Insegurança alimentar

3 números que mostram o impressionante aumento da fome na América Latina

A região teve um grande aumento na insegurança alimentar



A fome na América Latina alcançou no ano passado um patamar que não se via há décadas, segundo o mais recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre segurança alimentar, publicado nesta quarta-feira (1/12).

De acordo com a ONU, a América Latina foi a região na qual o número de pessoas passando fome mais cresceu.

"A América Latina e o Caribe enfrentam uma situação crítica em termos de segurança alimentar", diz Julio Berdegué, representante da FAO, braço da ONU para Alimentação e Agricultura.

Veja abaixo três números impactantes presentes no relatório que mostram a situação da segurança alimentar na região.

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Fome também levou ao aumento da imigração; acima, haitianos repatriados

1) 60 milhões de pessoas passam fome na América Latina

Em apenas um ano, o número de pessoas passando fome na América Latina aumentou em 13,8 milhões, de 45,9 milhões para 59,7 milhões, segundo o Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutricional 2021, da ONU.

Isso equivale 9,1% da população da América Latina e do Caribe - é a maior prevalência da fome dos últimos 15 anos, embora esteja abaixo da média mundial de 9,9%.

De acordo com a ONU, grande parte desse aumento tem a ver com o impacto da pandemia covid-19, que reduziu a renda de milhões de pessoas na região.

No entanto, não é o único motivo, já que os números da fome na região vêm crescendo há seis anos consecutivos.

No Brasil, estimativa feita em novembro de 2020 no Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar, da Rede Penssan, aponta que 19 milhões de pessoas passavam fome, o que também representa um retrocesso de 15 anos.

2) 267 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar

A América Latina registrou o maior aumento do mundo no número de pessoas sem acesso adequado e constante a alimentos, atingindo 267 milhões de habitantes em situação de insegurança alimentar moderada ou grave em 2020 - 60 milhões a mais que no ano anterior.

Quatro em cada 10 pessoas da região não se alimentam adequadamente todos os dias, e quase uma em cada 10 vive na condição de fome. Novamente, trata-se de um retrocesso de 15 anos no combate à fome, explica Berdegué.

O relatório da ONU destaca que a insegurança alimentar afeta mais as mulheres do que os homens: em 2020, quase 42% das mulheres tinham insegurança alimentar, em comparação com 32% dos homens.

3) Metade da população da Guatemala não tem acesso adequado a comida

Os países do Triângulo Norte da América Central - Guatemala, Honduras e El Salvador - experimentaram os maiores aumentos na insegurança alimentar moderada ou grave, de acordo com o relatório.

Na Guatemala, o índice é de 49,7%. El Salvador e Honduras seguem de perto, com 47,1% e 45,6%, respectivamente.

Além da pobreza acumulada em décadas, que foi agravada ainda mais pela pandemia covid-19, em 2020 esses países sofreram a passagem dos furacões Eta e Iota, que deixaram cerca de 200 mortos, dezenas de desaparecidos e milhares de desabrigados. Os furacões também destruíram casas, infraestrutura e plantações.

A fome e a violência levaram muitas pessoas da América Central a tentarem migrar para os Estados Unidos nas chamadas caravanas de migrantes.

Na América do Sul, os maiores aumentos foram registrados pela Argentina - onde 35,8% da população sofre de insegurança alimentar - e pelo Equador, onde a porcentagem é 32,7%.

Em 2021, a Argentina registra uma taxa de inflação de 52,1% com relação ao ano anterior, uma das mais altas dos últimos 30 anos e a mais alta da América Latina depois da Venezuela.

Obesidade infantil e sobrepeso

Enquanto isso, o relatório também alerta para o crescente problema de obesidade na região, resultado de uma alimentação de má qualidade, muitas vezes baseada em produtos ultraprocessados que não contêm nutrientes, mas são ricos em sódio, açúcares e gorduras. O problema afeta um em cada quatro adultos, um total de 106 milhões de pessoas.

O texto destaca ainda o problema do sobrepeso infantil, que afetou 7,5% das crianças menores de cinco anos na região, dois pontos percentuais acima da média mundial. Foram cerca 3,9 milhões de crianças afetadas pelo problema em 2020.

De acordo com a Unicef, a entidade da ONU para proteção à infância, a pandemia agravou uma crise de desnutrição pré-existente na região e as famílias agora têm mais dificuldade em colocar alimentos saudáveis ??na mesa, deixando muitas crianças com fome e outras com excesso de peso.

"Para que cresçam saudáveis, devemos garantir que todas as famílias tenham acesso a alimentos nutritivos e acessíveis", disse Jean Gough, diretor regional da Unicef.


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