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Chernobyl: usina nuclear apreendida pela Rússia na Ucrânia tem pico de radiação

Chernobyl contém várias instalações de contenção de resíduos nucleares para evitar que materiais radioativos se espalhem

BBC
Victoria Gill - Repórter de Ciências da BBC News
postado em 26/02/2022 09:22

Um pico de radiação foi registrado perto da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, que foi apreendida pelas forças russas, segundo dados de monitoramento.

Tropas russas invasoras assumiram o controle da usina — o local do pior desastre nuclear do mundo em 1986 — na quinta-feira (24/2), segundo o governo da Ucrânia. Os níveis de radiação aumentaram cerca de 20 vezes na quinta-feira, segundo estações de monitoramento.

Mas especialistas dizem que outro grande desastre nuclear é "extremamente improvável".

O aumento foi causado por veículos militares pesados que agitaram o solo contaminado na zona de exclusão de 4 milquilômetros quadrados ao redor da usina abandonada, informou a Inspetoria Estadual de Regulamentação Nuclear da Ucrânia.

O maior pico foi registrado perto do reator danificado. Os níveis de radiação são monitorados constantemente.

Perto do reator, uma pessoa normalmente receberia uma dose de radiação de cerca de três unidades (chamadas de microsieverts) a cada hora. Mas na quinta-feira, esse número saltou para 65.

A professora Claire Corkhill, especialista em materiais nucleares da Universidade de Sheffield, disse à BBC que o pico foi "bastante localizado" e houve aumentos ao longo das principais rotas dentro e fora da zona ao redor do reator.

"O aumento do movimento de pessoas e veículos dentro e ao redor da zona de Chernobyl levantou poeira radioativa que está no chão", disse Corkhill.

"Desde que não haja mais movimento, [a radiação] deve diminuir novamente nos próximos dias."

Mas qualquer atividade militar na zona é preocupante.

Tropas russas capturaram a usina que fica a cerca de 130 quilômetros ao norte da capital, Kiev, após batalha com as forças ucranianas, segundo autoridades da Ucrânia.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que os oficiais ucranianos lutaram para defendê-la, "para que a tragédia de 1986 não se repita". Ele disse que o ataque russo a Chernobyl é uma "declaração de guerra contra toda a Europa".

Autoridades russas não comentaram sobre o assunto.

Chernobyl contém várias instalações de contenção de resíduos nucleares — incluindo o chamado "novo confinamento seguro" — uma enorme cúpula protetora que cobre o reator número quatro, cuja explosão causou o desastre de 1986.

"Esses edifícios são projetados para contenção, para manter materiais radioativos dentro deles, mas não são necessariamente blindados: eles não são projetados para operar em uma zona de guerra", disse Corkhill.

A radioatividade na usina decaiu significativamente desde 1986. "E o que liberou a radioatividade foi um grande incêndio", disse Corkhill.

Mas ela deixa claro que uma repetição desse desastre é "extremamente improvável". Muito mais preocupante é se houver qualquer combate próximo a outros reatores nucleares em funcionamento da Ucrânia.

O especialista em Política Nuclear, professor James Acton, escreveu na quinta-feira: "Chernobyl está dentro de um grande espaço desabitado. Os outros reatores da Ucrânia não estão isolados como Chernobyl.

"As usinas nucleares não são projetadas para zonas de guerra".

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse que a Ucrânia informou na sexta-feira que os reatores de energia nuclear do país continuam operando "com segurança".


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