Europa sofre o impacto da pandemia dos não vacinados

Aumento de casos da covid-19 leva países a adotarem o distanciamento social para quem não completou a imunização. A chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu "situação dramática" e impôs regra para o convívio

Rodrigo Craveiro
postado em 19/11/2021 00:01
 (crédito: Christof Stache/AFP)
(crédito: Christof Stache/AFP)

A poucos dias de transferir o poder para o social-democrata Olaf Scholz, a chanceler Angela Merkel anunciou novas restrições sociais, ao admitir que a Alemanha enfrenta "uma situação dramática", atingida com "força total" pela quarta onda da covid-19. Portugal, depois de registrar 2.398 casos e 13 mortes em 24 horas, avalia a retomada do uso obrigatório de máscaras, mesmo em espaços abertos. Eslováquia e República Checa proibiram, desde ontem, o acesso de pessoas não imunizadas em bares, restaurantes, lojas de produtos não essenciais e eventos públicos.

O primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger, classificou o plano de "lockdown para os não imunizados". Com apenas 45% da população com o ciclo de imunização completo, a Eslováquia enfrenta saturação do sistema hospitalar. A chamada "pandemia dos não vacinados" também golpeia República Tcheca, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Reino Unido, Grécia, Áustria e Irlanda, com o aumento no número de infecções.

O governo tcheco reforçou as medidas sanitárias. "Nos inspiramos no modelo bávaro, cuja base é que só os vacinados ou os que passaram pela covid podem ter acesso aos serviços, hotéis e concentrações" de pessoas, informou o primeiro-ministro, Andrej Babis, no Twitter. "O objetivo principal destas medidas é motivar as pessoas a se vacinarem", declarou o ministro da Saúde, Adam Vojtech.

Em entrevista ao Correio, o professor de epidemiologia da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, atribuiu o aumento de casos à alta transmissibilidade da variante delta do Sars-Cov-2. "Esta cepa é mais contagiosa do que infeções como a difteria, a poliomielite e a varíola (esta já erradicada) e tão contagiosa como a varicela", explicou. Para conter a variante, o especialista português defende uma elevada proteção imunológica da população e a manutenção das medidas de distanciamento.

"Foram muito poucos os países que conseguiram cumprir com ambas exigências simultaneamente. Uns conseguiram proteção vacinal alta, mas flexibilizaram muito as medidas de distanciamento (Reino Unido, Holanda e Dinamarca). Outros, como Áustria, Grécia e Alemanha, não conseguiram sequer altas coberturas vacinais", avaliou Gomes. Ele admite que Portugal e Espanha têm mantido a situação mais controlada. "Mas o número de casos começar a subir nos dois países, por causa do relaxamento", lamentou.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) advertiu, ontem, que a Europa precisa "fechar a lacuna" entre vacinados e não vacinados, como forma de impedir uma temida quarta onda — a qual, na opinião de Merkel, está em andamento. "Estamos vendo um número excessivo de casos... Especialmente entre os não vacinados", disse Marco Cavaleri, diretor de estratégia da entidade. Ele denunciou que as taxas de imunização em alguns países são "incrivelmente baixas". "Temos que fechar essa lacuna e trabalhar para que o maior número possível de pessoas sejam vacinadas."

"Nós precisamos interromper rapidamente o aumento exponencial" de novas infecções e da ocupação de leitos em unidades de cuidados intensivos, declarou Merkel, pouco depois de uma reunião de crise com os chefes de governo regionais. Entre quarta-feira e quinta-feira, a Alemanha contabilizou 65.371 infecções pela covid-19, um aumento sem precedentes desde o início da pandemia.

Norma

O governo aplicou a "norma 2G" — ela autoriza que apenas os imunizados e os curados acessem espaços públicos, como restaurantes, casas de espetáculos e boates, quando o limite de hospitalização superar três pacientes de covid para cada 100 mil habitantes. "Muitas das medidas que agora são necessárias não teriam sido se mais pessoas se vacinassem", afirmou Merkel. Pouco mais de 67% da população completou o ciclo de vacinação. As autoridades encorajam a administração da terceira dose.

