Um grande cemitério de Kunduz, no norte do Afeganistão, acolheu neste sábado (9) os funerais das vítimas do atentado que o grupo Estado Islâmico (EI) cometeu na véspera contra uma mesquita xiita da cidade e que deixou pelo menos 60 mortos.
Um coveiro informou à AFP que 62 sepulturas foram cavadas após o ataque, cujo saldo final pode se aproximar de uma centena de mortos.
Um homem-bomba do EI detonou seu colete explosivo na mesquita Sayed Abad, que estava lotada por ocasião da grande oração de sexta-feira.
De acordo com o grupo terrorista, o homem-bomba era conhecido como "Mohamed, o uigur", o que implica que fazia parte da minoria muçulmana chinesa, alguns de cujos membros se juntaram ao EI.
O Talibã, que agora governa todo o país, prometeu proteger todas as comunidades, mas os xiitas de Kunduz estão traumatizados com o ataque.
A comunidade xiita do país (10-20% da população) costuma ser alvo de grupos armados sunitas, que consideram os xiitas "hereges".
Um dia após o massacre, os pais de um jovem de 17 anos, Milad Hussein, compareceram ao funeral de seu filho, sem conseguir conter as lágrimas. Seu tio, Zemarai Mubarak Zada, garantiu que seu sobrinho queria ser médico, como ele.
"Ele era um jovem tranquilo, falava pouco", confidenciou seu tio à AFP. "Ele queria ir para a faculdade, se casar. Estamos arrasados".
Após uma oração, os coveiros enterraram o caixão, diante do olhar atento de seus parentes aflitos. Uma cena que se repetiu dezenas de vezes neste cemitério com vista para Kunduz.
"Assustador"
Imagens do ataque mostravam destroços espalhados dentro da mesquita, cujas janelas foram destruídas pela explosão.
Em outras fotos, vários homens aparecem carregando um corpo envolto em um lençol ensanguentado para uma ambulância. "Foi muito assustador", enfatizou um professor de Kunduz que mora perto da mesquita.
"Muitos de nossos vizinhos morreram ou ficaram feridos. Um jovem de 16 anos perdeu a vida e eles não conseguiram encontrar metade de seu corpo", acrescentou.
Aminullah, cujo irmão estava na mesquita, contou que quando ouvi a explosão ligou para meu irmão, "mas ele não respondeu".
"Fui à mesquita e o vi ferido e desmaiado. Rapidamente o levamos para o hospital da MSF [Médicos Sem Fronteiras]", explicou.
Para Michael Kugelman, especialista em Sudeste Asiático do gabinete Woodrow Wilson International Center for Scholars, será difícil para o Talibã consolidar seu poder se não abordar a questão do terrorismo e da crescente crise econômica no país.
"Se o Talibã, como é provável, não for capaz de lidar com essas preocupações, terá dificuldade em obter legitimidade interna e poderemos testemunhar o surgimento de uma nova resistência armada", disse à AFP.
Enquanto isso, neste sábado, os Estados Unidos participam de seu primeiro encontro face a face com o Talibã desde a retirada de suas tropas, em reunião em Doha.
A delegação americana vai pressionar o Talibã para garantir que os terroristas não criem uma base para ataques no país, segundo informou um funcionário do Departamento de Estado.
Os novos governantes do Afeganistão também serão pressionados a formar um governo inclusivo e a respeitar os direitos das mulheres e meninas, acrescentou a autoridade, ressaltando que o fato de esta reunião estar sendo realizada não significa que Washington reconheça o governo talibã.
"Qualquer legitimidade deve ser conquistada por meio das próprias ações do Talibã", disse ele.
Os fundamentalistas islâmicos buscam reconhecimento internacional e ajuda estrangeira para prevenir um desastre humanitário e aliviar a crise econômica do Afeganistão.
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