O russo Dmitry Muratov, 69 anos, editor-chefe do jornal independente Novaya Gazeta, fez um pedido ao público presente na cerimônia de gala de entrega do Nobel da Paz 2021, na Prefeitura de Oslo. "Fiquemos de pé e honremos, com um minuto de silêncio, os nossos colegas jornalistas (...) que deram suas vidas por essa profissão", declarou, em alusão a seis repórteres do Novaya que foram assassinados. "Quero que os jornalistas morram de velhice", acrescentou.
A filipina Maria Ressa, cofundadora do site de notícias Rappler, fez dura crítica aos grupos de tecnologia norte-americana pela "lama tóxica" propagada nas redes sociais. Ela destacou que esses grupos "são inimigos dos fatos, dos jornalistas". "Sua natureza é nos dividir e nos radicalizar", disse. Muratov e Ressa receberam o prêmio, ontem, por sua luta "a favor da liberdade de imprensa".
Em entrevista ao Correio, publicada em 12 de outubro, Ressa advertiu que "nada pode bater as mentiras que vão em uma lama tóxica, que escorre pelas mídias sociais". Ontem, na cerimônia, a filipina afirmou: "Com seu poder quase divino, sua tecnologia permitiu que o vírus da mentira infectasse cada um de nós, colocando uns contra os outros, trazendo à tona nossos medos, nossa raiva e nosso ódio, preparando o terreno para a chegada de dirigentes autoritários e ditadores".
Sob os olhares dos integrantes da família real norueguesa, todos usando máscaras, Ressa destacou a importância de uma informação confiável em períodos eleitorais e durante pandemias. No entanto, "sem os fatos, não podemos ter a verdade. Sem a verdade, não podemos ter a confiança. Sem confiança, não temos (...) democracia, e se torna impossível enfrentar os problemas existenciais do nosso planeta: o clima, o coronavírus, a luta pela verdade", acrescentou.
Muratov, 60 anos, dirige um dos poucos jornais ainda independentes na Rússia. "O jornalismo atravessa um período sombrio na Rússia", afirmou. O Novaya Gazeta é conhecido especialmente por suas investigações sobre a corrupção e as violações dos direitos humanos na Chechênia. Desde a década de 1990, seis colaboradores do jornal foram assassinados, entre eles a jornalista Anna Politkovskaya em 2006.
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