Iraque

Seria Moqtada Sadr o único com a chave do governo no Iraque?

Em declarações feitas após as eleições, Moqtada Sadr criticou "a resistência", que é como são chamados os aliados armados do Irã no Oriente Médio

Agência France-Presse
postado em 14/10/2021 11:22 / atualizado em 14/10/2021 11:30
 (crédito: AHMAD AL-RUBAYE / AFP)
(crédito: AHMAD AL-RUBAYE / AFP)

O influente líder xiita Moqtada Sadr diz há meses que será ele que vai escolher o novo primeiro-ministro iraquiano, e seu avanço nas eleições parece dar-lhe razão. Para isso, no entanto, precisará negociar com o grupo pró-Irã Hashd al Shaabi, apesar de sua derrota eleitoral.

Embora o movimento de Moqtada Sadr tenha ficado em primeiro nas eleições legislativas de 10 de outubro - segundo os resultados preliminares -, com mais de 70 das 329 cadeiras no Parlamento, o partido do líder xiita está longe de ser o único com o poder de nomear o novo chefe de governo iraquiano.

"Os resultados dão a Sadr o controle sobre o plano político e para as negociações, mas esse não é o único fator importante", destacou Renad Mansur, do "think tank" Chatham House.

Sendo assim, Moqtada Sadr terá de dialogar com os ex-paramilitares pró-Irã do Hashd al Shaabi, seus rivais.

De maioria xiita, este partido perdeu mais da metade de seus 48 deputados, segundo os resultados preliminares, mas conta com o peso conferido por seus mais de 160.000 membros armados integrados no Exército e por sua proximidade com Teerã.

Outrora reduto pró-Irã e sócio do Hashd, o ex-primeiro-ministro Nuri al Maliki (2006-2014) surpreendeu ao obter quase 30 cadeiras, que reforçaram sua presença no hemiciclo.

"Ameaças, violência"

Em declarações feitas após as eleições, Moqtada Sadr criticou "a resistência", que é como são chamados os aliados armados do Irã no Oriente Médio.

"As armas devem estar nas mãos do Estado, seu uso à margem desse marco deve estar proibido. Mesmo para aqueles que se reivindicam parte da resistência", afirmou, referindo-se ao Hashd.

Criado em 2014 para lutar contra o grupo Estado Islâmico, o Hashd al Shaabi (Forças de Mobilização Popular) entrou no Parlamento em 2018.

O Hashd conserva "um poder coercitivo, que será utilizado nas negociações", apontou Renad Mansur, sem descartar que ambos os lados recorram "às ameaças, ou talvez à violência".

A força do Hashd no Parlamento, a Aliança da Conquista, rejeitou os resultados das eleições e prometeu recorrer.

"Essas eleições são as piores que o Iraque já viu desde 2003", quando o ditador Saddam Hussein foi derrubado, declarou Hussein Muenes, líder do jovem partido Huquq.

Vitrine política das Brigadas do Hezbollah, uma influente facção do Hashd, o Huquq obteve apenas uma cadeira, apesar de ter apresentado 32 candidatos.

O porta-voz militar dessa facção acusou o primeiro-ministro, Mustafá al Kazimi, de ser o "padrinho" de uma "fraude eleitoral" que teria beneficiado, principalmente, um partido recém-criado que se reivindica como fruto da revolta popular de 2019.

Mas o Hashd vai se contentar com estar na oposição? Para o cientista político Ali al Baidar, isso é pouco provável. "A política iraquiana não tem cultura de oposição. Todo mundo quer sua parte do poder", afirmou.

"A Aliança não quer que os grupos armados tenham que prestar contas. Para eles, é muito difícil existir fora dos círculos do poder", acrescentou.

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