Cada vez mais descrentes de que há um recuo das tropas russas na fronteira com a Ucrânia, como anunciado pelo presidente Vladimir Putin, no início desta semana, os Estados Unidos e aliados sobem o tom contra Moscou, que se diz "obrigado a agir" com "medidas de caráter militar e técnico". Segundo o presidente americano, Joe Biden, os russos preparam uma "operação de bandeira falsa como pretexto" para um ataque a Kiev, que pode acontecer "nos próximos dias". "Não retiraram nenhuma de suas tropas. Mobilizaram mais tropas", acusou Biden, que disse não ter planos de ligar para o presidente russo. No último fim de semana, os dois conversaram por cerca de 1 hora em um momento em que havia uma forte investida diplomática para amenizar a crise. Ontem, porém, tiros e explosões na fronteira entre Rússia e Ucrânia sinalizavam uma escalada das tensões.
Também acirrando a pressão sobre Moscou, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, desafiou o Kremlin a anunciar "sem reservas, mal-entendidos ou desvios" de que não há intenção de invadir a Ucrânia. "Diga claramente. Diga claramente para o mundo. Mostre enviando suas tropas, seus tanques, seus aviões, de volta aos seus quartéis e hangares, e enviando seus diplomatas para a mesa de negociações", afirmou, ontem, durante um discurso não programado em uma reunião das Nações Unidas em Nova York para discutir os acordos de Minsk de 2015.
Segundo Washington, ao contrário do prometido, Moscou moveu 7 mil soldados para mais perto da fronteira. A Otan também relatou não ter evidências de operações de retiradas de tropas e alertou, em uma reunião da União Europeia (UE), que há agentes de inteligência russos operando na Ucrânia. "Estamos preocupados que a Rússia esteja tentando encenar um pretexto para justificar um ataque", disse o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg.
Na reunião convocada às pressas, em Bruxelas, os líderes europeus discutiram eventuais sanções à Rússia em caso de agressão à Ucrânia. Na saída do encontro, vários líderes destacaram que a UE está pronta para agir rapidamente.
"O importante é que, em caso de invasão, o Ocidente esteja preparado para responder de forma necessária e contundente para mostrar que outro país não pode ser invadido sem um custo elevado", disse a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen. O presidente de governo da Espanha, Pedro Sánchez, reforçou "a necessidade de continuar com a diplomacia", mas também de reafirmar o compromisso da UE "com a integridade territorial da Ucrânia e sua soberania nacional".
O Reino Unido, por sua vez, alertou que um reconhecimento formal por parte de Moscou das zonas separatistas pró-russas do leste da Ucrânia constituiria um "novo ataque à soberania e à integridade territorial" da antiga república soviética. O pedido foi feito pelo Parlamento russo no começo desta semana e depende da aprovação do presidente. Para a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, a aceitação significaria que Moscou preferiu "a via do confronto à do diálogo", considerando os possíveis desdobramentos.
Exercícios práticos
O presidente Vladimir Putin e altos funcionários de seu governo seguem afirmando que as tropas estão, nas áreas fronteiriças, realizando exercícios práticos e que as operações de recuo estão em andamento. O porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov, disse, ontem, que alguns soldados retornaram às suas bases em várias áreas distantes da fronteira, incluindo a Chechênia e o Daguestão, no norte do Cáucaso, e perto de Nizhny Novgorod, cerca de 300 quilômetros a leste de Moscou.
Putin tem deixado claro que o preço para remover qualquer ameaça seria a Ucrânia concordar em nunca se juntar à Otan, e a aliança ocidental se retirar de uma faixa do Leste Europeu, efetivamente dividindo o continente em esferas de influência ao estilo da Guerra Fria. Em uma resposta oficial enviada ao governo americano sobre uma solução para a crise, o Ministério das Relações Exteriores russo sinalizou que há pouco a discutir. "Se não há disposição por parte dos Estados Unidos de nos entender sobre as garantias jurídicas para nossa segurança (...), a Rússia será obrigada a agir, especialmente aplicando medidas de caráter militar e técnico", afirmou o órgão, sem especificar quais seriam. Os EUA confirmaram o recebimento da resposta, mas não comentaram sobre.
Também ontem, a Rússia anunciou a expulsão do número 2 da embaixada dos Estados Unidos em Moscou, o diplomata Bart Gorman. O Departamento de Estado americano confirmou o caso e disse que não houve explicações oficiais sobre a medida. Gorman é considerado um homem estratégico da diplomacia americana na região, e a expectativa é de que sua saída aumente o clima de tensão entre os dois países.
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