UCRÂNIA

Crise na Ucrânia: EUA vão enviar tropas para o Leste da Europa

Num gesto considerado simbólico, Joe Biden, determina o reforço de 3 mil militares ao continente, dias após colocar 8,5 mil em prontidão. Moscou repudia o anúncio e afirma que iniciativa comprime o canal de diálogo

Correio Braziliense
postado em 03/02/2022 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Em meio à escalada de tensão com a Rússia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, determinou, ontem, o reforço de sua presença militar no Leste da Europa. No total, serão enviados 3 mil militares norte-americanos ao continente para, segundo o Pentágono, defender os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) "contra qualquer agressão". Considerada simbólica, a medida, anunciada em um momento em que os ocidentais intensificam as advertências a Moscou sobre uma eventual invasão à Ucrânia, foi criticada pelo governo russo.

Do efetivo de 3 mil militares, um terço será transferido da Alemanha para a Romênia. Dois mil vão viajar dos Estados Unidos ao Leste Europeu, principalmente para a Polônia. As tropas se somam aos 8,5 mil militares em prontidão, desde o fim de janeiro, mobilizados como parte da Força de Resposta Rápida da Otan caso seja necessário. Atualmente, aproximadamente 64 mil soldados americanos estão em países da Otan na Europa.

"Essas mobilizações são uma mensagem inequívoca que enviamos ao mundo de que estamos prontos para tranquilizar nossos aliados da Otan e decididos a defendê-los contra qualquer agressão", disse o porta-voz do Departamento da Defesa dos Estados Unidos, John Kirby. Ele enfatizou que a iniciativa visa reforçar o "flanco oriental" da Aliança Atlântica. "Essas forças não vão combater na Ucrânia", disse Kirby, destacando que se trata de uma mobilização temporária.

"Passo destrutivo"

Moscou repudiou a decisão da Casa Branca. O vice-chanceler russo, Alexander Grushko, denunciou o reforço militar americano como um "passo destrutivo" da busca de soluções diplomáticas para as tensões na região. "(É uma decisão) injustificada, que aumentará a tensão e reduzirá o espaço para as decisões políticas", afirmou Grushko, citado pela agência de notícias russa Interfax.

O Pentágono, por sua vez, insistiu que o canal da negociação não está fechado. "Não acreditamos que o conflito seja inevitável", destacou John Kirby, reiterando que a diplomacia americana tinha oferecido à Rússia "um caminho para a distensão".

A Rússia é acusada pelos ocidentais de planejar uma invasão da Ucrânia, sua vizinha pró-Ocidente, em cujas fronteiras concentrou cerca de 100 mil militares há semanas. Para pressionar o presidente russo, Vladimir Putin, americanos e europeus ameaçam Moscou com medidas de restrições econômicas "sem precedentes" e apoio militar a Kiev.

O Kremlin nega planejar uma invasão e afirma que só quer garantir sua segurança. Assinala, contudo, que uma desescalada da crise só é possível se for posto um fim à política de ampliação da Otan e com a retirada de suas capacidades militares do Leste Europeu.

China

Enquanto os esforços diplomáticos ocorrem em paralelo para tentar superar a crise, Moscou reivindicou, ontem, o apoio da China às suas exigências sobre a questão da segurança frente ao Ocidente antes de um encontro entre Putin e o presidente Xi Jinping, previsto para amanhã, por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim.

"Preparou-se uma declaração comum sobre a entrada das relações internacionais em uma nova era", disse Yuri Ushakov, conselheiro diplomático do líder russo. Segundo ele, o governo chinês apoia as exigências de Moscou "na questão da segurança" — uma lista dirigida aos EUA e à Otan para aliviar as tensões sobre a Ucrânia. No fim do mês passado, Pequim pediu que as demandas de Putin fossem levadas a sério.

Na tarde de ontem, o presidente russo se queixou ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de que a Otan não demonstrou nenhuma vontade de levar em conta as garantias de segurança exigidas por Moscou. "Observamos a falta de vontade da Otan em responder adequadamente as preocupações bem fundamentadas da Rússia", disse Putin a Johnson em uma conversa por telefone, destacou o Kremlin em um comunicado. Um porta-voz de Downing Street, por sua vez, relatou que ambos concordaram com a necessidade de encontrar uma "solução pacífica".

Na véspera, Johnson se encontrou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que vem recebendo o apoio de vários dirigentes europeus ante a possível invasão russa. Ontem, foi a vez do chefe do governo holandês, Mark Rutte, visitar Kiev. Para hoje é aguardado o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cujo país fornece drones de combate à Ucrânia.

Após anos de relativa escassez, o exército ucraniano tem obtido nas últimas semanas armamentos do Ocidente, o que vem arrancando protestos de Moscou. "Essas armas são para a defesa, só estamos pensando na paz", assegurou Zelensky. Apesar disso, ele alertou o Kremlin que, em caso de ataque, os ucranianos não vão ceder territórios. "Não importa a que preço", frisou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Negociações reveladas

Documentos sigilosos obtidos pelo jornal espanhol El País mostram que Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ofereceram à Rússia medidas de fomento da confiança para interromper a crise da Ucrânia. No entanto, a aliança militar se negou a fechar as portas da aliança militar para Kiev, como reivindicado por Moscou. Fontes da Otan e do Kremlin não se manifestaram sobre a divulgação.

Imagens das correspondências enviadas em resposta às demandas de segurança que a Rússia apresentou em dezembro foram reproduzidas pelo jornal. De acordo com o El País, em sua carta, Washington propôs a Moscou a adoção de "compromissos recíprocos (...) para se abster de implementar sistemas ofensivos de mísseis lançados da terra e forças permanentes com missão de combate no território da Ucrânia".

Tanto os documentos dos EUA como os da Otan pedem à Rússia para restabelecer os laços diplomáticos com a aliança militar e renovar e renegociar os tratados de controle de mísseis nucleares com os americanos. Também solicitam que o governo de Vladimir Putin volte a se comprometer com o conselho Otan-Rússia, uma instância de contatos que "oferece diálogo e associação em vez de conflito e desconfiança".

No entanto, foi negada a exigência russa de garantias da Otan de que nunca seria admitida a adesão da Ucrânia. Moscou também pediu a retirada das forças instaladas em países que em algum momento foram aliados da União Soviética (como Polônia e Hungria).

Armas

Já a resposta dos Estados Unidos propõe que os rivais prometam não mobilizar meios militares ofensivos na Ucrânia, que Moscou inspecione infraestruturas que a preocupam na Europa e que os dois países acordem medidas de controle de armas. Os americanos também dizem estar dispostos a discutir a "indivisibilidade da segurança".

O Kremlin se baseia nesse contexto para exigir a retirada da Otan de sua vizinhança, argumentando que a proteção de uns não pode ser obtida às custas de outros, apesar do direito de cada Estado — e, portanto, da Ucrânia — de escolher suas alianças. Moscou prepara, no momento, sua resposta formal.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação