AFEGANISTÃO

Talibãs anunciam vitória no Panjshir

Movimento islamita afirma ter sufocado o último reduto de resistência, a 120km de Cabul, garantindo que, agora, tem sob seu comando todo o território. Grupo opositor, porém, diz que ainda mantém posições estratégicas e convoca levante nacional

Correio Braziliense
postado em 06/09/2021 21:10
 (crédito: Ahmad Sahel Arman/AFP)
(crédito: Ahmad Sahel Arman/AFP)

Três semanas após ter tomado o poder no Afeganistão, o Talibã anunciou, ontem, ter conquistado o controle de todo o país. Por meio de um comunicado, Zabihullah Mujahid, o principal porta-voz do movimento islamita, afirmou que o último reduto de resistência, concentrada no montanhoso Vale de Panjshir, distante 120km de Cabul, foi capturado. Sem se intimidar, o líder da Frente Nacional de Resistência (FNR), Ahmad Masud convocou um “levante nacional” contra o regime.
“Com essa vitória, nosso país saiu por completo do pântano da guerra. As pessoas viverão agora em liberdade, paz e prosperidade”, ressaltou Mujahid, na nota. Após o triunfo sobre as tropas governamentais, em meados de agosto, e a retirada das tropas dos Estados Unidos na semana passada, ao fim de 20 anos de guerra, esse era o último obstáculo ao poder total do novo governo.
Histórico reduto anti-Talibã, o Vale de Panjshir, famoso no fim dos anos 1980 graças ao lendário comandante Ahmed Shah Masud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, abriga a FNR. Líder da frente, Ahmad Masud, filho do comandante Masud, respondeu aos talibãs. “Onde quer que vocês estejam, dentro ou fora (do Afeganistão), convoco para que iniciem um levante nacional pela dignidade, liberdade e prosperidade de nosso país”, conclamou.

Advertência

Em desafio ao movimento islamita, a FNR afirma reter “posições estratégicas” na região, prometendo “continuar” com sua luta. Na madrugada, porém, havia reconhecido muitas baixas em combates durante o fim de semana e pediu um cessar-fogo.
Durante entrevista coletiva em Cabul, o porta-voz Talibã advertiu sobre as consequências de novas tentativas de insurgência. Zabihullah Mujahid convocou os integrantes das Forças Armadas do governo anterior a aderir às tropas do novo regime. “O Emirado Islâmico é muito sensível às insurgências. Qualquer um que tentar iniciar uma insurgência será atacado com firmeza. Não permitiremos outra”, afirmou.
Imagens divulgadas nas redes sociais pelo grupo radical mostram os talibãs no gabinete do governador da província de Panjshir e bandeiras do movimento por todos os lados.
Após a queda de Cabul, em 15 de agosto, as forças contrárias às novas autoridades formaram a FNR no Panjshir, uma região que não caiu durante a ocupação soviética nem durante o primeiro governo Talibã (1996-2001).
O Irã, que tem uma grande fronteira com o Afeganistão, condenou a ofensiva Talibã no local, depois de várias semanas em que evitou criticar as ações das novas autoridades afegãs.
A derrota da resistência foi anunciada em meio à formação do novo governo. Três semanas após a conquista da capital, o Talibã ainda trabalha na composição do gabinete. O anúncio estava previsto para o fim de semana, mas foi adiado. Ontem, Mujahid disse que a divulgação ocorrerá nos próximos dias, após a solução de “questões técnicas”.
O movimento prometeu, em várias ocasiões, um Executivo mais “inclusivo” e representativo da variedade étnica que, durante seu primeiro regime, foi baseado em uma interpretação muito rigorosa da lei islâmica.

Direito das mulheres

A inclusão de mulheres é improvável. Durante o primeiro governo Talibã, os direitos das afegãs foram muito prejudicados, com proibição de estudar, trabalhar ou sair às ruas sozinhas.
No domingo, o representante talibã para a Educação reafirmou que as mulheres serão autorizadas a frequentar a universidade, caso as aulas sejam segregadas por sexos ou separadas por uma cortina.
As estudantes também deverão vestir o longo véu que cobre todo o corpo e um niqab que tape o rosto, mas não será necessário utilizar burca, que tem apenas uma pequena abertura na altura dos olhos.
A tomada do poder acarreta múltiplos desafios para o Talibã, incluindo as necessidades humanitárias de grande parte da população que precisa de assistência internacional. O enviado humanitário da ONU, Martin Griffiths, chegou a Cabul para uma reunião com o comando talibã.
“As autoridades afirmaram que a segurança dos funcionários do setor humanitário e o acesso de ajuda humanitária às pessoas necessitadas estarão garantidos, e que os trabalhadores humanitários (tanto homens como mulheres) terão garantida a liberdade de movimento”, afirmou, em um comunicado, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

“Com essa vitória, nosso país saiu por completo do pântano da guerra. As pessoas viverão agora em liberdade, paz e prosperidade”
Zabihullah Mujahid, principal porta-voz do movimento islamita

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