Davison atirou em Maxine Davison (sua mãe, de 51 anos), outra mulher, dois homens e uma menina de 3 anos em um intervalo de seis minutos.
O jovem detinha porte de arma de fogo, de acordo com Shaun Sawyer, chefe de polícia de Devon e da Cornualha.
A polícia informou que o incidente, o pior ataque a tiros no Reino Unido desde 2010, não está relacionado ao terrorismo.
Em vídeos na internet, Davison falava sobre se sentir "atingido" e "derrotado pela vida".
Como foi o ataque?
Na quinta-feira (12/8), a polícia recebeu telefonemas de um endereço em Biddick Drive, a rua onde ocorreu o ataque, às 18h11 (14h11 no horário de Brasília).
Minutos depois, policiais chegaram ao local.
Cinco pessoas, incluindo Davison e sua mãe, morreram na cena do crime e outra morreu mais tarde no hospital.
Sawyer disse que a arma usada no ataque foi descrita por testemunhas como uma "escopeta por ação de bombeamento", mas a polícia não confirmou a informação.
O chefe de polícia acrescentou que uma arma de fogo foi recuperada do local e que os policiais não estavam procurando mais ninguém em conexão com o incidente.
"Acreditamos que foi um incidente doméstico que se espalhou pelas ruas e tirou a vida de várias pessoas em Plymouth em circunstâncias extraordinariamente trágicas", acrescentou Sawyer.
Depois de atirar em sua mãe em sua casa, Davison saiu para a rua, onde "imediatamente atirou e matou uma garota", identificada como Sophie Martyn.
Ele também atirou e matou o pai da menina, Lee Martyn, de 43 anos.
Davison então atirou em outra mulher, de 53 anos, e um homem, de 33 anos, que permanecem no hospital com ferimentos "que não se acredita colocarem suas vidas em perigo".
O atirador então se dirigiu a um parque, onde atirou em Stephen Washington, de 59 anos, que morreu no local. Em seguida, deslocou-se para Henderson Place, onde atirou em Kate Shepherd, de 66 anos, que mais tarde morreu no Hospital Derriford.
Davison, então, cometeu suicídio, atirando contra si mesmo.
"Testemunhas disseram que Davison deu um tiro e se matou", disse Sawyer.
A polícia disse estar trabalhando para desvendar as hipóteses para o crime. Acrescentou também que vai examinar o disco rígido do computador de Davison e suas postagens nas redes sociais como parte da investigação.
Segundo Sawyer, até sexta-feira, "nenhum motivo foi identificado" para o ataque.
"Celibatários involuntários"
Em seus vídeos na internet, Davison dizia que estava socialmente isolado, que tinha dificuldade em conhecer mulheres e fazia referências a "incels" ou "celibatários involuntários", grupos de homens misóginos na internet que culpam as mulheres por seus fracassos sexuais e têm sido associados a vários atos violentos em todo o mundo.
Em um vídeo de 11 minutos, que parece ser o último que postou, Davison falou: "Sei que é um filme, mas às vezes gosto de pensar em mim mesmo como o 'Exterminador do Futuro' ou algo assim. Apesar de sofrer uma falha quase total do sistema, continua tentando cumprir sua missão."
Davison também escreveu sobre tiroteios em massa em uma postagem nas redes sociais há apenas três semanas.
O jovem, que afirmou ter conseguido um emprego como operador de guindaste, também estava discutindo as leis de armas de fogo no Reddit. Em determinada ocasião, ele escreveu: "há muito mais armas na Europa e no Reino Unido do que as pessoas pensam".
Em outro fórum do Reddit, um grupo para virgens, ele reclamou de ser "virgem" e disse: "Não consigo atrair mulheres de jeito nenhum."
Davison também postou comentários odiosos nas redes sociais sobre mães solteiras e sua própria mãe em particular, chamando-a de "vil, disfuncional e caótica".
O YouTube e o Facebook confirmaram que as contas de Davison foram removidas por violar suas políticas.
Análise
Marianna Spring, correspondente de desinformação e redes sociais
Em sua conta do YouTube agora excluída, Davison lamentou sua aparência pessoal, falou sobre se sentir isolado e suas dificuldades em encontrar mulheres.
Às vezes, ele se lançava em tiradas usando termos cunhados por "celibatários involuntários", conhecidos como "incels".
Essa subcultura da Internet incentiva os homens a culpar as mulheres por sua própria insatisfação com a aparência, os relacionamentos românticos e suas vidas, e os homens que conseguem se relacionar com elas.
Davison se referiu a esses homens como "Chads" em seus vídeos. As comparações com eles não se concentram apenas na personalidade ou na autoconfiança, mas alguns "incels" também acreditam que são geneticamente desfavorecidos em comparação com esses homens.
Ele também usou outras frases ligadas a essa comunidade, incluindo "overdose de blackpill".
O termo consiste essencialmente na crença de que, se você não for fisicamente atraente, não merece o amor e está destinado a ser mais infeliz cada vez que o procurar e ao fracasso.
Cena do crime
Andrea Ormsby, correspondente da BBC no sudoeste da Inglaterra
"Choque" é a palavra que ouvi mais vezes da população local.
Falei com várias pessoas que vivem aqui e todas me disseram: "Poderia ter sido eu."
Um pai me disse que estava com sua filha no carro quando viu pessoas acenando para ele na estrada em que estava prestes a entrar.
Disseram-lhe: "Não venha, há um atirador, vá embora."
Outras pessoas disseram que seus telefones tocavam sem parar com ligações de entes queridos para verificar se estavam seguras.
Keyham é normalmente uma comunidade tranquila, mas um pastor afirmou que tudo parecia particularmente calmo nesta sexta-feira, enquanto as pessoas refletiam sobre o que aconteceu.
Homenagem às vítimas
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tuitou: "Meus pensamentos vão para os amigos e familiares daqueles que perderam suas vidas e para todos aqueles afetados pelo trágico incidente em Plymouth na noite passada. Agradeço aos serviços de emergência por sua resposta."
A Câmara Municipal de Plymouth disse que as bandeiras da cidade estão hasteadas a meio mastro, enquanto a Torre Smeaton em Plymouth foi acesa na sexta-feira à noite em memória das vítimas.
As autoridades pediram às pessoas que ficassem em casa e seguissem as recomendações da polícia.
O ministro de Defesa britânico, Ben Wallace, disse que conversou com a ministra do Interior, Priti Patel, e lhe garantiu que a situação estava "sob controle".
O líder do Conselho municipal de Plymouth, Nick Kelly, afirmou que nada em sua "memória de vida" se compara ao ataque a tiros ocorrido nesta semana.
"Hoje, nossa cidade está de luto e meu coração está com todos aqueles que foram diretamente afetados por este incidente", disse ele.
O bispo de Plymouth, reverendo Nick McKinnel, disse que a cidade ficou "com um legado de dor e trauma, bem como grande ansiedade" que "afetaria a vida das pessoas para sempre".
A parlamentar Alison Hernandez, atual comissária da Polícia e Crime de Devon e da Cornuália, disse que muitos na comunidade "testemunharam o que aconteceu, bem na frente de seus olhos, onde vivem".
O último ataque a tiros em massa no Reino Unido ocorreu em 2010, quando o motorista de táxi Derrick Bird matou 12 pessoas no condado de Cúmbria, no noroeste do país.
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