Papa Francisco

Na Eslováquia, papa pede fraternidade que atravesse fronteiras na Europa

Em uma visita oficial, o papa Francisco fez um apelo para que a "fraternidade" promova a integração nesse momento pós pandemia

Em visita oficial até quarta-feira (15) na Eslováquia, o papa Francisco fez um apelo, nesta segunda-feira (13), por uma "fraternidade" que atravessasse fronteiras na Europa, no momento em que o Velho Continente busca reativar sua economia após a pandemia da covid-19.

"Fraternidade é do que precisamos para promover uma integração cada vez mais necessária", disse o papa argentino ao falar perante as autoridades políticas e civis da Eslováquia.

"Esta (fraternidade) é urgente agora, num momento em que, depois de meses muito duros de pandemia, se apresenta, junto com muitas dificuldades, uma esperada reativação econômica, favorecida pelos planos de recuperação da União Europeia", afirmou.

O papa chegou no domingo (12) a Bratislava, após uma escala em Budapeste, na Hungria, onde teve um encontro a portas fechadas com o líder Viktor Orban.

No início do ano, a Eslováquia registrou uma das mais elevadas taxas mundiais, por habitante, de contágio e de mortalidade por covid-19. Desde o início da pandemia do coronavírus, este pequeno território de 5,4 milhões de habitantes acumula mais de 12.000 mortes.

Francisco se referiu à história da Eslováquia como uma "mensagem de paz", destacando o nascimento "sem conflitos" de dois países independentes há 28 anos: a República Tcheca e a Eslováquia.

"Que este país (...) reafirme sua mensagem de integração e de paz, e que a Europa se distinga por uma solidariedade que, atravessando as fronteiras, possa levá-la de volta ao centro da história", pediu.

Em novembro de 2020, o sumo pontífice publicou uma encíclica intitulada "Fratelli tutti" (Todos Irmãos). Nela, clama por um mundo mais solidário com os mais fracos para romper o "dogma neoliberal".

Nesta segunda-feira, Francisco reiterou que, em um mundo totalmente interconectado, "ninguém pode se isolar, seja como indivíduo, ou como nação", o que é, no seu entender, a grande lição da pandemia da covid-19.

Defensor de um "mundo novo" e "mais justo" no pós-pandemia, o papa disse acreditar que o futuro deve incluir a "luta contra a corrupção" e o direito ao trabalho.

Pediu aos eslovacos, que já viveram sob um regime comunista (um pensamento único que "restringia a liberdade", conforme Francisco), que não se deixem levar por outra ideologia "vazia de sentido": o individualismo.

No final de 2020, a Eslováquia adotou medidas para eliminar a corrupção no Poder Judiciário, uma anunciada prioridade do governo de centro-direita eleito neste mesmo ano, após a onda de protestos pelo assassinato de um jornalista em 2018.

O país elegeu um novo governo na primavera (outono no Brasil), o que encerrou uma crise política desencadeada pela decisão do anterior primeiro-ministro de comprar vacinas russas anticovid-19 Sputnik V.

 

'Vergonha' por massacre de judeus eslovacos

O papa Francisco também expressou sua "vergonha" pela matança de judeus eslovacos e lamentou que o nome de Deus tenha sido usado "na loucura do ódio" durante a Segunda Guerra Mundial.

Em um discurso à pequena comunidade judaica da Eslováquia, em um lugar onde antes havia uma sinagoga destruída pelo comunismo, Francisco condenou todas as formas de antissemitismo.

"O nome de Deus foi desonrado. Na loucura do ódio, durante a Segunda Guerra Mundial, mais de 100 mil judeus eslovacos foram assassinados. E, depois, quando quiseram apagar os vestígios da comunidade, aqui a sinagoga foi demolida", condenou o papa.

"Aqui, ante a história do povo judeu, marcada por esta trágica e indescritível afronta, nos envergonhamos de admitir: quantas vezes o nome inefável do Altíssimo foi usado para realizar ações que, por sua falta de humanidade, são indizíveis! Quantos opressores declararam: 'Deus está conosco', mas eram eles que não estavam com Deus", frisou.

Francisco pediu que todos estejam "unidos" na "condenação de toda a violência, de toda a forma de antissemitismo".

Após a criação em 1939 da primeira República Eslovaca, um país satélite totalitário da Alemanha nazista, várias leis antissemitas foram usadas para deportar dezenas de milhares de judeus eslovacos.

Hoje, a comunidade conta apenas com cerca de 2.000 membros. Menos de 300 sobreviventes da guerra permanecem no país.

Três dias antes da chegada do papa, Bratislava se desculpou formalmente pelo sombrio legado da época do presidente Jozef Tiso, um padre católico que concordou em enviar milhares de judeus para os campos de extermínio alemães.

 

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