LUTO

Morre Andrew Jennings, jornalista que expôs corrupção na Fifa e no COI

A atuação do repórter culminou em uma investigação do FBI, denominada Fifagate, que rendeu a prisão do ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, e da CBF, José Maria Marín

Talita de Souza
postado em 11/01/2022 00:02
Andrew Jennings morreu, aos 78 anos, após uma batalha contra
Andrew Jennings morreu, aos 78 anos, após uma batalha contra "uma doença breve e repentina" - (crédito: AFP/File)

Considerado o repórter que revolucionou o jornalismo esportivo nos últimos 30 anos, o escocês Andrew Jennings morreu, no último sábado (8/1), aos 78 anos. Foi ele quem divulgou, pela primeira vez, um esquema de tráfico de interesse dentro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e na Fifa (Federação Internacional de Futebol), a partir dos anos 90. De acordo com a imprensa internacional, Jennings lutava contra “uma doença breve e repentina”.

O jornalista começou a carreira no final dos anos 60, no Sunday Times, mas ainda longe dos esportes. Anos depois, passou a atuar no jornalismo investigativo na BBC Radio Four, local em que criou o primeiro documentário sobre corrupção, direcionado à atuação da polícia de Londres nas ruas da cidade. Ao apresentar o material para a BBC, a emissora se recusou a publicá-lo, o que levou Jennings a publicar o primeiro livro, em 1986, e fazer história — e inimigos — entre os militares.

Ele seguiu a revelar outros esquemas de corrupção até se encontrar no mundo dos esportes. Em 1992, iniciou a guerra contra o COI ao publicar o livro Os Senhores dos Anéis: Poder, dinheiro e drogas nas Olimpíadas Modernas, onde revelou esquemas de desvio de dinheiro dos jogos com patrocinadores. Quatro anos depois ele fez um novo exemplar com novas denúncias.

Já em 2006, o alvo de Jennings foi a Fifa. O primeiro livro sobre a entidade, o Jogo sujo — O mundo secreto da FIFA: subornos, manipulação de votos e escândalos de ingressos trouxe, principalmente, histórias que revelavam a conduta imprópria do presidente da Federação entre 1998 e 2015, o suíço Joseph Blatter. A obra causou tanta repercussão que fez com que Joseph tornasse Jennings o primeiro e único repórter a ser banido dos eventos oficiais da entidade. Depois, em 2014 e 2015, ele publicou mais dois livros sobre a Federação.

Em 2015, o FBI abriu uma investigação, que ficou conhecida como Fifagate, para apurar as denúncias de desvio de dinheiro na Fifa. Jennings se tornou um consultor para os agentes e a operação culminou na prisão de diversos dirigentes esportivos.

Blatter foi afastado da presidência da Fifa e, depois, exonerado completamente. A pena do homem pelos crimes de fraude vai até janeiro de 2028. Outro alvo da operação foi o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marín.

O escândalo propiciou a abertura da CPI do Futebol, criada e presidida pelo ex-jogador e senador Romário (PL-RJ), cuja investigação contou com o depoimento de Jennings, no segundo semestre de 2015.

Premiado e honrado

Nos mais de 60 anos de carreira, Jennings teve o reconhecimento do trabalho que prestou à sociedade. Em 2011, ele ganhou o prêmio Play The Game, em reconhecimento ao seu “trabalho incansável documentando e trazendo a má gestão e a corrupção nas principais organizações esportivas do mundo à vista do público”.

Em 1998, recebeu o Prêmio Gerlev pela “contribuição para a liberdade de expressão e democracia no esporte” e, em 1999, foi o dono da primeira edição do prêmio Integridade no Jornalismo, pela organização de atletas OATH.

Ele também se tornou membro honorário vitalício da American Swimming Coaches Association, pelo “seu trabalho investigativo sobre escândalos de doping e corrupção na natação olímpica”.

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