Tensão entre ucranianos e descendentes no Brasil

Itamaraty informou que ainda não há "condições de segurança" nem logística para transportar, pelo menos, 180 brasileiros que se cadastraram na embaixada brasileira para serem retirados da Ucrânia

Cecília Emilian Estado de Minas BERNARDO LIMA* GABRIELA BERNARDES*
postado em 25/02/2022 00:01
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A invasão russa à Ucrânia preocupa ucranianos e descendentes que vivem no Brasil, que relatam momentos de temor com familiares que ainda estão no país do Leste Europeu. De acordo com a Representação Central Ucraniana-Brasileira (RCUB), atualmente, cerca de 600 mil ucranianos vivem no Brasil, o que representa a quarta maior comunidade ucraniana do mundo. Aproximadamente, 80% dessa população vive no Paraná.

Presidente da Sociedade Ucraniana do Brasil (Subras), Felipe Melnyk Oresten resume o sentimento da diáspora ucraniana: "mistura de tristeza e uma certa impotência". A consternação é acompanhada de revolta. Oresten classifica a investida contra a Ucrânia como um ataque cruel, que "agride toda a humanidade". Ele conta que tem diversos parentes e amigos em Kiev, capital ucraniana, e Lutsk.

No momento, a situação é considerada estável nas duas localidades, mas o clima entre os habitantes é de apreensão. "Muitas pessoas estão desesperadas e tentam deixar suas cidades. Outras estão indo aos supermercados para comprar alimentos e estocar. Muita gente também já começa a fazer malas e se preparar para buscar abrigos antibomba", descreve Oresten. 

Um bombardeio de mensagens de condolências acordou a ucraniana Yulia Mysko, de 33 anos, ontem. "Sinto muito", diziam recados enviados por dezenas de amigos à artista plástica e capoeirista, que vive há 10 anos no Brasil, cinco deles em Belo Horizonte. 

"Como estava acompanhando as notícias, logo entendi que a Rússia havia invadido a Ucrânia. Acordei chorando e fui direto ligar para os meus pais", conta Mysko, natural de Ternopil, no interior do país do leste europeu. A cidade fica a cerca de duas horas de Ivano-Frankivs'k, onde os russos lançaram um míssil nas primeiras horas desta madrugada, atingindo uma base aérea militar.

"Não cheguei a pensar que minha família tivesse sido atingida, mas fiquei muito apreensiva, pois não imaginei que a Rússia fosse atacar logo de cara as cidades do interior. Então, entrei em contato com meus pais para ver como estava o planejamento deles, se pretendiam deixar o país e se estavam seguros", relata a artista. Os familiares de Yulia a tranquilizaram. Segundo a artista, tanto em Ternopil, quanto na capital ucraniana Kiev, onde ela tem tios e primos, estão todos bem e, por ora, não pensam em deixar a Ucrânia.

Apreensão

A família do analista de sistemas Rodrigo Alves, de 31 anos, tem origens ucranianas e chegou ao Brasil na década de 1950. "O sobrenome da minha família é Samoyvlenko. Meus avós vieram para o Brasil em 1955. Eles eram bem jovens e vieram do oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polônia. Moraram alguns anos no Paraná, mas hoje moramos em São Paulo", explica.

Rodrigo cresceu ouvindo histórias sobre o país europeu e vendo o sofrimento de seus familiares com a situação do país. "Eles vieram para trabalhar aqui, mas meu avô sempre contava boas histórias da sua infância lá. E ele sempre sofreu muito em todos esses anos de tensão. Estamos nessa situação, mais uma vez, e agora é muito sério", relatou. "Meu avô ainda tem tios e primos que moram lá. Está todo mundo muito tenso. Inacreditável que isto esteja acontecendo, e é inacreditável que estão ignorando todos que estão lá", indagou Rodrigo.

Andreia Leticia Staxhyn, de 22 anos, é brasileira, mora em Irati (SC) e também é descendente de ucranianos. A influencer conta que ainda não caiu a ficha sobre tudo que vem acontecendo desde a madrugada de quarta-feira "Estou muito triste com esse acontecimento. Minha avó sempre contava para nós como foi a vida da minha bisavó e do meu bisavô no tempo em que eles vivenciaram outras guerras. Eles passaram fome, medo e perderam pessoas que amavam. Mas, graças a Deus, sobreviveram e conseguiram pegar um navio para o Brasil, onde recomeçaram a vida deles novamente", relata.

