COP26

Às vésperas da COP26, veja cinco mitos sobre a mudança climática

A evolução do clima é observada a longo prazo, enquanto os fenômenos meteorológicos têm seus próprios mecanismos, inclusive porque podem ser agravados pela mudança climática

Na véspera da COP26, que acontecerá em Glasgow, a AFP revisa algumas afirmações frequentes que questionam a mudança climática provocada pela atividade humana.

Plano criado ou complô 

Alguns pensam que a crise climática é uma ideia criada por cientistas para justificar o financiamento da ciência. Outros acreditam que é um complô dos governos para controlar a população. Algo para o qual seria necessário um plano de uma complexidade nunca antes vista, coordenado por governos sucessivos de diferentes países com a cumplicidade de um exército de cientistas.

Mas, ao contrário, o consenso quase unânime sobre a existência da mudança climática de origem antropogênica foi construído com dezenas de milhares de estudos (revisados e corrigidos por outros cientistas). Além disso, como forma de transparência, trabalhos como os do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática (IPCC, na sigla em inglês) estão abertos a todos os países da ONU.

Criado em 1988, vencedor do Nobel da Paz em 2007, o IPCC reúne centenas de cientistas voluntários que revisam o estado do conhecimento a partir de um método e de referências públicas (que podem ser consultados no site (https://www.ipcc.ch/languages-2/spanish/).

Seu relatório mais recente, publicado em agosto e de 3.500 páginas, foi redigido por 234 autores de 66 países, e aprovado pelos delegados de 195 Estados.

O clima sempre mudou

O planeta Terra registra desde sua origem a alternância entre períodos muito frios e mais quentes, com uma idade do gelo mais ou menos a cada 10.000 anos. Portanto, o atual período de aquecimento não pode ser considerado mais uma etapa deste ciclo que já dura um milhão de anos?

Para os especialistas a resposta é clara: Não. A velocidade, magnitude e caráter global do aquecimento que estamos vivenciando é excepcional. "Desde 1970, a temperatura mundial aumentou mais rápido que em qualquer período de 50 anos nos últimos dois milênios", destaca o IPCC, a partir de registros meteorológicos (desde que existem), estudos de sedimentos, mostras extraídas do gelo (testemunhos) e outros elementos para as épocas mais recentes.

Influência humana não está comprovada

Apesar do acúmulo de provas do aquecimento, muitas pessoas questionam se é provocado pela atividade humana, como as emissões de gases do efeito estufa, que aumentaram desde a revolução industrial pelo uso de energias fósseis.

O IPCC desenvolveu uma modelagem para medir o impacto de diferentes fatores sobre o aquecimento global. "Não há dúvida de que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a terra", escreve o IPCC em seu "resumo para formuladores de políticas", no relatório mais recente do painel, publicado em agosto (páginas 7 e 8, em inglês http://u.afp.com/wZ6N).

Alguns graus a mais não podem ser algo ruim

"Boa parte do país está sob uma enorme quantidade de neve e sofre temperaturas frias recordes... um pouco do velho aquecimento global não seria ruim".

Em 20 de janeiro de 2018, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos no momento e cético da mudança climática, divulgou no Twitter uma ideia de suposto senso comum: Se o planeta está aquecendo, por quê ainda acontece episódios de frio intenso?

A evolução do clima, no entanto, é observada a longo prazo, enquanto os fenômenos meteorológicos têm seus próprios mecanismos, mais imediatos, inclusive porque podem ser agravados pela mudança climática.

E que certas regiões do mundo registrem aquecimento, como a Sibéria, não é uma boa notícia. O permafrost, a camada de solo congelada permanentemente, captura grandes quantidades de gases do efeito estufa que seriam liberados na atmosfera em caso de derretimento. Sem falar na possível existência de vírus retidos...

Um mundo com +2 ºC na comparação com a era pré-industrial provocaria um aumento de meio metro do nível do mar, o que coloca em perigo a vida de milhões de pessoas nas zonas costeiras.

Alguns cientistas questionam a realidade da mudança climática

Embora existam cientistas que expressam dúvidas em artigos públicos, em geral são pessoas não especializadas em clima. Historicamente, o conhecimento científico é construído na controvérsia, seguido pelo consenso a partir do conhecimento existente.

Quanto à mudança climática, este consenso é grande. De acordo com um estudo recente da Universidade Cornell (EUA), mais de 99% dos artigos sobre mudança climática publicados desde 2012 em revistas científicas (revisadas por pares) concordam com a atribuição do fenômeno à ação humana (http://u.afp.com/wZ6p).