Terrorismo

Ataque com bombas mata três pessoas em aeroporto na Colômbia

Dois policiais perdem a vida ao manusearem maleta com explosivos. Pouco antes, homem invadiu pista e foi atingido por detonação. Ministro da Defesa culpa dissidências de guerrilhas e afirma que atentado teve planejamento na Venezuela

Rodrigo Craveiro
postado em 15/12/2021 06:00 / atualizado em 15/12/2021 09:04
 (crédito: Schneyder MENDOZA / AFP)
(crédito: Schneyder MENDOZA / AFP)

Julieth Cano, jornalista das emissoras colombianas Blu Radio e Caracol TV, chegou ao Aeroporto internacional Camilo Daza, em Cúcuta (norte da Colômbia), às 6h de ontem (8h em Brasília). Quarenta e cinco minutos antes, um terrorista que carregava uma maleta com explosivos pulou a cerca que marca o perímetro de segurança da pista e morreu, após a detonação do artefato. "Eu tinha acabado de entrar ao vivo para a televisão. Mexia no celular, à espera do chamado para voltar a transmitir. Às 6h50 (hora local), escutei uma explosão muito forte", relatou ao Correio, por telefone. Julieth disse que, imediatamente, informou a redação sobre a nova explosão. "Foi quando vimos os corpos desmembrados dos dois policiais, no meio da rua e sobre o teto das casas vizinhas. Foi muito terrível."

Os dois agentes estavam a apenas 50m de Julieth e do cinegrafista, vistoriando uma maleta abandonada, quando a segunda detonação os matou instantaneamente. Até o fechamento desta edição, nenhum grupo tinha assumido a autoria do atentado. A polícia buscava esclarecer se a primeira explosão foi produto de um ataque suicida — algo incomum no conflito colombiano — ou se o artefato detonou antes da hora. Os policiais mortos foram identificados como os especialistas em desativação de minas terrestres David Reyes e William Bareño.

Em vídeo, o ministro da Defesa da Colômbia, Diego Malone Aponte, repudiou o ato terrorista e citou a Venezuela. "Fazemos um apelo a prosseguir com a ofensiva contra esses grupos criminosos, como as dissidências das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ELN (Exército de Libertação Nacional), que na fronteira sempre buscam ativar ações terroristas, que planejam e financiam a partir da Venezuela e operam e realizam dentro da Colômbia", declarou. Aponte anunciou que o governo colombiano oferecerá uma "recompensa especial" a quem prestar informações que levem à captura dos mentores do ataque.

"Ato covarde"

"Em primeiro lugar, esse é um ato covarde, miserável e terrorista, que nos deixa enlutados", afirmou, por sua vez, o presidente colombiano, Iván Duque. Ele prometeu "seguir golpeando e quebrando todas as estruturas do narcotráfico e do terrorismo" no país. O chefe de Estado prestou solidariedade à polícia e exortou a população a acender uma vela em memória dos dois agentes mortos.

O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padriño López, reagiu às acusações do homólogo colombiano. "Ao mesmo tempo em que a xenofobia acentua os crimes contra os migrantes venezuelanos sob o olhar cúmplice de Duque, seu desgoverno recorre ao velho truque de responsabilizar o vizinho. A estabilidade da Colômbia não será alcançada aqui enquanto seus narizes estiverem brancos de poeira", ironizou. Apesar de não ter comentado as acusações de Bogotá, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, retuitou a mensagem de seu titular da Defesa.

Para Andrés Macías, especialista em segurança pela Universidad Externado de Colombia (em Bogotá), as características do ataque têm a impressão digital da Frente 33, uma dissidência das Farc, e do ELN. "São grupos que têm presença nessa região. É bem possível que a ação tenha sido realizada por um deles, apesar de ninguém ter assumido a autoria", disse ao Correio.

"Tanto a Frente 33 da dissidência das Farc quanto o ELN, assim como outros grupos armados que estão na Venezuela, travam uma disputa entre si e com o Estado colombiano pelo controle das economias criminais. Essas facções têm interesses muito claros no departamento de Norte de Santander e ao longo de toda a fronteira entre Colômbia e Venezuela", acrescentou o estudioso.

Testemunha do atentado, a repórter Julieth Cano precisou se dirigir ao hospital em meio a uma crise nervosa. "Foi uma experiência muito forte. Também foi extremamente doloroso saber que os policiais estavam perto de nós e, de repente, não mais. A explosão ceifou a vida instantaneamente de dois agentes que tinham experiência na desativação de explosivos", desabafou a jornalista.

Ao menos cinco ataques, incluindo o de ontem, sacudiram a região fronteiriça com a Venezuela desde meados deste ano. Em um deles, rajadas de fuzil foram disparadas do solo contra o helicóptero em que viajava Duque e seus assessores, pouco antes do pouso, em 25 de junho. Ninguém ficou ferido.

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