O governo britânico decidiu adiar a introdução de controles alfandegários completos sobre as importações da União Europeia (UE), buscando uma abordagem “pragmática” no momento em que o Reino Unido começa a enfrentar dificuldades de abastecimento. “Queremos que as empresas se concentrem na recuperação pós-pandemia em vez de ter que lidar com novas demandas na fronteira, razão pela qual estabelecemos um novo cronograma pragmático para a introdução dos controles nas fronteiras”, anunciou o ministro responsável pelo Brexit, David Frost, em comunicado à imprensa. “Agora, as empresas terão mais tempo para se preparar para esses controles, que serão implantados gradativamente ao longo de 2022”, acrescentou.
A pandemia de coronavírus causou problemas de abastecimento no Reino Unido, que são sentidos particularmente no setor agroalimentar, onde novas regras sobre a importação de produtos de origem animal deveriam ser introduzidas a partir do próximo mês. Para dar às empresas mais tempo para se adaptarem, essas regras serão adiadas para 1º de janeiro.
O governo decidiu ainda que, enquanto declarações e controles serão introduzidos em 1º de janeiro de 2022, conforme planejado, declarações de segurança e proteção, como os certificados fitossanitários, não serão exigidos antes de 1º de julho de 2022. No Reino Unido, os problemas de abastecimento são amplificados pela escassez de mão de obra, principalmente no transporte rodoviário. Muitos desses trabalhadores, principalmente os do Leste Europeu, voltaram para seus países. Além da pandemia da covid-19, o outro fator foi o Brexit, que dificulta a obtenção de novas autorizações de residência. De acordo com a ministra do Comércio, Liz Truss, os problemas atuais precisam ser tratados “de forma tão flexível quanto possível”.
Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham (Reino Unido), explicou ao Correio que há dois motivos para o adiamento da imposição de controle alfandegário sobre produtos da União Europeia. “O primeiro deles diz respeito a um atraso global nas cadeias de abastecimento, e isso nada tem a ver com o Brexit”, afirmou. “O segundo envolve dois problemas específicos provocados pelo Brexit: a escassez de 10 mil caminhoneiros — resultado direto da saída do Reino Unido do Mercado Único Europeu, de modo que nenhum motorista de cargas pesadas da UE poderá trabalhar para empresas britânicas — e os controles fronteiriços do Brexit sobre alimentos e mercadorias do Reino Unido que entram na UE”, acrescentou. Segundo o especialista, os consumidores britânicos têm notado grande escassez de alimentos e de frutas da União Europeia, além de materiais de construção.
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“O governo espera que, ao adiar o controle alfandegário e buscar mercadorias na Austrália e na Nova Zelândia, a escassez possa ser mitigada. É claro que isso se revela um absurdo, e o governo de Boris Johnson sabe disso. As autoridades britânicas faz uma tremenda aposta de que os 52% dos cidadãos que votaram pelo Brexit suportarão a escassez de alimentos básicos e de outros suprimentos vitais à nossa economia. Como sempre, é o pobre que tem de pagar mais por comida e outros bens.”
Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham (Reino Unido)
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