Ontem, o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, fez um pronunciamento em rede nacional no qual exortou os cidadãos a se imunizarem o quanto antes. O chefe de governo anunciou que as restrições aos não vacinados serão ampliadas. A partir de segunda-feira, essa categoria não poderá frequentar espaços fechados, como museus, teatros, salas de cinema e academias. A medida vigorava para restaurantes. "A Grécia está de luto por mortes desnecessárias", comentou o premiê.

Ante um rápido aumento nas taxas de infecção, a Bélgica determinou o retorno ao trabalho a distância durante quatro dias da semana, além do uso obrigatório de máscaras — principalmente para quem permanecer de pé dentro de ambientes fechados. Os belgas terão que apresentar certificado de vacinação ou testagem negativa para entrarem em cafeterias e em restaurantes.

Por sua vez, o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, admitiu que, não fosse o sucesso da campanha de vacinação, sem dúvida, o país estaria em lockdown completo. Ele lembrou que todos os restaurantes, bares e danceterias terão que fechar as portas à meia-noite, sob pena de perderem a licença.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Os premiês Xavier Bettel (C), de Luxemburgo, e Alexander De Croo (E), da Bélgica, apresentam passaporte de vacinação em evento sobre economia dos dois países, em Bruxelas
    Os premiês Xavier Bettel (C), de Luxemburgo, e Alexander De Croo (E), da Bélgica, apresentam passaporte de vacinação em evento sobre economia dos dois países, em Bruxelas Foto: James Arthur Gekiere/AFP
  • Pedestre passa diante de pôster alertando para a importância do distanciamento social, em Dublin, na Irlanda
    Pedestre passa diante de pôster alertando para a importância do distanciamento social, em Dublin, na Irlanda Foto: Paul Faith/AFP

Restrições emergenciais

Alemanha

Casos: 5.213.913 / Mortes: 98.544

A chanceler Angela Merkel anunciou a adoção da norma "2G", a qual permite que somente os vacinados e os curados acessem lugares públicos, como restaurantes e casas de espetáculos. Essa medida será aplicada quando o limite de hospitalização superar três pacientes de covid para cada 100 mil habitantes, o que já ocorre na maioria dos estados-federados do país.

 

Eslováquia 

Casos: 585.824 / Mortes: 13.725

O primeiro-minsistro do país, Eduard Heger, anunciou uma "quarentena para não vacinados". Apenas os cidadãos imunizados ou que tiveram covid-19 nos últimos seis meses poderão frequentar shoppings, lojas de produtos não essenciais, restaurantes e eventos públicos. Todas pessoas não vacinadas serão obrigadas a se submeterem a testagem nos locais de trabalho. 

 

República Tcheca

Casos: 1.930.214 / Mortes: 31.709

O governo anunciou  o veto de não vacinados à entrada em bares, hotéis, museus e estabelecimentos públicos. Antes, o acesso dependia da apresentação de um resultado negativo para a covid-19. A proibição será mantida pelo menos até o fim de fevereiro.

 

Portugal

Casos: 1,112,682 / Mortes: 18,283

Depois de registrar 2.398 infecções e 12 mortes pela covid-19 em 24 horas, Portugal estuda a adoção de medidas restritivas, como o uso obrigatório de máscaras em espaços públicos. Caberá ao Parlamento legislar sobre os novos limites. 


Bélgica

Casos: 1,543,299 / Mortes: 26.484

O governo estimulou os trabalhadores a exercerem suas atividades a partir de casa. O primeiro-ministro, Alexander De Croo, advertiu que o vírus sofreu mutação e se tornou muito mais infeccioso. Em ambientes fechados, todas as pessoas que permanecerem de pé serão obrigadas a usar máscara. As boates terão que testar os clientes, a fim de que possam dançar sem o acessório. 

 

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação