Ômicron provoca a primeira morte

Reino Unido confirma vítima da nova variante, que responde por 40% dos casos da covid-19 em Londres, e não descarta mais restrições. Espanha admite transmissão comunitária. China detecta cepa

Rodrigo Craveiro
postado em 14/12/2021 00:01
 (crédito: Tolga Akmen/AFP)
(crédito: Tolga Akmen/AFP)

O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou, ontem, o primeiro óbito conhecido no mundo atribuído à cepa ômicron do Sars-Cov-2. "A ômicron está provocando hospitalizações e, infelizmente, confirmamos que ao menos um paciente morreu por essa nova variante", declarou o chefe de governo, durante visita a um dos centros de imunização para a aplicação da terceira dose contra a covid-19.

A taxa de transmissão da ômicron tem aumentado nos últimos dias. Somente ontem, 1.576 casos foram reportados pelas autoridades no Reino Unido — 20% das infecções foram causadas pela ômicron. Em Londres, o índice aumenta para 40%. Johnson não descarta impor novas restrições "nacionais severas" às vésperas do Natal.

O primeiro-ministro não divulgou detalhes sobre a morte. Não se conhece o nome do paciente, a idade, o local onde vivia e se estava vacinado ou não. "Parece que esta é a primeira morte confirmada pela ômicron", admitiu um porta-voz do Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças (ECDC). "No entanto, muitos casos não estão sequenciados genomicamente", acrescentou.

Diretor do Instituto Rosalind Franklin da Universidade de Oxford, o britânico James Naismith admitiu ao Correio que uma única morte representa uma tragédia, mas assegurou que o anúncio feito por Johnson nada diz sobre a doença. "A razão para o alarme da comunidade científica está no fato de que a cepa se espalha rapidamente, tanto entre os vacinados quanto nos recuperados da covid-19. A doença é leve para a maioria das pessoas, mas perigosa para a camada vulnerável da população, especialmente os idosos", disse. "Se a ômicron causar hospitalizações, como uma parte da cepa delta, isso sobrecarregará o sistema de saúde."

Naismith reconhece o potencial infeccioso da ômicron e explica que a cepa se dissemina "muito rapidamente". "Para 100 pessoas que testam positivo para a covid-19 em Londres, 40 têm ômicron. Nós devemos esperar que a variante represente a maioria dos casos até o fim de semana. É provável que isso ocorra em cada país onde a cepa se estabelecer. Há evidências de que a terceira dose da vacina pode reduzir a propagação", comentou. 

O especialista crê que em breve a ciência saberá se a ômicron tem, ou não, o potencial de sobrecarregar o sistema de saúde. "Não devemos ter medo, mas fazer tudo o que pudermos para vacinar o mundo", acrescentou Naismith, ao confidenciar que tomou a terceira dose no domingo.

Prematuro

Jacqueline Coetzee, presidente da Associação Médica da África do Sul e a primeira especialista a detectar a cepa ômicron, afirmou à reportagem que é muito cedo para uma reação de alerta extremo da comunidade internacional ante a confirmação da morte do Reino Unido. "Esteja certo de que a ômicron provoca um quadro predominantemente leve. Seria interessante saber se a pessoa que entrou em óbito estava vacinada, se sofria de outra doença e se esteve hospitalizada — e por quanto tempo", disse.

Segundo Coetzee, estadistas do mundo todo têm a obrigação de fornecer vacinas à população e orientá-la a prevenir o contágio pela ômicron. Ontem, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, testou positivo para a covid-19. "Estou certa de que ele tem ômicron."

Por sua vez, a Espanha revelou que a maioria dos 36 casos da ômicron ocorreram por transmissão comunitária. Dezenove infectados não têm ligação com viagens a países de alto risco. Também ontem, a China confirmou a primeira infecção pela variante, na cidade de Tianjin (nordeste).

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Notas

 (crédito: Rodger Bosch/AFP)
crédito: Rodger Bosch/AFP

NOTAS

Presidente sul-africano infectado

Depois de sentir-se mal ao participar de uma homenagem ao ex-presidente F.W. de Klerk, na Cidade do Cabo, o atual presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, 69 anos, testou positivo para a covid-19. Ele cumpre isolamento em sua casa. "Ramaphosa está recebendo tratamento para sintomas leves de covid-19, depois de ter testado positivo hoje ao exame do vírus", disse a Presidência. De acordo com o comunicado, o chefe de Estado está com o esquema vacinal completo e apresenta bom ânimo. A médica Jacqueline Coetzee, a primeira a detectar a cepa ômicron no país, assegurou ao Correio que Ramaphosa foi infectado pela nova variante. "Tenho certeza de que se trata da ômicron", afirmou a presidente da Associação Médica Sul-Africana.

 

Nova cepa chega à China

A China relatou o seu primeiro caso da variante do coronavírus ômicron. As autoridades da  cidade de Tianjin (nordeste) confirmaram a infecção uma pessoa que chegou de um país não divulgado, segundo o jornal Tianjin Daily. Em isolamento em um hospital, o paciente assintomático testou positivo para covid-19 na quinta-feira, e outros testes detectaram "a variante ômicron", de acordo com a mesma fonte. O país mais populoso do mundo está em alerta máximo para possíveis surtos da doença, enquanto se prepara para sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em fevereiro. Primeira nação a registrar a covid-19, em dezembro de 2019, a China reduziu o número de novos casos do Sars-CoV-2, ao adotar rígidas restrições de fronteira, testes em massa e confinamentos seletivos.

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