As principais autoridades da Defesa dos Estados Unidos reconheceram, ontem, que a rápida tomada de controle do Talibã no Afeganistão as pegou “de surpresa” e expressaram preocupação com o fato de o regime islâmico continuar associado à rede terrorista Al-Qaeda. “Ajudamos a construir um Estado, mas não conseguimos construir uma nação”, disse o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, em audiência perante o Comitê das Forças Armadas do Senado sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão e o resgate de civis. “O fato de o Exército afegão, que nós e nossos parceiros treinamos, simplesmente ter se desvanecido, em muitos casos sem um único disparo, pegou todos nós de surpresa”, disse ele. “Seria desonesto afirmar o contrário.”
Por sua vez, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, observou que os Estados Unidos não tiveram uma “avaliação completa do moral e da vontade da liderança” das Forças Armadas do Afeganistão. “Podemos contar todos os aviões, caminhões, veículos e armas e tudo mais”, afirmou Milley. “Mas não podemos medir o coração humano com uma máquina”, apontou. O general americano também disse que o Talibã “era e continua a ser uma organização terrorista e que ainda não rompeu os laços com a Al-Qaeda”. “Resta saber se o Talibã pode ou não consolidar o poder ou se o país se dividirá em uma nova guerra civil.”
Monarquia
Os talibãs anunciaram que adotarão, de forma temporária, a Constituição monárquica de 1964, que concedia às mulheres o direito ao voto. Por meio de um comunicado, o ministro da Justiça em exercício, Mawalvi Abdul Hakim Sharaee, afirmou que os islâmicos pretendem adotar a Constituição usada durante um efêmero período de monarquia constitucional no Afeganistão, mas apenas temporariamente e com emendas. O texto foi compilado pelo rei Mohammed Zahir Shah. No entanto, Sharaee avisou que tudo o que entrar em conflito com a sharia (lei islâmica) e com os princípios do Emirado Islâmico do Afeganistão será descartado. Também ontem, o novo reitor da Universidade de Cabul, o talibã Mohammad Ashraf Ghairat, afirmou que as mulheres estarão proibidas de lecionar ou de assistir a aulas na instituição “até que um ambiente islâmico seja criado”.
“Resta saber se o Talibã pode ou não consolidar o poder ou se o país se dividirá em uma nova guerra civil”
General Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA
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