Afeganistão

Talibã afirma controlar todo Afeganistão, líder da resistência convoca levante nacional

O Talibã anunciou que controla todo o Afeganistão, depois que afirmou ter capturado o vale de Panjshir, onde o líder da resistência local Ahmad Masud convocou um "levante" contra o novo regime.

Agence France-Presse
postado em 06/09/2021 19:13 / atualizado em 06/09/2021 19:13
 (crédito: Wakil Kohsar / AFP)
(crédito: Wakil Kohsar / AFP)

O Talibã anunciou nesta segunda-feira (6) que controla todo o Afeganistão, depois que afirmou ter capturado o vale de Panjshir, onde o líder da resistência local Ahmad Masud convocou um "levante" contra o novo regime.

Após a vitória fulminante sobre as tropas governamentais em agosto e a retirada das tropas dos Estados Unidos na semana passada, depois de 20 anos de guerra, os talibãs tentavam sufocar a resistência concentrada no montanhosos vale de Panjshir, perto de Cabul.

"Com esta vitória, nosso país saiu por completo do pântano da guerra. As pessoas viverão agora em liberdade, paz e prosperidade", afirmou o principal porta-voz do movimento islamita, Zabihullah Mujahid, em um comunicado.

Histórico reduto anti-Talibã, o vale de Panjshir, famoso no fim dos anos 1980 graças ao lendário comandante Ahmed Shah Masud, que foi assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, abriga a Frente Nacional de Resistência (FNR).

O líder desta força, Ahmad Masud, filho do comandante Masud, respondeu aos talibãs e convocou um "levante nacional".

"Onde quer que vocês estejam, dentro ou fora (do Afeganistão), convoco para que iniciem um levante nacional pela dignidade, liberdade e prosperidade de nosso país".

A FNR afirma reter "posições estratégicas" na região e promete "continuar" com sua luta.

Em uma entrevista coletiva em Cabul, o porta-voz Talibã advertiu contra novas tentativas de insurgência e convocou os integrantes das Forças Armadas do governo anterior a aderir às tropas do novo regime.

"O Emirado Islâmico é muito sensível às insurgências. Qualquer um que tentar iniciar uma insurgência será atacado com firmeza. Não permitiremos outra", afirmou.

Imagens publicadas nas redes sociais pelo Talibã mostram os talibãs no gabinete do governador da província de Panjshir e bandeiras do movimento por todos os lados.

Após a queda de Cabul em 15 de agosto, as forças contrárias às novas autoridades formaram o FNR no Panjshir, uma região que não caiu durante a ocupação soviética nem durante o primeiro governo Talibã (1996-2001).

Na madrugada de segunda-feira, a FNR reconheceu muitas baixas em combates durante o fim de semana e pediu um cessar-fogo.

O Irã, que tem uma grande fronteira com o Afeganistão, condenou a ofensiva Talibã no vale de Panjshir, depois de várias semanas em que evitou criticar as ações das novas autoridades afegãs.

 

Segregação por sexo nas aulas 

 

Três semanas após a conquista da capital Cabul, o Talibã ainda trabalha na formação do governo. O anúncio estava previsto para o fim de semana, mas foi adiado.

Mujahid explicou nesta segunda-feira que a formação de um governo interino será anunciado nos próximos dias, após a solução de "questões técnicas".

O grupo prometeu em várias ocasiões um Executivo mais "inclusivo" e representativo da variedade étnica que durante seu primeiro regime, baseado em uma interpretação muito rigorosa da lei islâmica.

A inclusão de mulheres é improvável. Durante o primeiro governo Talibã, os direitos das mulheres foram muito prejudicados, com proibição de estudar, trabalhar ou sair às ruas sozinhas.

O representante talibã para a Educação afirmou no domingo que as mulheres serão autorizadas a frequentar a universidade, caso as aulas sejam segregadas por sexos ou separadas por uma cortina.

As estudantes também deverão vestir o longo véu que cobre todo o corpo e um niqab que tape o rosto, mas não será necessário utilizar burca, que tem apenas uma pequena abertura na altura dos olhos.

A tomada do poder acarreta múltiplos desafios para o Talibã, incluindo as necessidades humanitárias de grande parte da população que precisa de assistência internacional.

O enviado humanitário da ONU, Martin Griffiths, chegou a Cabul para uma reunião com o comando talibã, que prometeu ajudar.

"As autoridades afirmaram que a segurança dos funcionários do setor humanitário e o acesso de ajuda humanitária às pessoas necessitadas estarão garantidos, e que os trabalhadores humanitários (tanto homens como mulheres) terão garantida a liberdade de movimento", afirmou em um comunicado o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.


Blinken no Catar


A comunidade internacional ainda assimila a chegada do novo regime ao poder e calibra como lidar com a situação.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chegou ao Catar na noite desta segunda-feira, um ator-chave na crise afegã.

Pouco antes da chegada de Blinken, um alto funcionário americano revelou que quatro americanos deixaram o Afeganistão por terra nesta segunda-feira, que o Talibã havia sido informado previamente e que o movimento "não impediu" a retirada.

Foram as primeiras retiradas organizadas pelos Estados Unidos desde sua caótica evacuação do país.

Durante a estada de Blinken no Catar, o secretário de Estado expressará o "profundo agradecimento" de Washington pelo apoio de Doha durante as operações de evacuação.

Este país do Golfo Pérsico, com uma grande base militar dos EUA, permitiu que 55.000 pessoas fizessem lá escala ao deixar o Afeganistão, quase metade das pessoas evacuadas pelas potências ocidentais.

Espera-se também que Blinken aborde os esforços do Catar e da Turquia para reabrir o aeroporto de Cabul, algo necessário para entregar ajuda humanitária e concluir a evacuação dos afegãos em risco.

O chefe da diplomacia americana não deve se reunir com representantes do Talibã em Doha, onde eles têm um gabinete político. Um diálogo futuro entre as partes, porém, não está excluído.

Mais tarde, Blinken viajará para a base americana em Ramstein (Alemanha), um refúgio temporário para milhares de afegãos que têm como destino final os Estados Unidos.

Junto com seu homólogo Heiko Maas, ele participará de um encontro virtual com ministros de 20 países para tratar dessa crise.

 

 


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