OBITUÁRIO

Frederik de Klerk, ex-presidente da África do Sul, 85 anos

Rodrigo Craveiro
postado em 12/11/2021 00:01
 (crédito: Walter Dhladhla/AFP - 3.4.94)
(crédito: Walter Dhladhla/AFP - 3.4.94)

Ele será reconhecido como o último presidente branco da África do Sul e o último líder do apartheid. O homem que libertou Nelson Mandela, o ícone da luta contra o regime de segregação racial, e com ele dividiu o Prêmio Nobel da Paz, em 1993. Frederik Willem de Klerk morreu, aos 85 anos, vítima de um câncer, cercado pela família, em sua residência na cidade de Fresnaye.

Em mensagem de vídeo póstuma, De Klerk pediu desculpas pelo apartheid. "Peço desculpas, sem reservas, pela dor, sofrimento, indignidade e danos que o apartheid infligiu aos negros, mulatos e índios na África do Sul", declara na gravação divulgada ontem. "Sou frequentemente acusado por meus críticos de ter continuado de uma forma ou de outra a justificar o apartheid", acrescenta.

O vídeo também traz um mea-culpa: De Klerk admite que defendeu o sistema durante a juventude, então como parlamentar e até mesmo como ministro. Em março passado, De Klerk anunciou que sofria um câncer que afetava os tecidos ao redor dos pulmões. 

Renúncia

Autora de White power & The rise and fall of National Party ("Poder branco & A Ascensão e a queda do Partido Nacional"), Christi van der Westhuizen explicou ao Correio que De Klerk será lembrado como o líder que deu um passo incomum, por entregar o poder ao acabar com o sistema do apartheid. "Seu antecessor, PW Botha, estava levando o país à dominação militar para sustentar o governo da minoria branca, mas adoeceu, abrindo as portas para que De Klerk fosse eleito", comentou Christi, também professora da Universidade Nelson Mandela, em Port Elizabeth (África do Sul). "De Klerk revogou os movimentos de libertação devido a uma confluência de eventos, como o fim do comunismo e a retirada de apoio do Ocidente ao regime do Partido Nacional", acrescentou. 

De acordo com Christi, um conjunto de sanções, insurreição disseminada dentro do país e uma mudança na mentalidade política dos africanos no poder fizeram com que De Klerk tomasse a decisão pragmática de participar de negociações pela democracia. "Ele foi membro da ala conservadora do Partido Nacional. Por isso, foi capaz de unificar a maioria dos brancos na transição para a democracia", explicou.

A especialista reconhece que a relação de De Klerk com Nelson Mandela foi marcada pela tensão. "Durante as negociações, Mandela o chamou de 'chefe de um regime de minoria ilegítimo e desacreditado, incapaz de manter os padrões morais'", afirmou. No entanto, Christi vê De Klerk como "o líder certo na hora certa" para ajudar a levar a África do Sul à democracia sem uma guerra civil. (RC)

 

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