Migrantes

Quase 20 mil crianças cruzaram a selva entre Colômbia e Panamá para os EUA

A selva de Darien, de 266 km, tornou-se um corredor para migrantes que, da América do Sul, tentam cruzar a América Central e o México a caminho dos Estados Unidos

Agência France-Presse
postado em 11/10/2021 12:32 / atualizado em 11/10/2021 12:32
 (crédito: Raul ARBOLEDA / AFP)
(crédito: Raul ARBOLEDA / AFP)

Em torno de 19 mil crianças migrantes cruzaram este ano a selva inóspita e perigosa do Darien, entre a Colômbia e o Panamá, a caminho dos Estados Unidos - alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), nesta segunda-feira (11).

"O número de crianças migrantes que cruzaram a selva de Darien a pé atingiu seu máximo histórico", apesar de ser "um dos lugares mais perigosos para os migrantes que tentam chegar à América do Norte", informa um relatório do Unicef.

O fluxo de crianças "até agora este ano é quase três vezes maior que o registrado nos cinco anos anteriores somados", acrescentou o Fundo.

A selva de Darien, de 266 km, tornou-se um corredor para migrantes que, da América do Sul, tentam cruzar a América Central e o México a caminho dos Estados Unidos.

Em meio a uma densa vegetação que às vezes dificulta a visão do sol, a viagem é cheia de perigos, com animais selvagens - até cobras venenosas -, rios caudalosos e grupos criminosos.

Mais de 91 mil migrantes passaram pela floresta virgem, de 575 mil hectares, em 2021, segundo o cadastro atualizado até outubro do Sistema Nacional de Migração do Panamá. Este número equivale ao total dos cinco anos anteriores.

Eles são, em sua maioria, haitianos e cubanos, embora também haja cidadãos de vários países da Ásia e da África.

Segundo o Unicef, um em cada cinco desses migrantes é criança, principalmente do Haiti, ou de pais haitianos, que os tiveram durante estadas no Chile, ou no Brasil. Metade dos 19 mil tem menos de cinco anos.

"É um aumento vertiginoso e sem precedentes. Nunca registramos, ou vimos um número tão alto" de crianças migrantes cruzando o Darien, disse à AFP o chefe de comunicação regional do Unicef para a América Latina e o Caribe, Laurent Duvillier.

Morte, abusos sexuais e doenças

A agência da ONU alertou sobre os enormes perigos que enfrentam na viagem e observou que muitos sofrem de diarreia, doenças respiratórias, desidratação e outras doenças que requerem atenção médica imediata.

"Semana após semana, mais crianças morrem, perdem seus pais, ou são separadas de seus parentes durante esta viagem perigosa. É espantoso que grupos criminosos se aproveitem dessas crianças", afirmou o diretor do Unicef para a América Latina e o Caribe, Jean Gough.

Entre janeiro e setembro de 2021, o Unicef registrou 20 casos de abuso sexual de meninas e adolescentes. Além disso, há muito mais mulheres que denunciaram abusos durante a viagem.

"Há relatos alarmantes sobre o aumento no número de assédio sexual de meninas, às vezes muito jovens, com 11 anos de idade", relatou Duvillier.

"Nas profundezas da selva, roubos, estupros e tráfico de seres humanos são tão perigosos quanto animais selvagens, insetos e a total falta de água limpa", acrescentou Gough.

O Unicef também alertou sobre um aumento do número de crianças que cruzam Darien sozinhas. Em 2020, oito crianças estavam desacompanhadas, contra 153, em 2021.

"A maioria não viaja sozinha, viaja acompanhada dos pais, mas acontece muita coisa no caminho pela selva. Às vezes, os pais ficam para trás, a mãe se machuca, ou se separam na travessia de um rio", explicou.

O "fluxo crescente" de crianças migrantes "deve ser tratado com urgência, como uma grave crise humanitária em toda região", frisou.

O Unicef também exortou os governos a garantirem a proteção das crianças durante a viagem e a coordenarem uma resposta humanitária entre todos os países envolvidos.

O Fundo defendeu ainda a promoção da integração das famílias de migrantes nas comunidades de acolhimento e a abordagem das causas da migração.

"Esta é uma crise de magnitude regional que requer uma resposta humanitária coordenada", concluiu Duvillier.

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