A rainha lançou a carapuça
Foi graças à indiscrição de um microfone que uma observação algo contundente da rainha Elizabeth II veio a público e, agora, paira como carapuça sobre a cabeça de chefes de Estado e de governo pelo mundo afora. A pouco mais de duas semanas da COP26 — a conferência em que serão discutidas as medidas necessárias para enfrentar as mudanças climáticas —, a soberana conversava em particular com a nora Camilla, mulher de Charles, o príncipe herdeiro. Sem a fleuma que desfila quando fala em público, fuzilou os governantes que “falam (sobre o clima), mas não agem”.
Como chefe de Estado, Elizabeth II é anfitriã “honorária” da conferência, que começa no dia 31, na Escócia. E fez menção também à pendência de confirmação da presença de, ao menos, três líderes de países que estão entre os grandes emissores de gases causadores do efeito estufa: China, Índia e Rússia. “Sabemos quem não vem”, disparou.
O presidente Jair Bolsonaro não irá. E contrariou a pretensão do vice, o general Hamilton Mourão, que preside o Conselho da Amazônia Legal e se apresentou para representá-lo em Glasgow. Há uma semana, reunido com chefes de Estado dos países amazônicos, o general chamou a atenção para o que classificou como “pressões sem bases científicas” sobre os governos da região para que contenham o desmatamento. O Brasil será representado na COP26 pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
O príncipe emendou
A família real britânica coleciona intervenções públicas recheadas de preocupações ambientais, e elas se sucederam nos últimos dias. Charles, o herdeiro do trono, pediu “mãos à obra”. Seu filho mais velho, William, segundo na linha de sucessão, reforçou a cobrança e a estendeu aos magnatas e personalidades que protagonizam a corrida do turismo espacial. Sugeriu que se dediquem a “consertar este planeta, em vez de procurar outro lugar para viver”.
Missão (quase) impossível
Escolhido como emissário por Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente voará para a Escócia com a tarefa de reparar a imagem externa do país na frente ambiental. Até a assinatura do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, em 2015, o Brasil era visto pelas principais potências como um dos protagonistas do processo e um parceiro indispensável.
A disparada do desmatamento e das queimadas, sobretudo no atual governo, se somou a indicações como o afastamento do diretor do Inpe, Ricardo Galvão, ainda em 2019 — por conta de um relatório que atestava a situação, e desagradou o presidente. O afastamento, em junho passado, de Ricardo Salles, titular do Meio Ambiente e acusado de favorecer madeireiras, não ajudou a melhorar as impressões externas sobre o governo.
Fica para outra vez
Não será desta vez que Bolsonaro terá o primeiro tête-à-tête com Joe Biden. O presidente dos EUA confirmou presença na COP26 e deve levar na bagagem uma lista longa e consistente de propostas para acelerar a transição da economia para a era pós-carbono. Biden, por sinal, reverteu a decisão do antecessor, Donald Trump, que havia retirado o país do Acordo de Paris.
Para a diplomacia brasileira, a participação do presidente americano pode dar pistas sobre as relações bilaterais para além do desencontro público e notório sobre a agenda ambiental. A recente movimentação no Capitólio em favor de deixar Bolsonaro “no gelo” até que passe a faixa ao sucessor sugere que a maioria governista fará torcida contra ele na eleição de 2022. Até como troco pelo aval expresso de Eduardo Bolsonaro à tentativa de invasão do Congresso americano, em 2020, por partidários de Trump inconformados com a derrota nas urnas — para Biden.
No início do governo Bolsonaro, o nome do “filho 03” chegou a ser ventilado como indicação para chefiar a Embaixada em Washington.
Gabinete verde
A conferência de Glasgow pode marcar a despedida de Angela Merkel como chanceler da Alemanha, se até lá não estiver empossado o novo governo. O sucessor, quase certamente, será o atual ministro das Finanças, Olaf Scholz, que liderou o Partido Social Democrata (SPD) na vitória eleitoral de setembro.
Não apenas a ascensão de Scholz tende a traçar linhas de continuidade com os 16 anos de Merkel. A questão climática teve lugar central na campanha para a renovação do Bundestag (parlamento), sob o impacto de enchentes catastróficas na Alemanha. E a definição de estratégias para acelerar a transição à economia pós-carbono domina as negociações recém-iniciadas para uma coalizão entre SPD, Verdes e liberais.
Os ecologistas se firmaram nas urnas como terceira força política, atrás dos social-democratas e da democracia cristã, de Merkel. Prestes a completar quatro décadas de existência e de presença no Bundestag, o partido dos Verdes caminha para ser peça-chave na a formação de qualquer governo na Alemanha, nos próximos tempos. No gabinete Scholz, deve ocupar a vice-chancelaria.
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