Numa postura descolada daquela que vem adotando o presidente Jair Bolsonaro, o Brasil condenou a invasão da Rússia à Ucrânia, durante a reunião de ontem do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A resolução de condenação recebeu 11 votos a favor e três abstenções. A moção, porém, não foi aprovada, pois o voto de qualidade da Rússia — que é membro permanente do colegiado, e também ocupa atualmente sua presidência — foi suficiente para rejeitá-la.
A posição brasileira era muito aguardada, já que o Ministério das Relações Exteriores vem adotando uma postura alinhada com Bolsonaro — que, por ter estado há poucos dias com Putin, tem se esquivado de criticar o presidente russo. Porém, no voto lido pelo embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, o Brasil se colocou contra a invasão à Ucrânia e a guerra entre os dois países.
"A integridade territorial e a soberania [dos países] não são palavras vazias. É nosso dever dar significado concreto a elas. Precisamos criar condições de diálogo enquanto garantimos que a invasão no território soberano seja inaceitável", condenou.
Costa Filho alertou que o mundo vive um momento "sem precedentes" e uma "violação à Carta da ONU". Por isso, segundo o embaixador, o Brasil está "profundamente preocupado" com a operação militar russa e alertou: "uma linha foi cruzada".
Ainda que não tenha usado palavras duras como os representantes dos Estados Unidos e do Reino Unido, para o representante brasileiro é importante retomar as negociações para pôr fim ao conflito. "Precisamos buscar caminhos para a paz na Ucrânia, não recuar nas negociações diplomáticas. As vidas de milhões estão sob ameaça. No fim, a paz precisa prevalecer", defendeu.
A resolução pedia que a Rússia "retirasse imediata, completa e incondicionalmente" as forças militares da Ucrânia e "revertesse" a decisão de reconhecer a independência das províncias de Donetsk e Luhansk, uma vez que "viola a integridade territorial". Votaram pela condenação ao ataque russo Albânia, Brasil, EUA, França, Gabão, Gana, Irlanda, México, Noruega, Quênia e Reino Unido. China, Emirados Árabes Unidos e Índia se abstiveram e Rússia foi contra.
Pelo Twitter, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu o voto brasileiro de condenação à Rússia
Pressão de Washington
Mais cedo, antes da votação no Conselho de Segurança, o ministro de Relações Exteriores, Carlos França, conversou por telefone com o secretário de estado norte-americano, Antony Blinken, em mais um movimento de pressão de Washington para que o Brasil assuma uma postura mais dura contra Moscou. O chanceler brasileiro escutou que os EUA consideraram insuficiente a nota emitida pelo Itamaraty, na última quinta-feira, na qual afirmava que "o Brasil não pretende contribuir para rufar os tambores da guerra".
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