A oposição russa denunciou, nesta segunda-feira (20), fraudes nas eleições legislativas das quais ficou praticamente excluída, enquanto o partido do presidente Vladimir Putin reivindicou uma grande maioria.
Após a apuração de 99,69% das urnas, o partido Rússia Unida alcançava 49,85% dos votos, muito à frente dos comunistas (18,96%).
A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, confirmou que o Rússia Unida conseguiu mais de dois terços das cadeiras da câmara baixa do Parlamento, a Duma, como nas últimas legislativas há cinco anos.
Como resultado de eleições em que metade das cadeiras são proporcionalmente designadas e a outra metade por uma maioria uninominal de votos, este partido terá mais de 300 dos 450 mandatos, o suficiente para modificar a Constituição sem o apoio de outros partidos.
"Para o presidente [Vladimir Putin] o mais importante é desde o início que as eleições sejam disputadas com transparência e honestidade" disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que elogiou o Rússia Unida por ter cumprido sua missão.
"Gostaria particularmente de agradecer aos cidadãos russos, obrigado pela vossa confiança, queridos amigos", declarou Putin em uma reunião com Pamfilova divulgada na televisão.
Este resultado representa, porém, uma queda para o Rússia Unida em comparação com 2016, quando obteve 54,2% dos votos e 334 deputados.
A participação aumentou, alcançando 51,68%, um sinal da atitude "responsável" dos eleitores, segundo Putin.
A oposição, majoritariamente excluída dessas eleições, assim como o principal opositor preso Alexei Navalny, denunciou fraudes: enchimento de urnas, falsificação de votos online e observadores excluídos da apuração das cédulas, entre outros.
Berlim pediu para "esclarecer" essas suspeitas, enquanto a União Europeia denunciou um clima de "intimidação".
"Operação especial"
Em Moscou, reduto dos críticos do Kremlin, estes afirmaram que os votos online foram falsificados, o que permitiu inverter uma tendência desfavorável ao Rússia Unida observada na apuração dos votos em papel.
Em uma mensagem de sua equipe no Instagram, Navalny ironizou sobre as "pequenas mãos ágeis" do Rússia Unida que permitiram "reverter completamente" os resultados dos votos eletrônicos.
Pesquisas recentes da estatal VTsIOM revelaram que menos de 30% dos russos pensavam em votar nesse partido, 10% a menos que nas semanas anteriores às legislativas de 2016. Sua popularidade despencou por escândalos de corrupção e pela queda do padrão de vida nos últimos anos.
"Esta Duma eleita é evidentemente ilegítima e não a reconhecemos. Quando uma operação especial permite que um partido com uma margem de 30% supere os 75% das cadeiras em um Parlamento, significa insultar os cidadãos", disse Leonid Volkov, um aliado de Navalny, no Twitter.
"As pessoas sãs (...) não podiam votar neste partido", contou Dmitri Gavrilov, um eleitor de Moscou, à AFP.
A ONG especializada Golos classificou como "evidência" a queda do "nível de transparência" e de "clareza do sistema eleitoral".
Por sua vez, o líder comunista Guennadi Ziugánov, geralmente contido, denunciou falsificações e pediu a Putin que encerre essas "armadilhas".
Voto inteligente
A presidente da Comissão Eleitoral rebateu as acusações e elogiou a "transparência" das eleições.
Diante do aumento de votos obtidos pelos comunistas, o movimento de Navalny reivindicou o sucesso de sua estratégia de "voto inteligente", que consistiu em apostar nos candidatos melhor colocados para impedir a eleição dos representantes do partido de Putin.
No Instagram, o opositor agradeceu de coração àqueles que seguiram suas instruções de voto.
As legislativas aconteceram depois de uma intensa onda de repressão contra a oposição, incluindo a detenção de Navalny, que viu sua organização ser banida por ser considerada "extremista".
Além disso, as autoridades pressionaram as grandes empresas do setor digital no primeiro dia das eleições, sexta-feira, Apple e Google suprimiram de suas lojas o aplicativo de "voto inteligente" de Navalny.
Além do Rússia Unida e dos comunistas, outros três partidos cumprem os requisitos para entrar na Duma: os nacionalistas do LDPR (7,50%), os centristas do Rússia Justa (7,44%) e um recém-chegado, o partido "Novas Pessoas" (5,33%).
Estes partidos são considerados uma falsa oposição e acusados de atuar a serviço do Kremlin.
O partido do Kremlin também vence nas dezenas de eleições regionais, como na Chechênia, onde o líder autoritário Ramzan Kadýrov recebeu 99,6% dos votos.
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