Migração

Cansados e assustados, migrantes se escondem em florestas do leste europeu

Presos entre os guardas poloneses e bielorrussos, muitos migrantes são forçados a vagar nas florestas da região. Pelo menos 6 pessoas morreram de frio, fome ou exaustão até agora

Agência France-Presse
postado em 01/10/2021 10:24 / atualizado em 01/10/2021 10:24
 (crédito: Dario THUBURN / AFP)
(crédito: Dario THUBURN / AFP)

Com as mãos trêmulas de medo e exaustão, Hadi, um iraquiano de 19 anos, se prepara para uma noite fria em uma floresta polonesa, depois de cruzar a fronteira leste da UE a partir de Belarus.

Este jovem explicou à AFP na quinta-feira que era a terceira vez que cruzava a fronteira europeia, depois que agentes poloneses o devolveram duas vezes ao território bielorrusso nas últimas semanas.

Hadi é um dos milhares de migrantes, a maioria deles do Oriente Médio, a tentar cruzar essa fronteira de 400 quilômetros desde o início de agosto.

O jovem iraquiano tremia em seu saco de dormir, colocado em uma densa área de arbustos em uma floresta no leste da Polônia. Na cabeça, um gorro rosa com a palavra "LOVED".

"Eles nos forçaram a recuar e nos disseram: 'Não voltem aqui. Voltem para Belarus'", disse ele sobre o tratamento recebido dos guardas poloneses. "Estou cansado e preocupado", acrescentou.

Hadi, que pediu para não usar seu sobrenome publicamente, está acompanhado por dois outros amigos iraquianos, Ali e Ameer, com quem compartilhou a viagem.

Ali usava uma faixa multicolorida e Ameer um boné de beisebol. Todos os três fazem parte da comunidade LGBTQIA+ iraquiana, que está sob forte pressão em seu país.

Eles afirmam que fugiram do Iraque porque eram perseguidos por terem se manifestado a favor dos direitos dos homossexuais.

"Meses depois das manifestações, eles começaram a nos ameaçar", disse Hadi, que diz ter "vivido escondido durante um ano inteiro" em seu país.

Advertência europeia

A comissária europeia para Assuntos Internos, Ylva Johansson, viajou para Varsóvia na quinta-feira para discutir com seu colega polonês a chegada de migrantes através da fronteira com Belarus.

"Salientei a importância de mostrar que a União Europeia não age como Belarus. Temos outros valores", afirmou Johansson em declarações à imprensa.

A UE suspeita que Belarus facilita a chegada de migrantes à Polônia, em retaliação às sanções europeias contra os líderes bielorrussos. Mas Minsk nega essas acusações.

A Polônia enviou milhares de soldados para a fronteira, instalou arame farpado e decretou estado de emergência de três meses na área, evitando que jornalistas e organizações humanitárias entrassem nos territórios fronteiriços.

Na quinta-feira, seu Parlamento prorrogou por 60 dias essas medidas excepcionais declaradas no início do mês.

Seu ministro do Interior indicou que 11.500 pessoas tentaram cruzar a fronteira desde o início do ano.

ONGs, como a Anistia Internacional, acusaram o governo de impedir os migrantes de apresentarem os seus pedidos de asilo e de os obrigar a regressar ao território bielorrusso.

Questionado sobre isso na semana passada, o vice-ministro do Interior, Maciej Wasik, apontou que a Polônia usa "todos os meios legais" para proteger sua fronteira.

Presos entre os guardas poloneses e bielorrussos, muitos migrantes são forçados a vagar pelas densas florestas da região. Pelo menos seis pessoas morreram de frio, fome ou exaustão até agora.

O governo polonês quer modificar as leis nacionais para acelerar a devolução de migrantes e ignorar seus pedidos de asilo.

A comissária Johansson disse que esta proposta levanta "muitas questões" e apelou à "transparência na proteção das fronteiras externas da UE".

"Não somos a polícia"

No fundo dessa densa floresta, os jovens iraquianos evitaram os guardas de fronteira e comunicaram sua posição às ONGs.

Representantes do grupo de direitos humanos Homo Faber conseguiram encontrá-los após uma longa viagem por trilhas acidentadas.

"Proteção internacional!", gritaram Anna Dabrowska e Piotr Skrzypczak, encarregados da alimentação e roupas, enquanto procuravam os migrantes.

Quando os encontraram, Dabrowska tranquilizou-os: "Não somos a polícia, não se preocupem". "Vocês estão na Polônia", acrescentou Skrzypczak.

Os ativistas ofereceram-lhes assistência jurídica e propuseram apresentar em seu nome um pedido ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para permanecer na Polônia.

As autoridades de fronteira afirmam ter impedido mais de 8.200 migrantes de entrar na Polônia desde o início de agosto. Outros 1.200 conseguiram cruzar a fronteira, mas atualmente estão detidos.

Questionada sobre o número de migrantes ajudados, Dabrowska aponta que "é difícil dar uma estimativa, pois muitas vezes são as mesmas pessoas que tentam fazer a travessia repetidamente".

"Essas pessoas voltam para Belarus e tentam entrar novamente na Polônia", afirma.

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