Pouco depois de Peng Shuai, uma das tenistas mais populares da China, usar a rede social Weibo para acusar um político importante de abuso sexual, a sua conta pessoal na plataforma foi censurada.
Isso foi no dia 2 de novembro. Ela não foi vista ou ouvida em público desde então.
A BBC News analisou a linha do tempo dos eventos daquele dia para entender as técnicas de censura online usadas contra Peng.
O que aconteceu com a publicação de Peng na rede social?
No dia 2 de novembro, a tenista, que já foi número um no ranking mundial de duplas, publicou um post no Weibo alegando que havia sido forçada a manter relações sexuais com Zhang Gaoli, ex-vice-primeiro-ministro chinês.
Essa postagem desapareceu rapidamente- provavelmente em uma hora.
Utilizando a ferramenta de internet Wayback Machine - que permite voltar no tempo online - pudemos constatar que ao final daquele dia não havia nenhum vestígio da postagem.
Em seguida, analisamos a linha do tempo do perfil de Peng no Weibo e descobrimos que outras seis postagens haviam sido publicadas e, posteriormente, apagadas.
Esta não é a primeira vez que um atleta de alto nível é censurado na China.
No ano passado, o ex-jogador de futebol internacional Hao Haidong também foi censurado na internet, bem como sua esposa, Ye Zhaoying, uma jogadora de badminton aposentada, depois que ele defendeu abertamente o fim do Partido Comunista da China.
Como os seguidores da tenista foram afetados?
Os usuários do Weibo, assim como os do Twitter, podem postar comentários em resposta às postagens.
No entanto, comentários na timeline de Peng no Weibo foram bloqueados, impedindo que seus seguidores (mais de meio milhão) se envolvessem em debates no perfil dela.
Aparentemente alguns termos específicos de pesquisa foram temporariamente bloqueados. Portanto, se um usuário digitou o nome de Peng, por exemplo, não apareceram resultados- pelo menos por um período. Algumas dessas restrições já foram retiradas.
Além disso, postagens de outros usuários no Weibo, referindo-se a Peng, foram removidas da plataforma.
Em 3 de novembro, o comentarista de tênis chinês Ouyang Wensheng escreveu: "Espero que você esteja segura" e "Como ela deve estar desesperada e indefesa". Ambas as postagens foram removidas.
Para contornar os censores, surgiram soluções criativas.
Em vez de se digitar Zhang Gaoli diretamente, os usuários do Weibo passaram a se referir ao político por outros nomes semelhantes, ou nomes que têm as mesmas iniciais em chinês.
No entanto, as autoridades estão atentas a essa estratégia e as postagens que tentaram fugir dos censores dessa forma também foram rapidamente retiradas.
E pesquisas em outras ferramentas de busca na internet?
O mecanismo de busca Baidu mostra apenas reportagens da mídia estatal sobre Peng Shuai e Zhang Gaoli.
Outros sites de mídia social populares na China, como Douyin (o TikTok chinês) e as plataformas de compartilhamento de vídeo Kuaishou e Bilibili, também parecem ter sofrido restrições para buscas de termos relacionados ao caso da tenista.
No site de perguntas e respostas Zhihu, nenhum resultado aparece quando o nome "Peng Shuai" é inserido. No entanto, quando "Zhang Gaoli" é pesquisado, surgem resultados, mas só de postagens que o retratam como um líder heróico.
Qual foi a repercussão online disso?
Cada vez mais jogadores de tênis renomados têm perguntado sobre o paradeiro de Peng.
A ex-número um do mundo Naomi Osaka escreveu no Twitter: "A censura nunca é OK, em qualquer hipótese. Estou em choque com a situação atual e envio amor e luz para ela."
. #WhereIsPengShuai pic.twitter.com/51qcyDtzLq
— NaomiOsaka????? (@naomiosaka) November 16, 2021
Uma campanha online, usando a hashtag #WhereIsPengShuai? (Onde está Peng Shuai), começou a circular há poucos dias e agora é trending topic no Twitter.
As autoridades chinesas estão relutantes em falar sobre o caso.
Na quinta-feira (18), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian disse não ter conhecimento do caso depois de ser pressionado por jornalistas em uma coletiva de imprensa, mas seus comentários foram posteriormente excluídos da transcrição oficial da entrevista coletiva.
Com pesquisa complementar de Paul Myers.
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