Europa

Rússia apresenta lista de exigências à Otan e aos EUA para reduzir tensões com Ucrânia

Moscou quer proibição da entrada de ex-repúblicas soviéticas na Otan, limite à presença militar ocidental no leste do continente e veto a tropas estrangeiras na região

Rodrigo Craveiro
postado em 18/12/2021 06:00
 (crédito: Anatolii Stepanov/AFP)
(crédito: Anatolii Stepanov/AFP)

Sob a acusação de mobilizar cerca de 100 mil soldados na fronteira com a Ucrânia e de preparar uma invasão ao país vizinho, a Rússia rompeu o silêncio e apresentou uma lista de exigências à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aos Estados Unidos para desarmar a tensão regional. O site do Ministério das Relações Exteriores da Rússia publicou duas propostas de tratado para reduzir, de forma drástica, a presença militar às portas da Ucrânia.

Os documentos — chamados "Tratado entre os Estados Unidos e a Federação da Rússia sobre as garantias de segurança" e "Acordo sobre as medidas para garantir a segurança da Federação da Rússia e dos Estados-membros" da Otan — visam impedir a expansão da aliança transatlântica de defesa em direção ao Leste Europeu e a instalação de bases militares norte-americanas na antiga União Soviética. Os textos, respectivamente, têm quatro e nove páginas, além de oito artigos. Eles pedem a proibição do envio de navios de guerra e de caças e bombardeiros a áreas onde poderiam ser usados para ataques à Rússia. 

As exigências do Kremlin foram recibidas com críticas e ceticismo pela comunidade internacional. Segundo a agência de notícias France-Presse, Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, advertiu sobre a impossibilidade de qualquer negociação sobre a segurança europeia sem a participação dos aliados e parceiros dos EUA. Até o fechamento desta edição, a Otan não se pronunciou sobre a posição de Moscou. Na quinta-feira, a organização divulgou comunicado no qual admitia "grave preocupação com o aumento substancial, não provocado e injustificado do contingente russo nas fronteiras da Ucrânia" e exortava a Rússia a "imediatamente reduzir a escalada e buscar canais diplomáticos". 

Vice-ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, defendeu como "essencial colocar no papel as garantias de segurança da Rússia, e que tenham  valor de direito". Ele se disse disposto a começar negociações "sem atrasos e sem interrupções". "Podemos ir a qualquer lugar e a qualquer hora, mesmo amanhã", declarou. Para o número dois da chancelaria de Moscou, os documentos apresentados têm o propósito de restabelecer uma cooperação entre Rússia e Ocidente em "ausência total de confiança" mútua. Ryabkov tachou de "agressiva" a política da Otan "nas fronteiras da Rússia". Ele afirmou que a oportunidade é para "relançar a relação a partir de uma página em branco". 

Professor de política comparativa da Universidade Nacional de Kiev-Mohyla (Ucrânia), Olexiy Haran afirmou ao Correio que a lista de exigências do Kremlin não passa de propaganda. "São demandas irrealistas. Não se trata do potencial de adesão da Ucrânia à Otan. Foi a Rússia que violou todos os documentos que abordam a segurança europeia. Não apenas ao anexar a Península da Crimeia e ao mover suas tropas para a região de Donbass (leste da Ucrânia), mas por diferentes ações. As tropas russas encontram-se, neste momento, na Geórgia, em Abkhazia e na Moldávia — nesta última ex-repúblicas soviética, havia a promessa de que as forças do Kremlin saíssem em 1999, mas nunca o fizeram", disse. 

De acordo com Haran, quando a Rússia sugere o retorno ao status quo de 1997, isso significa perpetuar a presença militar na região. "Moscou também demanda o não envolvimento da Otan em países do leste e do centro da Europa. Pergunto: por que os Estados bálticos aderiram à Otan, principalmente depois de 2014? As tropas ocidentais mantêm presença simbólica nesses países, pois eles temem um ataque da Rússia", explicou. O estudioso ucraniano adverte que, antes de fazer qualquer tipo de exigência, o presidente russo, Vladimir Putin, deveria remover suas tropas da Crimeia e de Donbass.

Haran acusa Moscou de cometer assassinatos seletivos no Reino Unido e contra personalidades chechenas na Alemanha. "A Otan não aceitará as condições do Kremlin. Os países da região central da Europa serão totalmente contrárias às demandas, assim como o Ocidente. Para mim, Putin chantageia e blefa. Não há razão para a Rússia iniciar um ataque contra a Ucrânia, a não ser tentar obter concessões do Ocidente", acrescentou. 

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