Iraque

Iraque realiza eleições antecipadas com poucas esperanças de mudança

As eleições estão sendo realizadas com um ano de antecedência como uma concessão às manifestações que eclodiram em 2019 lideradas por jovens

Agência France-Presse
postado em 08/10/2021 09:19 / atualizado em 08/10/2021 09:19
 (crédito: Ismael ADNAN / AFP)
(crédito: Ismael ADNAN / AFP)

Os iraquianos realizam, no domingo (10), eleições parlamentares, convocadas com antecedência como uma concessão aos protestos contra o governo há dois anos, mas das quais não são esperadas grandes mudanças no país.

O primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al-Kazimi, aposta seu futuro político nas urnas, mas poucos especialistas ousam prever quem ocupará seu lugar, após as negociações sombrias que costumam ocorrer depois das eleições.

A votação lançará um novo sistema eleitoral de círculos eleitorais uninominais para eleger os 329 deputados, os quais devem favorecer candidatos independentes em detrimento dos blocos políticos tradicionais baseados em afiliações religiosas, étnicas, ou de clãs.

As eleições estão sendo realizadas com um ano de antecedência como uma concessão às manifestações que eclodiram em 2019, liderados por jovens enfurecidos com a corrupção, o desemprego e a precariedade dos serviços públicos.

Centenas de pessoas morreram durante esses protestos e, nos meses seguintes, dezenas foram assassinadas, sequestradas, ou intimidadas, em ações que os manifestantes atribuem a facções pró-iranianas.

Muitos ativistas pediram um boicote das eleições, que podem registrar uma abstenção recorde entre 25 milhões de eleitores.

Os especialistas preveem que os principais partidos continuarão agarrados ao poder.

"É difícil que (a votação) sirva como um agente de mudança", diz Ramzy Mardini, do Instituto Pearson, da Universidade de Chicago.

"As eleições deveriam ser um sinal de reforma, mas, ironicamente, aqueles que defendem a reforma optam por não participar (...) em protesto contra o status quo", acrescenta.

Insegurança

Há muito tempo castigado pela guerra, o Iraque está falido pela corrupção e pela crise econômica, com um terço de sua população na pobreza, apesar dos abundantes recursos de petróleo.

A violência aumenta, em meio à proliferação de grupos armados e ao ressurgimento jihadista, apesar dos esforços para superar duas décadas de conflito.

Com grupos armados ligados aos principais blocos políticos, muitos iraquianos temem pela segurança após os resultados das urnas.

Na quarta-feira (6), uma dúzia de governos ocidentais, incluindo os Estados Unidos, pediu a "todas as partes que respeitem a aplicação da lei e a integridade do processo eleitoral".

ONU e União Europeia enviaram observadores.

A política iraquiana está profundamente polarizada em aspectos como a presença de tropas americanas, ou a influência do vizinho Irã.

E, mesmo em um Parlamento fragmentado de alianças voláteis, os blocos terão de superar suas diferenças para nomear um primeiro-ministro. A posição é normalmente reservada a um xiita, que representa 60% dos 40 milhões de habitantes, contra 32%-37% dos sunitas.

A designação "dependerá do nível de representação dos diferentes blocos, especialmente do lado xiita", diz o cientista político iraquiano Ali al-Baidar.

O especialista ressalta as ambições do movimento liderado pelo clérigo populista xiita Moqtada al-Sadr, ex-líder da milícia anti-EUA. Também conhecido por sua retórica anti-iraniana, Sadr aparece como favorito e aspira a ter aliberdade para escolher o primeiro-ministro.

As facções armadas pró-Irã da Hashd al-Shaabi também querem desempenhar um papel. Rivais xiitas de Sadr, elas entraram no Parlamento em 2018, um ano depois de ajudarem a derrotar o grupo Estado Islâmico.

No campo sunita, destaca-se o jovem e influente presidente do Parlamento, Mohamed al-Halbusi, que quer consolidar sua brilhante ascensão na política iraquiana.

Qualquer candidato deverá ter a bênção tácita de Teerã e Washington.

Distantes do jogo político, muitos iraquianos estão decepcionados com a classe dominante, a qual culpam pelos males do país.

Jawad, um homem mais velho que não quis revelar seu sobrenome, perdeu seu filho há dois anos, quando o governo usou a força para conter os protestos. Ele ainda espera por justiça e diz que não votará no domingo: "Meu filho foi assassinado pelas mesmas milícias que compõem o governo".

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