O Pentágono afirmou que dois militantes do ISIS-K foram mortos e um ficou ferido em um ataque de drones ontem (noite de sexta-feira, no Brasil), como retaliação ao atentado suicida que deixou dezenas de mortos, incluindo 13 militares norte-americanos. Sem dar nomes, funcionários do Departamento de Defesa afirmaram que um dos homens pode ter ajudado a planejar a investida de dois dias antes, nos arredores do Aeroporto de Cabul, considerado o golpe mais mortal contra o Exército dos EUA no Afeganistão, desde 2011. O outro alvo teria sido um facilitador. O presidente Joe Biden cumpriu a promessa de represálias. Ontem, ele disse que o bombardeio que matou os dois integrantes do braço afegão do Estado Islâmico (EI) não será o último, e que um novo ataque “nas próximas 24 a 36 horas é muito provável”.
“A situação no local continua extremamente perigosa e a ameaça de um ataque terrorista no aeroporto continua alta”, escreveu Biden em um comunicado, depois de se reunir com conselheiros militares e de segurança. “Eu disse que iríamos atrás do grupo responsável pelo ataque a nossas tropas e civis inocentes em Cabul, e fomos”, ressaltou, acrescentando: “Esse ataque não foi o último. Continuaremos a rastrear qualquer indivíduo envolvido nesse atentado hediondo e faremos com pague por isso.”
O contra-ataque norte-americano, realizado por um único drone MQ-9 Reaper voando de uma base nos Emirados Árabes Unidos, atingiu Jalalabad, capital da província de Nangahar, e matou um planejador do ISIS-K conhecido por analistas de inteligência dos EUA por desenvolver um tipo específico de atentado na área de Cabul, disse um alto funcionário militar dos EUA. Acredita-se que ele estivesse envolvido em futuras conspirações contra alvos na capital afegã, incluindo o aeroporto, mas não há evidência imediata de que o homem planejou a investida de quinta-feira.
Incertezas
A três dias do prazo final para retirada das tropas norte americanas, marcada para 31 de agosto, ainda há 4 mil soldados dos EUA em Cabul. De acordo com o secretário de imprensa do Pentágono, John F. Kirby, os cidadãos norte-americanos e os aliados afegãos continuam a ter permissão para entrar no aeroporto e nos aviões que partem.
Kirby, porém, afirmou que o risco de ataques por parte do ISIS-K persiste. “Ainda acreditamos que há ameaças específicas e confiáveis”, advertiu. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, por sua vez, informou que os próximos dias serão “o período mais perigoso até hoje”.
Várias mensagens contraditórias de talibãs e americanos acentuaram a tensão até a data limite para encerrar a retirada das tropas estrangeiras do Afeganistão depois de 20 anos de guerra. Por meio de seu porta-voz, Bilal Karimi, os fundamentalistas reivindicaram o controle de “três importantes setores da parte militar do aeroporto” de Cabul, o que foi negado pelo Pentágono.
Os voos de repatriação fretados pelas potências ocidentais retomaram sua atividade e, segundo o chefe das forças armadas britânicas, o general Nick Carter, restam muito poucas viagens a serem feitas. O Reino Unido concluiu as operações aéreas ontem. A França já iniciou contatos com o Catar, que mantém canais de comunicação com os talibãs, para prosseguir com as evacuações depois de 31 de agosto.
A chanceler alemã, Angela Merkel, conversou com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o holandês, Mark Rutte, para analisar os próximos passos. Quase 112 mil pessoas saíram do Afeganistão desde 14 de agosto, véspera da entrada dos talibãs na capital, e 5,4 mil aguardam a retirada.
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Bagdá em alerta
O presidente francês, Emmanuel Macron, fez um alerta ontem contra a ameaça representada pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), durante uma reunião de cúpula regional em Bagdá, e destacou que a França permanecerá no Iraque independentemente da decisão dos Estados Unidos. “Todos sabemos que não devemos baixar a guarda porque o Daesh (acrônimo árabe do EI) continua sendo uma ameaça”, disse, em uma entrevista coletiva, ao lado do primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al-Kazimi.
No Iraque, o EI foi derrotado no fim de 2017 por uma coalizão internacional. Agora, as células jihadistas do grupo terrorista executam ataques pontuais. O último grande atentado reivindicado pela facção no país deixou mais 30 mortos em Bagdá, em julho.
Embora o EI seja um grande inimigo do talibã, o que aconteceu no Afeganistão pode estimular os extremistas e motivá-los a “demonstrar que ainda estão muito presentes no Iraque”, alertou Rasha al Aqeedi, pesquisadora do Instituto Newlines, dos Estados Unidos.
Macron também anunciou o início de discussões com os talibãs para “proteger e repatriar as afegãs e afegãos” em risco desde a mudança de regime em Cabul, que aconteceu em 15 de agosto. A reunião no Iraque foi organizada, inicialmente, para apaziguar as tensões entre as duas grandes potências regionais, o Irã xiita e a Arábia Saudita sunita, mas também teve que debater a situação no Afeganistão.
As relações do Iraque com o Irã também foram abordadas na reunião, assim como as tensões de Teerã com a Arábia Saudita devido ao conflito no Iêmen. Bagdá quer desempenhar um papel de intermediário e sediou recentemente encontros entre representantes das duas potências regionais.