"Se não agirmos agora, será tarde demais." Esse é o alerta de Sir David Attenborough antes da cúpula do clima COP26 em Glasgow.
Ele disse que as nações mais ricas têm "uma responsabilidade moral" de ajudar os mais pobres do mundo.
E seria "realmente catastrófico" se ignorássemos seus problemas, ele me disse em uma entrevista à BBC News.
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"Cada dia que passa sem fazer algo a respeito é um dia perdido", disse ele.
Sir David e eu estávamos conversando no Kew Gardens em Londres durante as filmagens de uma nova série, The Green Planet, que será exibida no próximo ano na BBC.
Nossa conversa abrangeu desde os tópicos mais recentes das ciências do clima até a importância da COP26 e o ??ritmo de sua vida profissional.
O painel de ciências climáticas da ONU concluiu recentemente que é "inequívoco" que a atividade humana está elevando as temperaturas globais.
E Sir David disse que isso provava que ele e outros não estavam fazendo "barulho por nada" e que os riscos de um mundo mais quente são reais.
"O que os cientistas do clima vêm dizendo há 20 anos, e que o temos relatado, você e eu, é a realidade: não estávamos fazendo alarmes falsos."
Mas ele disse que o relatório não convenceu a todos e que eles estão atuando como um freio aos esforços para combater a mudança climática.
"Ainda há pessoas na América do Norte, ainda há pessoas na Austrália que dizem 'não, não, não, não, é claro que é uma pena que houve aquele incêndio florestal que destruiu totalmente, incinerou aquela aldeia, mas é um... caso isolado'.
"Principalmente se vai custar dinheiro no curto prazo, a tentação é negar o problema e fingir que ele não existe.
"Mas a cada mês que passa, torna-se cada vez mais incontestável que as mudanças no planeta pelas quais somos responsáveis ??estão tendo esses efeitos devastadores."
O apelo dele por uma resposta urgente reflete a última avaliação científica de que, para evitar os piores impactos do aumento das temperaturas, as emissões globais de carbono precisam ser reduzidas à metade até 2030.
É por isso que os próximos anos são descritos como "a década decisiva" e que as negociações da COP26 são tão cruciais para colocar o mundo em um caminho mais seguro agora.
Do jeito que as coisas estão, as emissões devem continuar aumentando, em vez de começarem a cair, e Sir David estava parecendo mais exasperado do que eu já tinha ouvido antes.
"Se não agirmos agora, será tarde demais", disse ele. "Temos que fazer isso agora."
Conversamos sobre a questão da responsabilidade, que é altamente polêmica e terá grande importância na conferência. Os países em desenvolvimento acusam há anos as nações mais ricas, que foram as primeiras a começar a poluir a atmosfera, de não conseguirem fazer sua parte contra o aquecimento global.
O argumento é que eles deveriam estar fazendo os cortes mais profundos nas emissões de carbono e fornecendo ajuda aos que mais precisam. Uma promessa de longa data de US$ 100 bilhões (R$ 560 bilhões) por ano para desenvolvimento de baixo carbono e para construir defesas mais fortes contra clima mais violento ainda não foi cumprida — atingir esse total será um teste chave para saber se a COP26 será bem-sucedida ou não.
Para Sir David, este é um dos desafios mais preocupantes, e ele diz que seria "realmente catastrófico" se as ameaças às nações mais pobres fossem ignoradas.
"É provável que partes inteiras da África fiquem inviáveis — as pessoas simplesmente terão que se mudar por causa do avanço dos desertos e do aumento do calor, e para onde irão?"
Muitos deles tentarão entrar na Europa.
"Dizemos: 'Oh, não tem nada a ver conosco' e cruzamos os braços?"
"Nós causamos isso — nosso tipo de industrialização é um dos principais fatores na produção dessa mudança no clima. Portanto, temos uma responsabilidade moral."
"Mesmo se não tivéssemos causado isso, teríamos a responsabilidade moral de fazer algo sobre milhares de homens, mulheres e crianças que perderam tudo, tudo. Podemos apenas dizer adeus e dizer que isso não é da nossa conta?"
Por fim, perguntei sobre sua agitada carga de trabalho aos 95 anos — desde filmar documentários até falar na cúpula do G7, no Conselho de Segurança da ONU e no Prêmio Earthshot Duque de Cambridge.
"Não planejo muito à frente — como você disse, tenho 95 anos. Por quanto tempo você consegue continuar? Não está em nosso dom dizer essas coisas ou saber essas coisas. Tudo o que sei é que se eu acordar amanhã e sentir que sou capaz de fazer um dia de trabalho decente, então o farei muito bem e serei grato."
"E vai chegar o dia em que vou sair da cama e dizer: acho que não vou conseguir fazer isso. Quem sabe quando vai ser? Eu não sei."
Depois de vê-lo filmar por cinco horas seguidas, e permanecendo não apenas focado, mas também bem-humorado, sugeri que ele ainda amava o que estava fazendo.
"No momento, acho que seria uma perda de oportunidade simplesmente desistir e não fazer as coisas que considero muito importantes e para as quais estou bem colocado."
E o próximo compromisso importante na agenda de Attenborough? Nada menos do que falar, virtualmente ou pessoalmente, para o que será o maior encontro de líderes globais em solo britânico: a COP26, daqui a alguns dias (a partir de 31 de outubro).
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