TAIWAN

Posicionamento de Biden sobre Taiwan causa espiral de tensão com a China

Horas depois de o presidente Joe Biden admitir que os Estados Unidos defenderiam a ilha capitalista, em caso de ataque da China, Pequim recomenda cautela. Washington baixa o tom e assegura que a política sobre o assunto não sofreu qualquer alteração

Rodrigo Craveiro
postado em 23/10/2021 06:00 / atualizado em 23/10/2021 07:52
Soldados taiwaneses simulam guerra na cidade de Hualien (leste), em 2018 -  (crédito: Mandy Cheng/AFP)
Soldados taiwaneses simulam guerra na cidade de Hualien (leste), em 2018 - (crédito: Mandy Cheng/AFP)

A retórica do presidente norte-americano, Joe Biden, incomodou a China; aumentou a tensão na Ásia, por algumas horas, e levou a Casa Branca a fazer uma retificação. Na noite de quinta-feira, durante encontro com eleitores promovido pela emissora CNN, em Baltimore (Marylad), Biden foi questionado sobre se os EUA sairiam em defesa de Taiwan, caso a ilha capitalista fosse atacada pela China. “Sim, nós estamos comprometidos com isso”, respondeu o democrata. O governo de Xi Jinping recomendou a Biden que aja com “prudência”.

Ante a reação de Pequim, o Departamento de Estado norte-americano assegurou que sua política em relação a Taiwan não sofreu qualquer modificação. “O presidente não estava anunciando nenhuma mudança na nossa política, nossa política se mantém inalterada”, comentou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. “Manteremos nossos compromissos, continuaremos apoiando a autodefesa de Taiwan e continuaremos nos opondo a qualquer mudança unilateral no status quo”, disse Price a repórteres. Nas últimas semanas, uma série de incursões de aviões de guerra chineses à zona de identificação da defesa aérea de Taiwan colocou Taipei e o mundo em alerta.

Com um sistema político democrático e uma economia orientada pelo capitalismo, Taiwan é considerado pelo Partido Comunista da China parte inalienável de seu território. Desde 1945, a ilha responde a um regime instalado após a vitória dos comunistas na China continental, em 1949. Entre 1950 e 1975, Taiwan foi governada pelo general Chiang Kai-shek, um líder nacionalista reconhecido como legítimo governante de toda a China até 1971, quando a Organização das Nações Unidas aprovou a Resolução 2758, a qual reconhecia a existência de uma única China.

Em entrevista ao Correio, o embaixador Tsung-Che Chang — representante do Escritório Econômico Cultural de Taipei em Brasília (Representação de Taiwan) — afirmou que a tensão entre seu país e a China não será resolvida em pouco tempo. “Ela tem a ver com a situação interna chinesa. O presidente Xi Jinping enfrenta muitos problemas na economia e na política doméstica, enquanto almeja um terceiro mandato em 2022. Além disso, a relação entre Pequim e Washington não se encontra em um bom momento. Taiwan está no meio dos dois poderes, entre EUA e China”, explicou.

Segundo Chang, o povo taiwanês está habituado a esse tipo de ameaça e pode lançar mão de uma defesa com capacidade suficiente para responder a uma invasão. “A China investe muitos recursos na área militar. Taiwan precisa reforçar as forças armadas e a a força aérea para salvaguardar a soberania e a democracia. Estamos prontos a enfrentar qualquer tipo de ameaça. Espero que a guerra não aconteça. Se ocorrer, estaremos prontos para nos defender”, avisou. “Não tomaremos ações que ameacem o mundo nem a segurança do Estreito de Taiwan.”

Cooperação

O representante de Taipei em Brasília lembrou que os EUA sempre apoiaram Taiwan, não somente militarmente, mas também no fortalecimento da economia e da democracia. Por isso, o discurso de Biden não foi surpresa. “Nossa cooperação tem história e vem de muitos anos. A política externa taiwanesa é simples: ela se foca na premissa de que Taiwan é uma nação democrática. Temos a democracia, a liberdade, os direitos humanos e a soberania como valores”, explicou. “A nossa presidente (Tsai Ing-wen) disse que, mesmo com as palavras simpáticas de Biden, Taiwan manterá o status quo e está independente desde 1949. A questão da independência é falsa”, disse. Procurada pelo Correio, a Embaixada da China não se pronunciou.

Para o taiwanês Yao-Yuan Yeh — diretor do Departamento de Estudos Internacionais e de Línguas Modernas da Universidade de St. Thomas, em Houston (Texas) —, o pronunciamento de Biden reiterou que os EUA se mantêm firmes no compromisso de segurança com Taiwan. “É claro que Washington não está alterando completamente sua ambiguidade estratégica para a questão de Taiwan. Os EUA, pelo menos o presidente Biden, ajudaram e reforçaram continuamente a meta- da política externa norte-americana de manter a paz no Estreito de Taiwan”, disse à reportagem.

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