Representantes de 30 países se reuniram nesta quinta-feira (21) em Trípoli com o governo interino, em uma conferência destinada a consolidar o processo de transição na Líbia, dois meses antes de eleições presidenciais cruciais para o futuro do país.
"Trípoli se restabeleceu. É a capital de todos os líbios", afirmou o chefe de Governo interino, Abdelhamid Dbeibah, no discurso de abertura da "Conferência de Apoio à Estabilidade da Líbia".
"A presença de vocês é a prova de que estamos comprometidos com o caminho da paz", destacou, antes de prometer que as eleições acontecerão "na data prevista", em dezembro, e pedir respeito aos resultados.
"Não há estabilidade sem uma soberania nacional plena", afirmou a ministra líbia das Relações Exteriores, Najla al Mangoush.
A conferência acontece dois meses antes das eleições, organizadas sob um processo de paz patrocinado pela ONU, que visa encerrar uma década de conflito e caos, que começou após o fim do regime de Muammar Kadhafi.
Após anos de conflitos armados e de divisões entre leste e oeste, no início do ano o país viu a nomeação de um novo governo interino apoiado pela ONU, com a meta de tirar o país da crise e organizar eleições presidenciais, previstas para 24 de dezembro. Em seguida serão organizadas eleições legislativas.
A vice-secretária-geral da ONU para Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, insistiu em seu discurso a importância das eleições de dezembro para "encerrar a fase transitória" e pediu às organizações internacionais a mobilização de "enviados especiais para observar" o processo eleitoral e garantir a transparência.
A Líbia enfrenta várias acusações de maus-tratos contra migrantes em situação irregular. DiCarlo pediu às autoridades líbias que acelerem a repatriação dos refugiados bloqueados no país e libertem os que estão detidos.
Vários ministros das Relações Exteriores, entre eles o francês Jean-Yves Le Drian e o italiano Luigi Di Maio, compareceram à conferência, ao lado de seus colegas de países árabes. O governo dos Estados Unidos foi representado por Yael Lempert, alto funcionário do Departamento de Estado.
A comunidade internacional tem feito pressão para a realização das eleições na data prevista, mas o processo tem enfrentado desacordos sobre as bases legais da votação.
O especialista em Líbia Emadeddin Badi comentou que a base para as eleições "se torna mais precária a cada dia".
No entanto, acrescentou que a conferência busca "capitalizar o momento para que a Líbia se estabilize, porque vários países querem ver a Líbia estável".
Comando único
As potências estrangeiras têm apoiado diferentes partes na complexa guerra líbia e a presença de mercenários e tropas estrangeiras é um dos maiores obstáculos para uma paz duradoura.
A ONU estimou em dezembro a existência de 20.000 combatentes estrangeiros na Líbia.
Eles incluem de russos enviados pelo grupo Wagner, próximo do Kremlin, a mercenários africanos e sírios, bem como soldados turcos enviados por um acordo com um governo de unidade prévio.
O futuro destes combatentes deveria ser abordado na conferência, disse a ministra, acrescentando que a presença destas forças "representa uma ameaça não só para a Líbia, mas para toda a região".
O país também terá que resolver a integração de suas forças armadas sob um comando único, pois as diferentes tropas atualmente enfrentam umas às outras.
Embora a Líbia teoricamente tenha um governo de unidade, sua facção leste é controlada pelo homem forte Khalifa Haftar, que poderia se candidatar à Presidência apesar de ser odiado por muitos no oeste líbio.
Além disso, o fato de a conferência ter sido organizada por um governo de transição a apenas dois meses das eleições que marcarão o fim de seu mandato chama a atenção.
"Se todos supõem que as eleições presidenciais acontecerão em dezembro 2021, por que organizar uma reunião sobre a estabilização da Líbia nove semanas antes das eleições? Se o governo atual vai sair em dezembro, que interesse pode existir em elaborar planos com ele em outubro?", questiona Khalel Harchaoui, analista da Global Initiative.
"Está claro que também falarão sobre as eleições, pois existem dúvidas sobre a votação, sua data, a base jurídica", disse Harchaoui, que não descarta a possibilidade de adiamento das eleições.
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