* Estagiários sob a supervisão
de Adson Boaventura

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Tensão entre ucranianos e descendentes no Brasil

 (crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press)
crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

Cecília Emiliana

Estado de Minas

BERNARDO LIMA*

GABRIELA BERNARDES*

 

A invasão russa à Ucrânia preocupa ucranianos e descendentes que vivem no Brasil, que relatam momentos de temor com familiares que ainda estão no país do Leste Europeu. De acordo com a Representação Central Ucraniana-Brasileira (RCUB), atualmente, cerca de 600 mil ucranianos vivem no Brasil, o que representa a quarta maior comunidade ucraniana do mundo. Aproximadamente 80% desta população vive no Paraná.

Presidente da Sociedade Ucraniana do Brasil (Subras), Felipe Melnyk Oresten resume o sentimento da diáspora ucraniana: "mistura de tristeza e uma certa impotência". A consternação é acompanhada de revolta. Oresten classifica a investida contra a Ucrânia como um ataque cruel, que "agride toda a humanidade". Ele conta que tem diversos parentes e amigos em Kiev, capital ucraniana, e Lutsk.

No momento, a situação é considerada estável nas duas localidades, mas o clima entre os habitantes é de apreensão. "Muitas pessoas estão desesperadas e tentam deixar suas cidades. Outras estão indo aos supermercados para comprar alimentos e estocar. Muita gente também já começa a fazer malas e se preparar para buscar abrigos antibomba", descreve Oresten. 

Um bombardeio de mensagens de condolências acordou a ucraniana Yulia Mysko, de 33 anos, ontem. “Sinto muito”, diziam recados enviados por dezenas de amigos à artista plástica e capoeirista, que vive há 10 anos no Brasil, cinco deles em Belo Horizonte. 

“Como estava acompanhando as notícias, logo entendi que a Rússia havia invadido a Ucrânia. Acordei chorando e fui direto ligar para os meus pais”, conta Mysko, natural de Ternopil, no interior do país do leste europeu. A cidade fica a cerca de duas horas de Ivano-Frankivs'k, onde os russos lançaram um míssil nas primeiras horas desta madrugada, atingindo uma base aérea militar.

“Não cheguei a pensar que minha família tivesse sido atingida, mas fiquei muito apreensiva, pois não imaginei que a Rússia fosse atacar logo de cara as cidades do interior. Então, entrei em contato com meus pais para ver como estava o planejamento deles, se pretendiam deixar o país e se estavam seguros”, relata a artista. Os familiares de Yulia a tranquilizaram. Segundo a artista, tanto em Ternopil, quanto na capital ucraniana Kiev, onde ela tem tios e primos, estão todos bem e, por ora, não pensam em deixar a Ucrânia.

Apreensão

A família do analista de sistemas Rodrigo Alves, de 31 anos, tem origens ucranianas e chegou ao Brasil na década de 1950. "O sobrenome da minha família é Samoyvlenko. Meus avós vieram para o Brasil em 1955. Eles eram bem jovens e vieram do oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polônia. Moraram alguns anos no Paraná, mas hoje moramos em São Paulo”, explica.

Rodrigo cresceu ouvindo histórias sobre o país europeu e vendo o sofrimento de seus familiares com a situação do país. “Eles vieram para trabalhar aqui, mas meu avô sempre contava boas histórias da sua infância lá. E ele sempre sofreu muito em todos esses anos de tensão. Estamos nessa situação, mais uma vez, e agora é muito sério”, relatou. “Meu avô ainda tem tios e primos que moram lá. Está todo mundo muito tenso. Inacreditável que isto esteja acontecendo, e é inacreditável que estão ignorando todos que estão lá”, indagou Rodrigo.

Andreia Leticia Staxhyn, de 22 anos, é brasileira, mora em Irati (SC) e também é descendente de ucranianos. A influencer conta que ainda não caiu a ficha sobre tudo que vem acontecendo desde a madrugada de quarta-feira “Estou muito triste com esse acontecimento. Minha avó sempre contava para nós como foi a vida da minha bisavó e do meu bisavô no tempo em que eles vivenciaram outras guerras na Ucrânia. Meu bisavô lutou na guerra de 1918 a 1919, contra a Polônia, e em 1945 ele participou de outra guerra. Eles passaram fome, medo e perderam pessoas que amavam. Mas, graças à Deus, sobreviveram e conseguiram pegar um navio para o Brasil, onde recomeçaram a vida deles novamente”, relata.

*Estagiários sob a supervisão de Adson Boaventura

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