Obituário

Abolhassan Banisadr, primeiro presidente da República Islâmica do Irã, morre aos 88 anos

Banisadr, ex-colaborador do fundador da República Islâmica, o aiatolá Khomeini, foi eleito presidente em janeiro de 1980

Agência France-Presse
postado em 09/10/2021 11:56
 (crédito: Jerome Delay/AFP)
(crédito: Jerome Delay/AFP)

O primeiro presidente da República Islâmica do Irã, Abolhassan Banisadr, de 88 anos, que vivia refugiado na França desde 1981, morreu neste sábado (9) em um hospital de Paris.

"Depois de uma longa doença, Abolhassan Banisadr faleceu neste sábado no hospital" Pitié-Salpêtrière, na capital francesa, anunciou a agência oficial iraniana Irna, citando um amigo próximo do ex-chefe de Estado.

Sua família na França confirmou sua morte. "Queremos informar ao honorável povo do Irã e a todos os ativistas pela independência e liberdade que (...) Abolhasan Banisadr faleceu após uma longa doença", anunciou em um comunicado.

Banisadr, ex-colaborador do fundador da República Islâmica, o aiatolá Khomeini, foi eleito presidente em janeiro de 1980.

Dezessete meses depois, porém, foi destituído do cargo pelo Parlamento iraniano, quando suas relações com o falecido guia supremo se deterioraram. Desde então, viveu no exílio na França.

Banisadr era um moderado: defendia a liberdade, a democracia e um Islã liberal. Aos 17 anos, esse muçulmano praticante começou a militar nas fileiras da Frente Nacional, o movimento nacionalista do Dr. Mohammed Mossadegh, que lutava pela independência do Irã e pela nacionalização do petróleo.

Depois de estudar teologia, economia e sociologia, ele se tornou um ferrenho opositor do regime do xá. Procurado pela polícia, teve que fugir do Irã em 1963 e se estabeleceu em Paris. Em 1970 passou a defender a união da oposição iraniana em torno do imã Khomeini, exilado no Iraque.

Em outubro de 1978, Khomeini viajou para a França e Banisadr tornou-se parte de seu círculo íntimo. Referia-se a ele como "querido pai". Mais tarde, Banisadr lamentou não ter sido capaz de reconhecer o "gosto pelo poder" de Khomeini.

Retorno ao Irã

Banisadr estava a bordo do avião que levou o "guia da Revolução" de volta ao Irã em 1º de fevereiro de 1979. Depois de passar pelo ministério da Economia e ministério das Relações Exteriores, Banisadr tornou-se o primeiro presidente da República do Irã eleito por sufrágio universal em 26 de janeiro de 1980, com 76% dos votos.

Em 7 de fevereiro de 1980, o aiatolá Khomeini o nomeou presidente do Conselho Revolucionário.

Desde o início de seu mandato, Banisadr enfrentou imensas dificuldades: a questão dos reféns americanos, a guerra contra o Iraque, a situação no Curdistão, a crise econômica e, acima de tudo, a oposição dos clérigos fundamentalistas.

Comandante-chefe das Forças Armadas de 19 de fevereiro de 1980 a 10 de junho de 1981, ele reorganizou o Exército iraniano e passou grande parte de seu tempo lidando com a guerra com o Iraque.

Mas este teórico de uma "terceira via islâmica", respeitosa do regime democrático, finalmente teve que se curvar ao poder dos mulás.

Exílio

Depois de mais de um ano de conflito com certos membros do alto clero xiita e com o Partido da República Islâmica (maioria no Parlamento), o processo de democratização foi interrompido. Em 21 de junho de 1981, foi destituído pelo Parlamento por "incompetência política", com a aprovação de Khomeini.

Depois de se esconder por uma semana, ele foi colocado em um avião da Força Aérea sequestrado por um de seus apoiadores e fugiu para a França, onde recebeu asilo e proteção policial.

Em agosto de 1981, ele fundou o Conselho Nacional de Resistência Iraniana com outro líder exilado, Massoud Rajavi, da Organização dos Mujahidin do Povo, e representantes de comunidades minoritárias, como os curdos iranianos.

No entanto, Banisadr desentendeu-se com Rajavi e posteriormente deixou o conselho. Ele escreveu um livro acusando os aiatolás do Irã de conspirar para tomar o poder e testemunhou sobre os assassinatos de dissidentes iranianos que ele atribuiu aos mulás.

Banisadr vivia desde maio de 1984 em Versalhes, na região de Paris, sob proteção policial.

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