EUA

Quem é Vishal Garg, CEO que demitiu 900 empregados em reunião por Zoom

A iniciativa gerou polêmica e questionamentos entre aqueles que consideram que a empresa utilizou um método "antiético", "duro" e "frio" para rescindir o contrato de seus funcionários, sobretudo às vésperas do Natal


O CEO de uma empresa americana foi criticado depois de demitir cerca de 900 de seus funcionários em uma única reunião via Zoom.

"Se você está nesta teleconferência, você faz parte do grupo azarado que está sendo demitido", afirmou Vishal Garg, CEO da empresa Better.com, durante a reunião, que posteriormente viralizou nas redes sociais.

A iniciativa gerou polêmica e questionamentos entre aqueles que consideram que a empresa utilizou um método "antiético", "duro" e "frio" para rescindir o contrato de seus funcionários, sobretudo às vésperas do Natal.

"Da última vez que fiz [isso], chorei", disse Garg à equipe durante a chamada de vídeo.

O número de funcionários demitidos representa 15% da folha de pagamento da empresa.

O executivo explicou que por trás da decisão estão "o desempenho e a produtividade da equipe", além das "mudanças no mercado".

Ele não mencionou, no entanto, a injeção de capital de US$ 750 milhões (R$ 4,2 bilhões) que a Better.com recebeu de investidores na semana passada.


Um gestor polêmico

Nascido na Índia, Vishal Garg, de 43 anos, se mudou para Nova York com a família quando tinha sete anos.

Atualmente, é o CEO da Better.com, empresa americana do ramo de hipotecas que visa usar a tecnologia para tornar o processo de compra de imóvel "mais rápido e eficiente".

Fundada por Garg em 2015, a companhia é respaldada pelo conglomerado japonês Softbank e está avaliada hoje em cerca de US$ 6 bilhões (R$ 34 bilhões).

O estilo de gestão de Garg já havia sido criticado anteriormente, sobretudo após um e-mail que enviou à equipe e foi obtido pela revista Forbes no ano passado.

No e-mail, Garg escreveu: "Vocês são MUITO LENTOS. São um bando de GOLFINHOS ESTÚPIDOS... APENAS PAREM. PAREM. PAREM AGORA MESMO. VOCÊS ESTÃO ME ENVERGONHANDO."

Após a notícia da demissão em massa, a revista Fortune confirmou que Garg era o autor de uma postagem anônima em um blog em que acusava funcionários que demitiu de "roubar" colegas e clientes por serem improdutivos.

No texto, o executivo também afirmava que eles trabalhavam apenas duas horas por dia, enquanto alegavam trabalhar oito horas ou mais.

Mas as polêmicas envolvendo Garg vão além da conduta controversa com seus funcionários. Ele também é alvo de denúncias de fraude e má gestão financeira.

De acordo com a revista Forbes, processos judiciais em andamento acusam Garg ou entidades que ele controla de atividade imprópria e até fraudulenta em dois empreendimentos anteriores e de apropriação indébita de "dezenas de milhões de dólares".

De acordo com a reportagem, um dos processos foi aberto por seu ex-sócio e amigo de faculdade, Raza Khan, que o acusa de ter transferido indevidamente US$ 3 milhões (R$ 17 milhões) de uma empresa de software que ambos abriram juntos para sua conta bancária pessoal e, em seguida, ter usado a tecnologia supostamente roubada para ajudar a construir a Better.com.

Ainda segundo a Forbes, o executivo nega as acusações e está contra-atacando com um processo, em uma batalha judicial que se arrasta por quase uma década.

A disputa é tão acirrada que Garg teria ameaçado em um dos depoimentos "grampear (o ex-amigo) contra a p*** de uma parede e queimá-lo vivo." Mais tarde, ele teria, no entanto, se desculpado pela declaração.

"Não podemos comentar sobre processos em andamento, mas estamos seguros de que essas acusações são infundadas", teria dito um porta-voz da Better.com, segundo a Forbes.


O anúncio de demissão em massa

"Olá a todos, obrigado pela presença. Não venho a vocês com boas notícias. O mercado mudou, como vocês sabem, e temos que seguir em frente para sobreviver para que possamos continuar a prosperar e cumprir nossa missão.

"Não é uma notícia que vocês vão querer ouvir, mas no fim das contas a decisão foi minha, e eu queria que vocês ouvissem de mim. Foi uma decisão muito, muito desafiadora de tomar. É a segunda vez na minha carreira que estou fazendo isso, e não quero fazer isso. A última vez que fiz, eu chorei. Desta vez, espero ser mais forte. Mas estamos demitindo cerca de 15% da empresa por [uma série de] motivos: o mercado, eficiência, desempenho e produtividade."

"Se você está nesta teleconferência, você faz parte do grupo azarado que está sendo demitido. Seu contrato aqui foi rescindido. Com efeito imediato."


'Eu falhei'

A Business Insider informou que, após demitir os 900 funcionários, Garg realizou uma reunião subsequente com os empregados restantes.

O executivo teria dito à equipe que a Better.com recrutou um grande número de funcionários durante a pandemia, mas que muitas contratações se revelaram um equívoco.

"Hoje, reconhecemos que contratamos em excesso e contratamos pessoas erradas e, ao fazer isso, fracassamos."

"Eu falhei. Não fui disciplinado nos últimos 18 meses."

O diretor financeiro da Better.com, Kevin Ryan, disse que "ter que conduzir demissões é desolador, especialmente nesta época do ano".

Mas acrescentou que ter "um balanço patrimonial forte e uma força de trabalho reduzida e concentrada" era necessário para fazer frente ao "mercado imobiliário em evolução radical".

'Empatia importa'

Ann Francke, diretora-executiva do Chartered Management Institute do Reino Unido, criticou a forma como os funcionários foram demitidos.

"Gestores ruins vão demitir pessoas de forma ruim, seja virtualmente ou pessoalmente", disse ela ao programa Today da BBC.

"Mas a maneira insensível como esta (demissão) foi conduzida foi potencializada pelo fato de que foi feita neste tipo de estilo virtual e bastante insensível."

"O que sabemos na pandemia é que a empatia importa."

Para Francke, a maneira como Garg demitiu sua equipe pode ter um efeito nos negócios futuros da Better.com.

"Este é um negócio voltado para o cliente, eles estão tentando oferecer financiamento imobiliário às pessoas. Tenho certeza de que muitos clientes ou clientes em potencial estão pensando: 'Caramba, se eles tratam seus funcionários dessa maneira, me pergunto como eles tratam seus clientes'."

'Há maneiras decentes'

Gemma Dale, professora de direito do trabalho e estudos de negócios na Liverpool John Moores University, no Reino Unido, também acredita que essa "não era a maneira de liderar uma organização".

Uma demissão em massa como esta não seria legal no Reino Unido, segundo ela.

"Só porque você pode fazer isso nos EUA, não significa que você deveria", acrescentou. "Há maneiras de fazer essas coisas que, mesmo em condições difíceis, são empáticas e decentes."

Na opinião dela, isso pode prejudicar a empresa e também seus funcionários, já que "os funcionários existentes vão ver como a empresa trata as pessoas como um sinal de como as tratará no futuro".

"Há canais adequados para lidar com funcionários que não atendem aos padrões exigidos ou ao volume de trabalho e, embora os empregadores tenham o direito de tomar as medidas adequadas, existe uma maneira correta de fazer essas coisas tanto moralmente como legalmente", avalia.


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