EMISSÃO DE GASES

Mudanças climáticas: Por que a política da China para o clima afeta você também

Reduzir as emissões da China é possível, de acordo com muitos especialistas, mas exigirá uma mudança radical

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David Brown - BBC News
postado em 16/10/2021 16:32 / atualizado em 16/10/2021 16:33

A luta contra a mudança climática passa invariavelmente pela redução das emissões de carbono pela China, hoje uma das mais elevadas do planeta e em trajetória ainda crescente.

Segundo o presidente do país, Xi Jinping, as emissões atingiriam um pico ainda antes de 2030 e, graças à política de transição energética, a neutralidade de carbono seria alcançada até 2060.

Ele não detalhou, contudo, como alcançará essa meta extremamente ambiciosa.

Crescimento explosivo

Enquanto todos os países enfrentam problemas para reduzir suas emissões, a China tem possivelmente o maior desafio, dado o tamanho de sua população e seu agressivo crescimento econômico.

Suas emissões per capita são cerca de metade do registrado pelos Estados Unidos. Com 1,4 bilhão de habitantes, entretanto, a China libera em termos nominais mais gases nocivos ao meio ambiente do que qualquer outro país.

Tornou-se o maior emissor mundial de dióxido de carbono em 2006 e agora é responsável por mais de um quarto das emissões globais de gases do efeito estufa.

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Os compromissos assumidos estarão sob os holofotes na cúpula climática global COP26 neste mês de novembro.

Junto com todos os outros signatários do Acordo de Paris em 2015, a China concordou em fazer mudanças para tentar manter o aquecimento global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e "bem abaixo" de 2°C.

O país reforçou seus compromissos em 2020, mas o Climate Action Tracker, um grupo internacional de cientistas e especialistas em políticas para o clima, aponta que as ações tomadas para cumprir essa meta são "altamente insuficientes".

Dependência do carvão

Reduzir as emissões da China é possível, de acordo com muitos especialistas, mas exigirá uma mudança radical.

O carvão é a principal fonte de energia do país há décadas.

O presidente Xi Jinping afirma que irá "reduzir gradualmente" o uso de carvão a partir de 2026. E que não construirá novos projetos movidos a carvão no exterior - mas alguns governos e ativistas dizem que os planos são pouco ambiciosos.

Pesquisadores da Universidade Tsinghua, em Pequim, dizem que o país precisará parar de usar carvão inteiramente para gerar eletricidade até 2050. O sistema deverá ser substituído pela produção de energia nuclear e renovável.

E, longe de fechar usinas elétricas movidas a carvão, a China está atualmente construindo novas plantas em mais de 60 pontos do país. Em muitos desses locais há mais de uma usina sendo erguida.

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Como as novas estações de produção costumam ficar ativas por 30 a 40 anos, a China precisará reduzir a capacidade das usinas mais novas e também fechar as antigas se quiser reduzir as emissões, afirma o pesquisador Philippe Ciais, do Instituto de Ciências Ambientais e Climáticas de Paris.

Pode ser possível fazer uma reforma em alguns deles para diminuir as emissões, mas a tecnologia para fazer isso em grande escala ainda está em desenvolvimento - muitas plantas terão que ser fechadas após o uso mínimo.

A China argumenta que tem o direito de fazer o que os países ocidentais fizeram no passado, liberando dióxido de carbono no processo de desenvolvimento de sua economia e redução da pobreza.

No curto prazo, Pequim ordenou que as minas de carvão aumentem a produção para evitar a escassez de energia no próximo inverno. O aumento da demanda da indústria pesada após a pandemia de covid-19 levou à escassez em várias regiões do país nas últimas semanas.

Pesquisadores da Universidade de Tsinghua dizem que 90% da energia deve vir de fontes nucleares e renováveis ??até 2050.

Para alcançar esse objetivo, a liderança da China na fabricação de tecnologia verde, como painéis solares e baterias em grande escala, pode ser de grande ajuda.

A China primeiro adotou as tecnologias verdes como meio de combater a poluição do ar, um problema sério para muitas cidades.

Mas o governo também acredita que eles têm um enorme potencial econômico, proporcionando empregos e renda para milhões de chineses, além de reduzir a dependência do petróleo e gás estrangeiros.

"A China já está liderando a transição energética global", disse Yue Cao, do Overseas Development Institute. "Uma das razões pelas quais somos capazes de implantar tecnologia verde cada vez mais barata é a China."

A China gera mais energia solar e eólica do que qualquer outro país. Isso pode não ser tão impressionante, dada a enorme população chinesa, mas é um sinal de para onde o país está se dirigindo.

A estimativa é que a proporção de energia gerada a partir de fontes renováveis atingir 25% do total até 2030 - e muitos especialistas acreditam que a meta seja atingida antes.

Carros elétricos

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A China ocupa o sétimo lugar no mundo em vendas de carros elétricos, proporcionalmente. Mas, devido ao seu enorme tamanho, ela fabrica e compra mais carros elétricos do que qualquer outro país por uma margem considerável.

Atualmente, cerca de um em cada 20 carros comprados na China é movido a eletricidade.

As autoridades chinesas e representantes da indústria automobilística preveem que quase todos os veículos novos vendidos na China serão totalmente elétricos ou híbridos até 2035.

Determinar o quanto a mudança para veículos elétricos reduz as emissões não é simples - principalmente quando se leva em consideração as fontes de fabricação e de carregamento.

Mas estudos sugerem que as emissões ao longo da vida útil dos veículos elétricos são normalmente inferiores às dos equivalentes a gasolina e diesel.

Isso é importante porque a queima de combustível do transporte é responsável por cerca de um quarto das emissões de carbono, sendo os veículos rodoviários os maiores emissores.

A China também vai produzir, até 2025, baterias com o dobro da capacidade das usadas no restante do mundo.

Observadores afirmam que isso permitirá o armazenamento e a liberação de energia de fontes renováveis ??em uma escala antes impossível.

A terra da China está ficando mais verde

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Mudar a forma de produção de energia não significa que a China parará de produzir emissões de gases do efeito estufa.

Isso significa que a China vai cortar as emissões o máximo possível e absorver o que sobrar, por meio de uma combinação de diferentes abordagens.

Aumentar a área de terra coberta por vegetação ajudará no processo, pois as plantas absorvem dióxido de carbono.

Aqui, novamente, há notícias encorajadoras. O país está se tornando mais verde em um ritmo mais rápido do que qualquer outro país, em grande parte como resultado de seus programas florestais projetados para reduzir a erosão do solo e a poluição.

Também é em parte resultado do replantio de campos para produzir mais de uma colheita por ano, o que mantém a terra coberta de vegetação por mais tempo.

Qual o próximo passo?

O mundo inteiro necessita que a China seja bem-sucedida na questão climática.

"A menos que a China se 'descarbonize', não vamos vencer as mudanças climáticas", disse o professor David Tyfield, do Lancaster Environment Center.

A China tem algumas grandes vantagens, principalmente sua capacidade de seguir estratégias de longo prazo e mobilizar investimentos de grande escala.

As autoridades chinesas enfrentam uma tarefa colossal. O que acontece a seguir dificilmente poderia ser mais importante.


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