A invasão russa à Ucrânia preocupa ucranianos e descendentes que vivem no Brasil, que relatam momentos de temor com familiares que ainda estão no país do Leste Europeu. De acordo com a Representação Central Ucraniana-Brasileira (RCUB), atualmente, cerca de 600 mil ucranianos vivem no Brasil, o que representa a quarta maior comunidade ucraniana do mundo. Aproximadamente, 80% dessa população vive no Paraná.
Presidente da Sociedade Ucraniana do Brasil (Subras), Felipe Melnyk Oresten resume o sentimento da diáspora ucraniana: "mistura de tristeza e uma certa impotência". A consternação é acompanhada de revolta. Oresten classifica a investida contra a Ucrânia como um ataque cruel, que "agride toda a humanidade". Ele conta que tem diversos parentes e amigos em Kiev, capital ucraniana, e Lutsk.
No momento, a situação é considerada estável nas duas localidades, mas o clima entre os habitantes é de apreensão. "Muitas pessoas estão desesperadas e tentam deixar suas cidades. Outras estão indo aos supermercados para comprar alimentos e estocar. Muita gente também já começa a fazer malas e se preparar para buscar abrigos antibomba", descreve Oresten.
Um bombardeio de mensagens de condolências acordou a ucraniana Yulia Mysko, de 33 anos, ontem. "Sinto muito", diziam recados enviados por dezenas de amigos à artista plástica e capoeirista, que vive há 10 anos no Brasil, cinco deles em Belo Horizonte.
"Como estava acompanhando as notícias, logo entendi que a Rússia havia invadido a Ucrânia. Acordei chorando e fui direto ligar para os meus pais", conta Mysko, natural de Ternopil, no interior do país do leste europeu. A cidade fica a cerca de duas horas de Ivano-Frankivs'k, onde os russos lançaram um míssil nas primeiras horas desta madrugada, atingindo uma base aérea militar.
"Não cheguei a pensar que minha família tivesse sido atingida, mas fiquei muito apreensiva, pois não imaginei que a Rússia fosse atacar logo de cara as cidades do interior. Então, entrei em contato com meus pais para ver como estava o planejamento deles, se pretendiam deixar o país e se estavam seguros", relata a artista. Os familiares de Yulia a tranquilizaram. Segundo a artista, tanto em Ternopil, quanto na capital ucraniana Kiev, onde ela tem tios e primos, estão todos bem e, por ora, não pensam em deixar a Ucrânia.
Apreensão
A família do analista de sistemas Rodrigo Alves, de 31 anos, tem origens ucranianas e chegou ao Brasil na década de 1950. "O sobrenome da minha família é Samoyvlenko. Meus avós vieram para o Brasil em 1955. Eles eram bem jovens e vieram do oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polônia. Moraram alguns anos no Paraná, mas hoje moramos em São Paulo", explica.
Rodrigo cresceu ouvindo histórias sobre o país europeu e vendo o sofrimento de seus familiares com a situação do país. "Eles vieram para trabalhar aqui, mas meu avô sempre contava boas histórias da sua infância lá. E ele sempre sofreu muito em todos esses anos de tensão. Estamos nessa situação, mais uma vez, e agora é muito sério", relatou. "Meu avô ainda tem tios e primos que moram lá. Está todo mundo muito tenso. Inacreditável que isto esteja acontecendo, e é inacreditável que estão ignorando todos que estão lá", indagou Rodrigo.
Andreia Leticia Staxhyn, de 22 anos, é brasileira, mora em Irati (SC) e também é descendente de ucranianos. A influencer conta que ainda não caiu a ficha sobre tudo que vem acontecendo desde a madrugada de quarta-feira "Estou muito triste com esse acontecimento. Minha avó sempre contava para nós como foi a vida da minha bisavó e do meu bisavô no tempo em que eles vivenciaram outras guerras. Eles passaram fome, medo e perderam pessoas que amavam. Mas, graças a Deus, sobreviveram e conseguiram pegar um navio para o Brasil, onde recomeçaram a vida deles novamente", relata.
