Sistema falho

Foto de Michael B. Jordan aparece entre suspeitos de chacina

Especialista aponta como o sistema de reconhecimento fotográfico contribui para o racismo no Brasil

Izabella Caixeta - Estado de Minas
postado em 07/01/2022 16:08 / atualizado em 07/01/2022 16:09
Foto do ator americano Michael B. Jordan aparece entre fotos de suspeitos de chacina no Ceará -  (crédito: Reprodução)
Foto do ator americano Michael B. Jordan aparece entre fotos de suspeitos de chacina no Ceará - (crédito: Reprodução)

O método de reconhecimento facial, usado pela polícia brasileira em investigações e inquéritos para identificação de suspeitos, mais uma vez mostrou falhas ao indicar o ator Michael B. Jordan como suspeito da chacina de Sapiranga, no Ceará, ocorrida no dia 25 de dezembro de 2021, que deixou cinco vítimas. O ator é mundialmente conhecido por seus papéis em “Creed: Nascido para Lutar” (2015) e “Pantera Negra” (2018).

Segundo informações, divulgadas pelo Diário do Nordeste, nesta quinta-feira (6), o ator foi identificado como um dos suspeitos chacina de Sapiranga em uma das três fotos disponibilizadas no Termo de Reconhecimento Fotográfico da Polícia Civil do Ceará (PCCE), horas depois do ocorrido.

“Vale ressaltar ainda que o reconhecimento fotográfico é apenas uma das etapas que podem levar ao indiciamento de um acusado. Depoimentos de testemunhas e perícias técnicas nos locais de crime (coleta de impressões digitais, análise de câmeras de segurança, por exemplo) também constituem parte do processo de investigação”, declarou a Polícia Civil em nota.

Falhas no sistema

O sistema de reconhecimento de suspeitos por meio de imagens é amplamente usado pela polícia brasileira devido à robotização e à ampliação do sistema de câmeras pela cidade e do uso de tecnologia pelas corporações, entretanto, ainda apresenta falhas, que contribuem para a perpetuação do racismo.

“Essa tecnologia ainda não apresenta nenhuma eficiência no reconhecimento das pessoas, e essa ineficiência acaba fazendo com que haja essa injustiça com as pessoas com peles mais escuras, com as pessoas pretas, pelas suas características, suas análises fenotípicas”, aponta Gilberto Silva, advogado e presidente da Rede Ação e Reação Internacional (RARI) Minas Gerais.

Gilberto aponta que toda investigação e reconhecimento, feito por máquinas ou seres humanos necessita de outras formas de confirmação e de aprimoramento. “É mais que necessário que, para que não haja encarceramento de pessoas inocentes, que se tenha uma investigação mais completa, não somente por meio desses reconhecimentos, mas usando outros mecanismos investigatórios que a polícia tem”, afirma.

É recorrente que, em reconhecimentos por fotografias, imagens de pessoas negras sejam colocadas para serem apontadas como suspeitos, muito disso vem do racismo estrutural no Brasil. Os algoritmos que selecionam imagens, por exemplo, replicam padrões presentes nos meios digitais, em especial as redes sociais, que no contexto histórico brasileiro, relacionam as pessoas negras com o crime.

“Esse algoritmo racista vem culpabilizar essas pessoas através desse mecanismo existente. Até mesmo porque é um sistema configurado e feito por pessoas não negras e que, infelizmente, pelo curso da história traçam o perfil de pessoas criminosas como se pessoas pretas fossem responsáveis por todos os crimes e todas as questões de segurança pública”, declara Gilberto.

 

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