população, e os Estados Unidos, 50%.

Agência France-Presse
postado em 12/08/2021 08:33 / atualizado em 12/08/2021 08:34
 (crédito: Chrstof Stache/AFP)
(crédito: Chrstof Stache/AFP)

A Espanha lidera os índices de vacinação contra a covid-19 entre os grandes países da União Europeia (UE), impulsionada pela grande confiança na saúde pública e nas vacinas, e por um forte senso de família.

Mais de 28,7 milhões de pessoas estavam totalmente vacinadas na Espanha até esta quinta-feira (61,5%), um percentual maior do que na Itália (57,7%), na França (56%) e na Alemanha (55%), enquanto, no outro extremo, está a Bulgária, com apenas 15%, de acordo com os dados mais recentes apurados pela AFP.

Fora da UE, o Reino Unido vacinou totalmente quase 60% de sua população, e os Estados Unidos, 50%.

Além disso, cerca de 72% dos espanhóis receberam pelo menos uma dose.

Uma das "peças-chave" do sucesso da vacinação é a "confiança no sistema de saúde", disse à AFP Josep Lobera, professor de Sociologia da Universidade Autônoma de Madri.

Lobera é membro do comitê de estratégia de vacinação, oficialmente chamado de Grupo de Trabalho Técnico de Vacinação Covid-19, e foi convocado pelas autoridades para explorar como os espanhóis receberiam a vacina.

Ele e seus colegas constataram que partiam "de uma posição de vantagem em comparação a outros países, porque a confiança nas vacinas em geral, especialmente vacinas infantis, é tradicionalmente mais alta do que em outros países europeus".

Embora as vacinas não sejam obrigatórias na Espanha, não estar em dia com as vacinas infantis pode significar não ser aceito na escola. Entre as recomendadas, estão a da catapora e da meningite, duas vacinas que já não são administradas em vários países europeus.

Segundo estudo realizado em 15 países pela Imperial College de Londres e divulgado em junho, 79% dos espanhóis confiam na vacina do coronavírus, em contraste com 62% dos americanos, 56% dos franceses, ou 47% dos japoneses.

- Saúde pública, sinônimo de modernidade -
O pavilhão esportivo WiZink em Madri é agora um grande centro de vacinação.

Em uma manhã de agosto, sob o tradicional sol escaldante do verão de Madri, há uma longa fila de pessoas na casa dos 30 anos, esperando pela segunda dose.

"Tenho 100%, 200% de confiança" na saúde pública, afirma Inés Gómez Calvo, designer gráfica de 28 anos.

Para Alejandro Costales, advogado de 30 anos, a vacina significa "cuidar" de sua família, "ter a garantia de voltar para casa, voltar e não infectá-los".

O professor Lobera acredita que os espanhóis associam a saúde pública universal à modernidade, em um país sedento por ela após a morte do ditador Francisco Franco em 1975.

Foi com a chegada da democracia, em 1978, que os diferentes governos "consolidaram e investiram em um sistema de saúde pública que os espanhóis veem como parte desse sistema moderno, democrático e progressista", explica Lobera.

Sobre a importância dos laços familiares, o sociólogo acredita que seja uma questão cultural, mas também econômica, pois "os jovens têm muito mais dificuldade para se emancipar, há uma maior precarização do trabalho, e isso significa que a família age como um salva-vidas" nas crises.

Dada a boa taxa de vacinação, o debate sobre medidas como a vacinação obrigatória, ou a emissão de um "passe covid" - que causou manifestações na França, ou na Alemanha -, é limitado no momento.

"Não tivemos que adotar essa medida, porque praticamente todos os professores e praticamente todos os cidadãos estão sendo vacinados de forma voluntária", disse a ministra da Educação, Pilar Alegría, em declarações à rádio Cadena SER na segunda-feira (9).

- A lembrança da pólio -
Na memória de muitos espanhóis estão os estragos causados a milhares e milhares de crianças nascidas entre 1955 e 1965 pelo atraso da vacinação contra a poliomielite, doença viral que ataca a medula espinhal e causa fraqueza muscular e paralisia.

Enquanto em muitos países a vacinação começou em meados da década de 1950, na Espanha, demorou quase uma década a mais, uma negligência enterrada pela censura da época, que recentemente levou o governo a identificar aqueles que sofreram da doença como vítimas do franquismo.

"Foi uma situação absolutamente terrível", disse à AFP Javier García, presidente da associação Cota Cero e vítima de poliomielite. "Foi absolutamente doloroso".

Garcia, agora com 60 anos e em uma cadeira de rodas, parou de ficar de pé aos 4 anos e foi submetido a 17 operações nas pernas quando criança.

Sobre a vacina do coronavírus, ele é conclusivo: "é importante que todos apliquem e, quanto antes, melhor".

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