Em uma série de cerimônias, os norte-americanos homenagearam, ontem, os cerca de 3 mil mortos do maior atentado aos Estados Unidos, protagonizado, há 20 anos, pela Al-Qaeda. Lembranças e apelo à união ocorreram sob uma atmosfera tensa devido à caótica retirada das tropas americanas do Afeganistão, operação finalizada no mês passado e que é motivo de críticas ao presidente Joe Biden. O chefe de Estado, acompanhado da primeira-dama e da vice-presidente, Kamala Harris, participou de tributos às vítimas da tragédia em todas as três cidades que foram alvos de ataques terroristas, mas não fez discursos.
Silêncios também marcaram o início das cerimônias do dia. O primeiro minuto de silêncio ocorreu às 8h46 (9h46 de Brasília), no memorial de Manhattan, em Nova York, exatamente duas décadas depois do primeiro avião sequestrado pelos terroristas ter atingido a Torre Norte do World Trade Center. Biden presidiu a homenagem ao lado de seus antecessores Barack Obama e Bill Clinton. Por três horas, parentes das vítimas leram e evocaram — muitas vezes em lágrimas — os nomes e lembranças dos mortos.
Frank Siller, irmão de um bombeiro do Brooklyn que perdeu a vida no complexo de prédio, foi um dos participantes da cerimônia. Ele caminhou 864 quilômetros entre Washington e Nova York levantando fundos para apoiar as famílias das vítimas. “A América nunca se esqueceu de Pearl Harbor e nunca se esquecerá do 11 de Setembro”, declarou à Agência France-Presse (AFP) de notícias. A cerimônia também contou com uma série de homenagens musicais, como a apresentação do astro americano Bruce Springsteen.
Em seguida, Biden e sua comitiva seguiram para a cidade de Shanksville, no estado da Pensilvânia, onde caiu o último dos quatro aviões comerciais tomados pelos terroristas — um voo em que os passageiros subjugaram seus agressores que tinha como destino original a capital Washington.
“Vimos evidências crescentes de que os perigos para o nosso país podem vir não apenas através das fronteiras, mas também pela violência que se acumula dentro de nós. Há pouca sobreposição cultural entre extremistas violentos no exterior e extremistas violentos em casa”, declarou George W. Bush, em um discurso durante o evento. O ex-presidente foi o responsável pela guerra retaliatória no Afeganistão, em 2001. “Nas semanas e nos meses que se seguiram aos ataques de 11 de setembro, tive orgulho de liderar um grupo impressionante, resiliente e unido”, complementou Bush.
Na mesma linha, a vice-presidente, Kamala Harris, se referiu à polarização política e pediu “unidade” e fortalecimento “dos laços comuns”. “Nos dias que se seguiram a 11 de setembro de 2001, todos fomos lembrados de que a unidade é possível na América. Fomos lembrados, também, de que a unidade é imperativa na América. É essencial para nossa prosperidade compartilhada, nossa segurança nacional e para nossa posição no mundo ” No dia anterior, Biden também havia apelado à união em mensagem divulgada aos americanos. “Vamos mostrar, nos próximos quatro, cinco, seis, 10 anos, que as democracias podem funcionar ou não?”, perguntou o presidente.
A última parada dos líderes americanos foi em Washington, onde ocorreram homenagens no Capitólio, também alvo dos atentados. Biden depositou uma coroa fúnebre no memorial construído no exato local em que uma das aeronaves sequestradas por membros da Al-Qaeda provocou 125 mortes.
Trump ataca
Ausente em todas as cerimônias, o ex-presidente Donald Trump usou o dia de luto para atacar o seu sucessor. Em um vídeo, disse que “Joe Biden e sua administração inepta se renderam derrotados”, fazendo referência ao fim da intervenção militar no Afeganistão. “É um momento triste pela forma como terminou nossa guerra contra aqueles que tanto devastaram nosso país”, criticou o magnata, que lembrou também os 13 militares dos Estados Unidos mortos durante a retirada de civis no aeroporto de Cabul, no último dia 26.
Trump visitou uma delegacia de polícia e bombeiros em Nova York, elogiando a bravura dos combatentes durante o 11 de Setembro. Em 20 anos, os EUA perderam 2.500 soldados e gastaram mais de US$ 2 trilhões no Afeganistão. Em agosto, abandonaram o país às mãos dos fundamentalistas islâmicos. O Talibã está, agora, de volta ao controle do Afeganistão, assim como no 11 de Setembro, aumentando o temor de que o país possa se tornar novamente um centro terrorista.
» Também em Guantánamo
Parentes das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 também se reuniram, ontem, em uma cerimônia realizada na base naval dos Estados Unidos na Baía de Guantánamo, em Cuba. A poucos quilômetros da região, um dos autores intelectuais dos ataques está preso. Khalid Sheikh Mohamed e quatro outros acusados estão sendo processados pelos ataques em audiências que já duram nove anos e que ainda estão em fase de prejulgamento. “Nessa instalação naval, mais do que em qualquer outro lugar do mundo, nós recordamos essa tragédia todos os dias”, declarou o comandante da base, o capitão Samuel White.
“A unidade é imperativa na América. É essencial para nossa prosperidade compartilhada, nossa segurança nacional e para nossa posição no mundo ”
Kamala Harris, vice-presidente
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