Afeganistão

Quase 200 pessoas retiradas de Cabul no primeiro voo após saída dos EUA

Este voo ocorreu enquanto os talibãs tentam fortalecer seu governo, menos de um mês depois de tomarem o controle de Cabul

Agência France-Presse
postado em 09/09/2021 13:35 / atualizado em 09/09/2021 13:36
 (crédito: WAKIL KOHSAR / AFP)
(crédito: WAKIL KOHSAR / AFP)

Cerca de 200 pessoas, entre elas americanos, foram retiradas nesta quinta-feira (9) do aeroporto de Cabul, no primeiro voo de civis a decolar da capital do Afeganistão depois que as últimas tropas americanas deixaram o país no final de agosto.

Os correspondentes da AFP viram a decolagem, nesta quinta-feira à tarde, do voo da Qatar Airways com destino a Doha (Catar), o primeiro desde o fim da caótica retirada de mais de 120.000 pessoas em 30 de agosto.

Este voo ocorreu enquanto os talibãs tentam fortalecer seu governo, menos de um mês depois de tomarem o controle de Cabul.

Imagens divulgadas pela emissora catariana Al-Jazeera mostraram várias famílias aguardando com malas no aeroporto de Cabul. "Somos muito gratos ao Catar", disse um dos passageiros, explicando que tem passaporte canadense.

Doha e seu aliado turco trabalham há dias para consertar as infraestruturas do aeroporto, que foram muito danificadas.

"É um dia histórico para o aeroporto de Cabul", disse nesta quinta-feira o enviado catariano no Afeganistão, Mutlaq al-Qahtani, acrescentando que os voos internacionais serão retomados "progressivamente".

Fora do aeroporto, muitos combatentes do Talibã patrulhavam as ruas de Cabul, mais armados do que nos dias anteriores - incluindo as forças especiais com equipamentos militares -, nas equinas e nos postos de controle de circulação nas grandes avenidas, segundo repórteres da AFP.

Protestos proibidos

Muitos dos afegãos retirados naqueles dias de agosto fugiram após o retorno dos fundamentalistas, com medo de represálias por terem trabalhado com órgãos estrangeiros nas últimas duas décadas.

Embora os talibãs insistam que mudaram e que não são mais aquele regime repressivo, especialmente com as mulheres, que governou entre 1996 e 2001, suas primeiras semanas no poder mostram que não vão tolerar nenhum tipo de oposição.

Nesta quinta-feira, vários protestos a favor da liberdade foram cancelados na capital afegã, depois que o novo governo proibiu este tipo de ação.

Esta semana, talibãs armados dispersaram concentrações de centenas de pessoas em várias cidades do país, incluindo Cabul, Faizabad (nordeste) e Herat (leste), onde duas pessoas foram mortas a tiros.

Para encerrar as manifestações, na quarta-feira à noite, o novo governo do Talibã ordenou que qualquer protesto fosse autorizado previamente pelo ministério da Justiça. E que "por enquanto, nenhum foi".

Um organizador de um protesto em frente à embaixada do Paquistão - um país muito próximo do Talibã e acusado de interferência nos assuntos internos afegãos - disse à AFP que a manifestação foi cancelada como resultado da proibição do governo.

Em outro local onde outro protestos estava planejado, não havia indicação alguma de mobilização.

"Conquistar" a legitimidade

O Talibã anunciou seu governo de transição composto por membros ultraconservadores, alguns dos quais já governaram durante o regime fundamentalista brutal da década de 1990.

Vários ministros estão nas listas de sanções da ONU e não há mulheres no gabinete.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou o novo governo que deve "conquistar" sua legitimidade perante a comunidade internacional, após o anúncio deste gabinete que inclui membros procurados por Washington.

Apesar de o Talibã ter prometido incluir membros de outros grupos no governo, a realidade é que os principais cargos anunciados são ocupados por líderes talibãs: o ministério do Interior é liderado por Sirajuddin Haqqani, chefe da temida rede Haqqani - classificada como terrorista pelos Estados Unidos - e da Defesa por mulá Yaqub, filho do mulá Omar, fundador do movimento.

Mohammad Hasan Akhund, que foi ministro entre 1996 e 2001, é o responsável pelo governo.

O Talibã também restabeleceu o temido ministério para a Propagação da Virtude e a Prevenção do Vício, que durante o regime anterior garantia que a população respeitasse sua interpretação estrita da lei islâmica.

Na quarta-feira, o ex-presidente Ashraf Ghani, cuja fuga em 15 de agosto abriu as portas de Cabul e do poder ao Talibã, pediu desculpas ao povo afegão por não ter oferecido um futuro melhor.

Este novo governo enfrenta a difícil tarefa de retomar a economia do país e lidar com problemas complexos de segurança, incluindo a filial local do grupo Estado Islâmico, rival do Talibã e por trás de ataques sangrentos.

Enquanto isso, por todo o país vão surgindo símbolos marcando os novos governantes.

Em imagens que circularam nas redes sociais, é possível constatar que o principal aeroporto do país, antes denominado Hamid Karzai International em homenagem ao primeiro presidente pós-Talibã, passou a se chamar Kabul International.

E um feriado nesta quinta-feira em memória ao famoso comandante Ahmed Shah Masud, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda, também foi cancelado.

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