* Estagiários sob a supervisão
de Adson Boaventura
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Tensão entre ucranianos e descendentes no Brasil
Cecília Emiliana
Estado de Minas
BERNARDO LIMA*
GABRIELA BERNARDES*
A invasão russa à Ucrânia preocupa ucranianos e descendentes que vivem no Brasil, que relatam momentos de temor com familiares que ainda estão no país do Leste Europeu. De acordo com a Representação Central Ucraniana-Brasileira (RCUB), atualmente, cerca de 600 mil ucranianos vivem no Brasil, o que representa a quarta maior comunidade ucraniana do mundo. Aproximadamente 80% desta população vive no Paraná.
Presidente da Sociedade Ucraniana do Brasil (Subras), Felipe Melnyk Oresten resume o sentimento da diáspora ucraniana: "mistura de tristeza e uma certa impotência". A consternação é acompanhada de revolta. Oresten classifica a investida contra a Ucrânia como um ataque cruel, que "agride toda a humanidade". Ele conta que tem diversos parentes e amigos em Kiev, capital ucraniana, e Lutsk.
No momento, a situação é considerada estável nas duas localidades, mas o clima entre os habitantes é de apreensão. "Muitas pessoas estão desesperadas e tentam deixar suas cidades. Outras estão indo aos supermercados para comprar alimentos e estocar. Muita gente também já começa a fazer malas e se preparar para buscar abrigos antibomba", descreve Oresten.
Um bombardeio de mensagens de condolências acordou a ucraniana Yulia Mysko, de 33 anos, ontem. “Sinto muito”, diziam recados enviados por dezenas de amigos à artista plástica e capoeirista, que vive há 10 anos no Brasil, cinco deles em Belo Horizonte.
“Como estava acompanhando as notícias, logo entendi que a Rússia havia invadido a Ucrânia. Acordei chorando e fui direto ligar para os meus pais”, conta Mysko, natural de Ternopil, no interior do país do leste europeu. A cidade fica a cerca de duas horas de Ivano-Frankivs'k, onde os russos lançaram um míssil nas primeiras horas desta madrugada, atingindo uma base aérea militar.
“Não cheguei a pensar que minha família tivesse sido atingida, mas fiquei muito apreensiva, pois não imaginei que a Rússia fosse atacar logo de cara as cidades do interior. Então, entrei em contato com meus pais para ver como estava o planejamento deles, se pretendiam deixar o país e se estavam seguros”, relata a artista. Os familiares de Yulia a tranquilizaram. Segundo a artista, tanto em Ternopil, quanto na capital ucraniana Kiev, onde ela tem tios e primos, estão todos bem e, por ora, não pensam em deixar a Ucrânia.
Apreensão
A família do analista de sistemas Rodrigo Alves, de 31 anos, tem origens ucranianas e chegou ao Brasil na década de 1950. "O sobrenome da minha família é Samoyvlenko. Meus avós vieram para o Brasil em 1955. Eles eram bem jovens e vieram do oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polônia. Moraram alguns anos no Paraná, mas hoje moramos em São Paulo”, explica.
Rodrigo cresceu ouvindo histórias sobre o país europeu e vendo o sofrimento de seus familiares com a situação do país. “Eles vieram para trabalhar aqui, mas meu avô sempre contava boas histórias da sua infância lá. E ele sempre sofreu muito em todos esses anos de tensão. Estamos nessa situação, mais uma vez, e agora é muito sério”, relatou. “Meu avô ainda tem tios e primos que moram lá. Está todo mundo muito tenso. Inacreditável que isto esteja acontecendo, e é inacreditável que estão ignorando todos que estão lá”, indagou Rodrigo.
Andreia Leticia Staxhyn, de 22 anos, é brasileira, mora em Irati (SC) e também é descendente de ucranianos. A influencer conta que ainda não caiu a ficha sobre tudo que vem acontecendo desde a madrugada de quarta-feira “Estou muito triste com esse acontecimento. Minha avó sempre contava para nós como foi a vida da minha bisavó e do meu bisavô no tempo em que eles vivenciaram outras guerras na Ucrânia. Meu bisavô lutou na guerra de 1918 a 1919, contra a Polônia, e em 1945 ele participou de outra guerra. Eles passaram fome, medo e perderam pessoas que amavam. Mas, graças à Deus, sobreviveram e conseguiram pegar um navio para o Brasil, onde recomeçaram a vida deles novamente”, relata.
*Estagiários sob a supervisão de Adson Boaventura