As chuvas que caíram nas últimas horas deram um respiro nesta quinta-feira (12) aos bombeiros e cidadãos da Grécia, onde o fogo já queimou mais de 100.000 hectares em duas semanas de fortíssimos incêndios.
Diante desses incêndios, os mais graves desde 2007 e que provocaram três mortes, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, lamentou mais uma vez "uma catástrofe ecológica imensa" e alertou sobre o risco de que focos ressurjam neste verão especialmente seco e quente no país.
"Estamos em pleno mês de agosto e temos dias difíceis pela frente, mas podemos ser um pouco mais otimistas hoje", afirmou o chefe de governo.
Mitsotakis atribuiu esses incêndios à mudança climática e insistiu em que não se trata de um fenômeno grego, afetando também outros países, como Turquia, Itália e Argélia.
"Conseguimos proteger milhares de pessoas, apesar de termos perdido florestas e bens materiais", disse o premiê.
"A crise climática está aqui e está nos dizendo que tudo deve mudar", reconheceu o líder conservador, que é alvo de severas críticas por sua gestão dos incêndios.
Chegando em Atenas
Segundo dados oficiais, em oito dias, foram contabilizados 586 incêndios na Grécia, causados pela pior onda de calor em três décadas em um país mediterrâneo acostumado às altas temperaturas e aos incêndios florestais no verão.
No total, de 29 de julho a 12 de agosto, 100.874 hectares queimaram no país, segundo os cálculos realizados pela AFP com base em dados fornecidos pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS).
Em média, anualmente, desde 2008, apenas 2.750 hectares queimaram neste mesmo período.
Vários focos persistem na ilha de Eubeia, muito afetada desde 3 de agosto, e em Arcádia, Messênia e Mani, cidades no Peloponeso, duas regiões onde as chamas ressurgem constantemente, disse à AFP um responsável do serviço de bombeiros.
Os incêndios se aproximaram das portas da capital grega, uma metrópole de quatro milhões de habitantes, cujo céu está coberto de fumaça. Um novo incêndio foi declarado nesta quinta-feira em Asprópyrgos, uma área industrial a cerca de 30 km ao oeste de Atenas.
As chuvas registradas nas últimas horas em Eubeia ajudaram, no entanto, a "melhorar a situação" no Peloponeso e na Grécia central, informou o prefeito do município de Gortynia, Stathis Koulis.
Localizada na região montanhosa de Arcádia (Peloponeso), 200 km ao oeste de Atenas, esta cidade é o principal foco de incêndios da península, onde os barrancos dificultam o trabalho dos bombeiros.
"Um santo me salvou"
Os habitantes de 20 cidades foram evacuados nos últimos dias, enquanto centenas de bombeiros, alguns deles enviados por países europeus, lutam sem descanso contra as chamas.
"Estou perdido", desabafou Kostis Angelou, enquanto caminhava entre suas mais de 370 cabras mortas, devido ao fogo que devorou as florestas de Eubeia.
O agricultor de 44 anos conseguiu sobreviver, passando horas debaixo de um cano de água de irrigação, devido à ameaça do incêndio. "Um santo me salvou", afirma.
"Estamos acabados. O que podemos fazer?", questiona seu pai, Spyros Angelou, de 77 anos.
Os especialistas vinculam esta onda de calor ao aquecimento global, conforme estabelecido por um relatório preliminar do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU, ao qual a AFP teve acesso e que aponta o Mediterrâneo como um "ponto quente da mudança climática".
A Argélia anunciou três dias de luto nacional, a partir desta quinta-feira, pelos 69 mortos nos incêndios.
A Itália também foi afetada por incêndios. E, ontem, a ilha de Sicília teria registrado 48,8ºC, temperatura que, se confirmada, será um novo recorde europeu, superando o anterior da Grécia.
No sul da Turquia, oito pessoas morreram em incêndios no início do mês, enquanto, no norte, o número de mortes pelas enchentes repentinas aumentou para cinco nesta quinta-feira.
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