Honduras

Primeira mulher eleita presidente de Honduras toma posse

Rodrigo Craveiro
postado em 28/01/2022 06:00
 (crédito: Luis Acosta/AFP)
(crédito: Luis Acosta/AFP)

Diante de convidados ilustres, como a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e as ex-presidentes Dilma Rousseff (Brasil) e Cristina Fernández de Kirchner (Argentina), a administradora de empresas Xiomara Castro de Zelaya, 62 anos, tornou-se, ontem, a primeira mulher empossada para comandar Honduras até 2026. "Prometo ser fiel à República, cumprir e fazer cumprir a Constituição e suas leis", declarou Xiomara, depois de receber a faixa presidencial das mãos de Luis Redondo, líder do Congresso reconhecido pelo governo, e ao prestar juramento perante a juíza de paz Karla Lizeth Romero Dávila. 

"Neste dia histórico, informarei a Nação (...) sobre a tragédia social e econômica que Honduras enfrenta e sobre a minha proposta de refundação do Estado socialista e democrático", acrescentou, durante a solenidade no Estádio Nacional de Tegucigalpa. 

Esposa do ex-presidente Manuel Zelaya Rosales (2006-2009), Xiomara alertou que a miséria aumentou para 74%, convertendo Honduras no país mais pobre da América Latina. "Temos o dever de restaurar o sistema econômico sobre a base da eficiência e da justiça social", defendeu. Ela também enviou uma mensagem às hondurenhas. "Não haverá mais violência contra as mulheres. Empregarei todas as minhas forças para que nossas meninas possam se desenvolver plenamente. Mulheres hondurenhas, não fracassarei com vocês. Defenderei os seus direitos, contem comigo", disse. 

Economista, empresário, ex-candidato à Presidência de Honduras e ex-vice-presidente do Congresso Nacional, Olban F. Valladares Ordóñez admitiu que a posse de Xiomara empresta grande esperança ao povo. "Temos atravessado tempos de angústia. Além da pandemia da covid-19, tivemos dois furacões muito intensos, os quais causaram danos à espinha dorsal da nossa economia, a produção agrícola", comentou. O governo começa imerso em turbulência política. Uma disputa entre membros do Partido Libertad y Refundación, de Xiomara, levou a uma ruptura por diferenças mais pessoais do que de corte ideológico ou programático. "Isso estagnou a imagem de Honduras no exterior. Estamos sedentos de democracia e de liberdade", afirmou Olban.

Xiomara terá que lidar com uma Assembleia Nacional fragmentada, após a nomeação de duas mesas diretoras — uma delas respaldada pela Corte Suprema de Justiça e outra por lideranças do próprio partido governista. Segundo Olban, nenhuma das duas mesas obteve a maioria simples prevista pela Constituição (65 de um total de 128 deputados). "Por isso, os procedimentos legislativos carecem de validade e de confiança. O povo hondurenho está confiante e tem esperanças de que Xiomara nos conduzirá pelo caminho da democracia plena e da reconstrução do país, com a recuperação da infraestrutura, a geração de empregos e o aporte de investimentos externos", comentou.

Se Xiomara quiser ter uma gestão satisfatória, Olban explicou que ela precisará enfrentar desafios muito sérios. "O termo mágico para seu governo será 'geração de confiança'. A metade dos eleitores não apoiou Xiomara com o voto, mas, de alguma forma, deposita algum grau de esperança de que o governo ajudará a apagar os oitos anos que tivemos de corrupção extrema."

O especialista avalia que o Partido Libertad y Refundación é um leque de posições não tanto ideológicas. "Um desafio será a recuperação integral de Honduras. Em 2020, nossa economia sofreu uma queda de entre 9 e 10 pontos percentuais. No ano passado, crescemos entre 5 e 6 pontos percentuais. Isso não é suficiente para a recuperação econômica", advertiu. Olban também cita a crise migratória, no norte do país, como um ponto urgente na agenda de Xiomara. "É preciso criar oportunidades de emprego e fortalecer a segurança pública. Precisamos que o governo dela transite pela senda democrática, com respeito aos direitos humanos e metas claras e bem definidas."

Crise

Em entrevista ao Correio, em 1º de dezembro, Xiomara Castro falou sobre os desafios que a aguardavam. "Caberá a mim administrar um país em crise. Com uma dívida enorme e, especialmente, com uma dívida social. (...) Implementaram um modelo neoliberal, privatizaram tudo", afirmou. Ela explicou que a primeira ação efetiva será a construção de um governo de reconciliação. "Será um governo onde todos os setores sejam parte do processo de refundação dessa nossa nova pátria." Ainda segundo Xiomara, sua gestão será marcada pela transparência, pela austeridade e pelo combate à corrupção. 

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 (crédito: Arquivo pessoal )
crédito: Arquivo pessoal

"Hoje (ontem), testemunhamos a transição de um governo nacionalista, liderado pelo Partido Nacional, a um governo dirigido pela primeira vez por uma mulher. Isso ocorreu oito anos depois, contrariando a Constituição da República, que proíbe a reeleição. A posse de Xiomara Castro é um evento que satisfaz o movimento de reivindicação dos direitos das mulheres hondurenhas. A luta delas vem desde 25 de janeiro de 1954, quando conquistaram o direito ao voto. Por isso, vivemos uma grande esperança."

Olban F. Valladares Ordóñez, economista, empresário, ex-candidato à Presidência de Honduras e ex-vice-presidente do Congresso Nacional

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