Prêmio Nobel

Dois especialistas em clima e um teórico vencem Nobel de Física

Nos últimos dois anos, a Real Academia Sueca de Ciências premiou descobertas no âmbito da astronomia

Agência France-Presse
postado em 05/10/2021 08:51 / atualizado em 05/10/2021 11:38
 (crédito: Jonathan NACKSTRAND / AFP)
(crédito: Jonathan NACKSTRAND / AFP)

O Prêmio Nobel de Física de 2021 foi atribuído nesta terça-feira (5) a dois especialistas em modelos físicos da mudança climática, o nipo-americano Syukuro Manabe e o alemão Klaus Hasselmann, e ao teórico italiano Giorgio Parisi, especialista na desordem nos sistemas complexos.

Esta é a primeira vez desde 1995, quando a categoria Química premiou pesquisas sobre o buraco na camada de ozônio, que um Nobel científico homenageia trabalhos diretamente relacionados à mudança climática, mas em um contexto de emergência completamente diferente.

Os especialistas em meteorologia Syukuro Manabe, nascido no Japão há 90 anos mas residente em Princeton, nos Estados Unidos, e Klaus Hasselmann, de 89, receberão metade do prêmio "pela modelagem física do clima da Terra e por terem quantificado a variabilidade e previsto de forma confiável a mudança climática", anunciou o júri.

O Comitê Nobel premiou assim a obra fundacional de Manabe sobre o efeito estufa nos anos 1960, com os quais mostrou que os níveis de CO2 na atmosfera correspondiam ao aumento da temperatura na Terra.

Radicado em Hamburgo (norte da Alemanha), Hasselmann foi reconhecido por ter conseguido estabelecer modelos climáticos confiáveis, apesar das grandes variações meteorológicas.

Previsão de 1988

O cientista alemão adverte desde 1988 para uma mudança climática "irreversível", recordou o instituto alemão Max Planck, onde ele trabalhava.

"Dentro de 30 a 100 anos, dependendo da quantidade de energia fóssil que consumirmos, enfrentaremos uma mudança climática muito significativa", afirmou Hasselmann há mais de três décadas.

A apenas um mês da COP26, reunião de cúpula mundial sobre o clima que acontecerá em Glasgow (Reino Unido), o prêmio concedido a dois especialistas em meteorologia e climatologia terá um forte eco político.

"Os líderes mundiais que ainda não entenderam a mensagem, não tenho certeza se eles vão entender porque nós estamos falando. Mas este é um prêmio Física e o que estamos dizendo é que a modelagem do climática está solidamente baseada na Física", destacou Thors Hans Hansson, membro do Comitê Nobel.

Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU venceram o Nobel da Paz em 2007. O prêmio de 2021 é o primeiro Nobel de Física que premia pesquisas sobre o clima.

A outra metade do prêmio foi atribuída a Parisi, de 73 anos e radicado em Roma, "pela descoberta da interação da desordem e das flutuações nos sistemas físicos: da escala atômica à planetária".

"Acredito que é muito urgente que tomemos decisões muito fortes (a favor do clima). Está claro que devemos atuar de maneira rápida e sem demora a favor das gerações futuras", afirmou o italiano durante uma entrevista coletiva por telefone com a Fundação Nobel.

Os três premiados dividirão 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de dólares) do prêmio com a seguinte proporção: 50% para o italiano Parisi e a outra metade em partes iguais entre Manabe e Hasselmann.

"Grande notícia"

Em Genebra, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmou que esta é uma "grande notícia".

"Isto demonstra novamente que a ciência climática é muito bem avaliada e deve ser fortemente valorizada", declarou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

No ano passado, o prêmio reconheceu o britânico Roger Penrose, o alemão Reinhard Genzel e a americana Andrea Ghez, pioneiros na pesquisa sobre "buracos negros", as regiões do universo de onde nada pode escapar.

Os físicos quânticos, como Parisi, apareciam nas listas de possíveis premiados dos analistas entrevistados pela AFP, mas dezenas de cientistas de todo mundo eram considerados potenciais vencedores do Nobel.

O Prêmio de Medicina abriu a temporada do Nobel de 2021, com a vitória do americanos David Julius e Ardem Patapoutian, por trabalhos que abriram o caminho para o combate às dores crônicas.

Na quarta-feira será a vez do prêmio de Química, seguido pelo de Literatura na quinta-feira, e do Nobel da Paz, na sexta.

Com a crise sanitária provocada pela pandemia, pelo segundo ano consecutivo os vencedores receberão o prêmio em seus países de residência, mas ainda há uma pequena expectativa de que o vencedor do Nobel da Paz possa comparecer a uma cerimônia em Oslo.

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