O Japão terá um novo primeiro-ministro a partir de segunda-feira, quando a Dieta Nacional (Câmara Baixa do Parlamento) se reunirá para confirmar o nome do ex-chanceler Fumio Kishida, eleito ontem líder do governista Partido Liberal Democrático (PLD, de direita). Kishida, 64 anos, obteve 257 votos no segundo turno da eleição interna do PLD e superou Taro Kono — o político de 58 anos, famoso por encampar a vacinação contra a covid-19, conquistou o respaldo de 170 dirigentes do partido.
Com isso, o sucessor do atual premiê, Yoshihide Suga, terá o desafio de comandar o PLD nas eleições gerais, agendadas para novembro. Em 3 de setembro, Suga anunciou a desistência de disputar a eleição interna do partido, o que implica no abandono do cargo de chefe de governo. Outras duas candidatas, a direitista Sanae Takaichi e a feminista Seiko Noda, foram eliminadas no primeiro turno.
Subdiretora do Programa de Liderança Estratégica EUA-Japão do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, em Washington), Yuko Nakano afirmou ao Correio que esta foi a segunda candidatura de Kishida ao posto de premiê, depois de perder para Suga na corrida pela liderança do PLD, em 2020. “Desta vez, Kishida foi o primeiro a formalmente anunciar a candidatura, antes mesmo de Suga revelar a intenção da renúncia, e fez uma campanha bastante organizada. Com base em sua experiência como ex-chefe do Conselho de Política do PLD, Kishida não somente tem vasto conhecimento sobre o debate eleitoral, mas também domina o funcionamento interno do partido, o que o ajudou a angariar apoio entre os legisladores”, explicou.
Segundo Nakano, além de habilidades como construtor de consensos, Kishida sabe trabalhar com a burocracia. O próximo premiê foi ministro das Relações Exteriores entre dezembro de 2012 e agosto de 2017, durante o governo de Shinzo Abe. “Ao mesmo tempo, em sua tentativa de angariar apoio de figuras-chave do PLD e de grupos mais amplos dentro da legenda, Kishida pareceu ocasionalmente indeciso. Agora que seu nome está definido como futuro primeiro-ministro, veremos como ele comandará a coalizão governista na iminente eleição para a Câmara Baixa”, comentou a estudiosa.
Pandemia
Nakano aposta que a prioridade de Kishida será o combate à pandemia da covid-19. Ela lembra que, nesse sentido, o novo líder do PLD propôs um grande pacote de estímulo econômico para mitigar os efeitos da crise sanitária. Até o fechamento desta edição, o Japão contabilizava 1,7 milhão de casos de infecção pelo Sars-CoV-2 e 17.622 mortes. “Em relação à política fiscal, Kishida defendeu a adoção de uma ‘nova forma de capitalismo’, a fim de abordar as disparidades de renda. No que diz respeito às políticas externa e de defesa, prevejo a continuidade do panorama estratégico delineado por Abe e levado adiante por Suga. Kishida pretende fortalecer a liderança do Japão na proteção aos direitos humanos e da democracia.”
Assim que ocupar o Kantei — local de trabalho e residência oficial do premiê — Kishida terá pela frente vários desafios. Ele precisará lidar com a recuperação econômica pós-pandemia e com as ameaças da Coreia do Norte.
Falta carisma, sobra consenso
Aos 64 anos, o ex-ministro das Relações Exteriores é uma figura pouco carismática, mas conhecida pelo caráter de consenso. Herdeiro político do pai e do avô, é deputado por Hiroshima (oeste do Japão) na Câmara Baixa, desde 1993. Chanceler do governo de Shinzo Abe entre 2012 e 2017, Fumio Kishida (foto) é adepto do desarmamento nuclear. Em 2016, trabalhou pela visita de Barack Obama a Hiroshima — a primeira de um presidente dos EUA em exercício à cidade devastada pela bomba atômica. Ao mesmo tempo, aposta em reativar a produção de energia nuclear com fins civis. Kishida prometeu plano fiscal para acelerar a recuperação econômica e reduzir as desigualdades. Nas questões sociais, mostra-se conservador e se opõe à união gay.
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