Acordos nucleares

Tratado contra testes nucleares é 'sucesso', mesmo sem ratificações

Antes de o tratado ser aberto para ratificação em 24 de setembro de 1996, mais de 2.000 testes nucleares haviam sido realizados em todo o mundo

Agência France-Presse
postado em 24/09/2021 09:29 / atualizado em 24/09/2021 09:29
 (crédito: South Korean Defence Ministry/AFP)
(crédito: South Korean Defence Ministry/AFP)

Vinte e cinco anos após a adoção do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), o organismo da ONU encarregado de sua supervisão o considera um "grande sucesso", apesar de não ter sido ratificado pela China, Coreia do Norte ou Estados Unidos.

Oito países com programas nucleares se recusaram a ratificar o tratado histórico, impedindo-o de entrar em vigor, e há poucos sinais de que vão mudar de ideia apesar da pressão crescente, segundo analistas.

Mas, apesar dos obstáculos, Robert Floyd, o novo secretário executivo da organização encarregada do tratado, insiste que o acordo já estabeleceu "um padrão global contra testes".

"O CTBT, embora não tenha entrado em vigor, é um grande sucesso", declarou à AFP o australiano de 63 anos em seu escritório em uma torre da ONU em Viena.

Antes de o tratado ser aberto para ratificação em 24 de setembro de 1996, mais de 2.000 testes nucleares haviam sido realizados em todo o mundo e, desde então, apenas alguns foram realizados pela Índia, Paquistão e Coreia do Norte, apontou Floyd.

O primeiro teste nuclear foi realizado no deserto do Novo México em 16 de julho de 1945.

"Estamos muito melhores agora (...) O único país a realizar testes neste século é a Coreia do Norte".

Para garantir a ausência de testes nucleares, a agência, cujo orçamento anual gira em torno de 130 milhões de dólares, instalou mais de 300 estações de monitoramento em todo o mundo, capazes de detectar até a menor explosão em tempo real.

Faltam oito assinaturas

Na prática, o tratado restringe a proliferação nuclear "ao tornar os testes um tabu", explicou Jean-Marie Collin, do escritório francês da Campanha Internacional para Proibir as Armas Nucleares.

Outros países continuam a aderir, com Cuba sendo o último a assinar o tratado e Comores o último a ratificá-lo em fevereiro. No total, 170 ratificaram.

Entre as potências nucleares, Rússia, França e Reino Unido ratificaram por considerarem que possuem programas de simulação suficientemente avançados.

Os que não assinaram são Egito, Índia, Irã, Israel e Paquistão, além de China, Coreia do Norte e Estados Unidos.

Floyd disse que quer falar com esses países "sobre qual é o caminho que podemos seguir para ir de onde estamos agora a um ponto em que eles ratificariam (o tratado) para assim vermos uma proibição legalmente vinculativa".

Floyd não entrou em detalhes sobre como superar o prolongado impasse.

Assim que o tratado entrar em vigor, a organização poderá realizar inspeções.

Pressão crescente

Em Washington, ninguém ousou, desde o ex-presidente Bill Clinton, submeter o texto ao Congresso, porque os republicanos se opõem formalmente à sua assinatura, segundo Emmanuelle Maitre, da Fundação para Pesquisa Estratégica.

A China, por sua vez, afirma esperar pelos Estados Unidos.

"E é difícil ver como a Coreia do Norte pode aderir ao CTBT se os Estados Unidos e a China não o fizerem", disse Maitre à AFP.

No entanto, Collin acredita que a pressão sobre esses oito países está crescendo.

"Nos últimos anos, os países não nucleares pediram mais assertividade com os não signatários", apontou Collin.

Outro acordo nuclear da ONU, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, entrou em vigor em janeiro.

O pacto ratificado por 54 nações proíbe a produção e processamento de armas nucleares ou outros artefatos explosivos nucleares.

Para Floyd, é "um sinal de crescente frustração entre os países sem essas armas que querem ver mais progresso no desarmamento nuclear".

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação